Essa semana a Polacca Pazza tah com a macaca. O surto começou na terça-feira. 8 am, aula de linguistica italiana, éramos em 12 mais ou menos. Nessa aula a gente conversa sobre um tema predeterminado, que nesse dia era religiao. Entra a professora, Cancellotti; a Pazza nao tinha chegado, ela comenta que a encontrou na rua outro dia e foi muito simpatica. Depois aproveita a sua ausencia pra falar que nao gosta muito desse papa, que os poloneses tem uma religiosidade estranha, e outras idiotices que ela, ignorante como uma americana, adora comentar. Aih entra a Pazza.
Eu estava sentada com os pés em cima do banco; as duas japonesas idem, com o agravante de estar sem sapato, como sempre. Papo vai, papo vem, a um certo ponto a Pazza levanta a mao e começa a ladainha:
Quero fazer uma pergunta (ela sempre diz isso antes, nao consegue ir diretamente à pergunta): no ano passado tinha a matéria Historia da Igreja, por que nao tem mais? Essa brasileira tem que entender que nao estah na praia, mas na sala de aula da universidade para estrangeiros de Perugia (esse final também faz parte da ladainha usual), a senhorita tem que mudar de posiçao.
Eu, contendo minha vontade de tacar minha garrafa de agua mineral na cabeça dela, fiquei quieta. Depois, antes de sair, ela faz o seguinte comentario, iniciando a série Nada a Ver da semana:
– Eu sou de origem polonesa, somos catolicos na Polonia, o papa Joao Paulo II também é polones. Agora bateu o sinal e eu devo me retirar.
***
Ontem, aula de Historia Medieval. O professor falava de uns soldados suiços que fizeram guerra aqui na Italia, e os italianos, obviamente nao sabendo pronunciar o nome desse tipo de soldado (eram uns que atacavam com lanças, um nome realmente longo e cheio de sons guturais alemaes), o pronunciavam ao modo italiano. Mais ou menos como aconteceu com o for all que no Brasil virou forroh, e como shoe shine que aqui virou sciuscià (se pronuncia shushah). Pois bem, eu fiz esse comentario do sciuscià, a Polacca levanta a mao.
– Sushi é uma comida japonesa, eu ouvi essa palavra dentro da sala de aula da universidade para estrangeiros de Perugia.
…
***
Logo depois, aula de fonética. Falava-se das origens do italiano, do latim classico e do latim vulgar. Essa velha tem uns conceitos morais muito estranhos, segundo ela nao se pode falar de religiao, de sexo, de nada dessas coisas dentro da sala de aula da universidade pra estrangeiros de Perugia. E a simples palavra ‘vulgar’, embora nesse caso signifique simplesmente o latim usado pelo povao e nao tenha bissolutamente nada a ver com vulgaridade no sentido sexual da palavra, a deixou meio estressada. Aih ela levanta a mao e diz que nao entendeu – mas ao mesmo tempo nao deixa a professora explicar. No final tava todo mundo rindo, até a professora. Mas o mais lindo foi a pergunta final:
– Eu gostaria de saber como se classifica o latino usado em Medicina.
eu: Se classifica como ‘latino usado em Medicina’.
Risos.
A professora tenta explicar, a pazza nao a deixa. No final se acaba sempre deixando pra lah.
***
Outra aula com a Cancellotti, dessa vez de redaçao. Como eu, como sempre, terminei antes de todo mundo e ela nao entendia a minha letra, sentei do lado dela pra explicar e ela ir corrigindo. A louca, que nao sei o que faz ali porque nao escreve nada nunca, começa a resmungar:
– …essa brasileira… estah errada… (eu estou SEMPRE errada, segundo ela) e mais outras coisas ininteligiveis. A um certo ponto a professora vira pra mim:
– Vai embora antes que ela te encha de porrada!
***
Estou lendo Pura Vita, de Andrea de Carlo, que o Silvio me emprestou. Uma gracinha! Se jah tiver sido traduzido, recomendo.
E ontem finalmente comi os danados dos strangozzi al tartufo, a massa tipica aqui da regiao com o molho tipico da regiao, que eu vendo quilos na loja mas nunca tinha comido. Nao tava lah essas coisas nao.