Epopéia Siciliana Storia e Geografia

Epopéia Siciliana

Storia e Geografia

Pois é, tah aih a Sicilia. Da historia conheço pouco, e nao tive saco de catar na internet. Mas como voces sabem, a bichinha é uma ilha bem grandinha, e estah soh a 4 km (acho) da terra firme. Até hoje ninguém se dignou a fazer uma ponte entre Messina, na Sicilia, e Reggio Calabria, na Calabria (obvio) porque o lobby das empresas das barcas é forte à beça. Mas enfim.

Todo mundo jah invadiu a Sicilia. Alias, todo mundo jah invadiu a Italia, coitada, assim toda dando pro mar fica mesmo dificil defender. Os gregos, os arabes, os normanos, e hoje os marroquinos, todo mundo jah passou por ali. Soh que nos saimos de Assis sem estudar NADA da Sicilia, e isso é a coisa mais idiota que um turista pode inventar de fazer. Resultado: eu, que estava mais interessada na arquitetura arabe do que em qualquer outra coisa, nao vi chongas de milongas.

O inverno deles é tao ridiculo quanto o nosso. Se der sorte (nao foi o nosso caso) dah até pra ir à praia pegar um sol, em pleno dezembro. Nos pegamos um friinho bem xexelento, gostoso, que se fosse assim aqui na Umbria eu tava feliz, em vez de ficar observando a decadencia gradual das minhas maos causada pelo frio… No verao é um calor de rachar, e seco seco seco seco – crianças, a Africa estah ali, pertinho, e os ventos do Saara nao perdoam. Eles tiveram graves problemas de falta d’agua esse ano.

A Sicilia era um reino até pouco tempo atras. O sul do pais todo era assim, foi anexado ao resto da Italia hah poucas décadas. Eh claro que sao zonas completamente diversas, parecem realmente paises diferentes, e a gente de uma e da outra parte nao mantém relaçoes muito amigaveis…

Eu adoro os nomes das cidades sicilianas, em geral de origem grega. Taormina nao é lindo? E Trapani (acento no a)? E Giardini Naxos? Siracusa? Agrigento? Nao sao lindos esses nomes? :)))

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Por que fomos passar o reveilao na Sicilia? Porque eu, pobre extra-comunitaria em espera de documentos oficiais, nao posso sair do pais, senao nao me deixam entrar aqui de novo. O Mirco nunca foi nem a Napoli, detesta o sul da Italia, mas nao teve jeito, entao lah fomos nos.

Todo mundo pra quem a gente dizia que ia passar o Ano Novo na Sicilia perguntava logo: mas voces conhecem alguém por lah? Porque na Sicilia, como de resto em todo o sul mafioso, é assim: quem nao tem contatos, nao conhece ninguém, acaba comendo mal, pagando caro demais nos hotéis, nos restaurantes, no aluguel do carro… A irma do Mirco conheceu um siciliano de Catania quando estudava em Londres, e esse cara tem um irmao, Serafino (nao riam, por favor), que tem um apartamento vazio em Catania. E esse irmao nos ofereceu o apartamento, sem nem nos conhecer – alias, sem nem conhecer a Stefania… No sul da Italia o pessoal é assim, meio baiano, com a diferença que sao pouco honestos de forma geral. Mas entao lah fomos nos, passar 6 dias no apartamento do Serafino em Catania…

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Catania estah aos pés do Etna. O bichinho tem mais de 3000 metros de altura, e como todo mundo sabe anda dando xilique hah algumas semanas. O aeroporto de Catania ficou fechado varios dias, e ultimamente tava abrindo soh de manha. Mas a criatura da agencia de viagens disse que nao tinha problema, que estava pra reabrir e tal. Eu e Mirco saimos de Assis depois do almoço dia 28, chegamos em Roma pra pegar o voo das 17:30 pra Catania. No check-in a menina pergunta: mas voces sabem que esse voo nao existe, né? (…) O aeroporto ainda tava fechado por causa das cinzas, e fomos mandados a Palermo. Dali pegamos um taxi pro centro, porque NENHUMA das agencias de aluguel de carros no aeroporto tinha carros pra alugar, e dali um onibus pra Catania. A viagem é de soh duas horas e chegamos sem problemas. Serafino foi nos pegar no aeroporto, onde o onibus nos deixou, e fomos pro apartamento. O Serafino é um filhinho de papai que estah hah 10 anos na faculdade e ainda nao conseguiu se formar. A familia deles é de uma cidadezinha fora de Catania, e o apartamento ele e o irmao usam quando vao à faculdade, em Catania. Eh grande, relativamente confortavel (digo relativamente porque sao 2 quartos mas nada de suite, soh um banheiro, a cozinha e a sala sao juntas, o prédio todo treme quando alguém fecha o portao com força lah embaixo, no elevador velhérrimo soh entram 2 pessoas…), e perto de tudo. Mortos de cansaço, capotamos logo.

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Dia 29 acordamos tarde, nao fizemos absolutamente nada além de rodar pelo centro da cidade. Catania é feia. Feia, feia, feia. E nao soh pelas cinzas e lixo no chao (neguinho é mal educado pacas), mas porque os prédios nao passam por uma reforma hah anos, sao todos sujos de smog, a tinta caindo aos pedaços, letreiros enormes coloridos em tudo que é lugar… O transito consegue ser pior do que em Napoli. Ninguém para nem nas curvas pra ver se vem alguém, simplesmente buzina e vai em frente. Sinal de transito parece que é soh enfeite. Faixa de pedestres idem. Muito, muito feinha mesmo.

Com todas aquelas barraquinhas no centro, a praça tem a maior cara de Largo do Machado em época de festa junina…

Mas o pior é quando venta. Porque aih as cinzas do vulcao, acumuladas em dunas ao longo do meio-fio e em tudo que é lugar, começam a entrar nos seus olhos, no seu nariz, na sua boca. Ainda sinto os graozinhos no meu couro cabeludo. A banheira fica toda preta depois que lavamos o cabelo. E isso nao é nada, disse Serafino. Semana passada, pra andar na rua soh de mascara cirurgica. Nos fundos do apartamento o chao ficou assim depois de 2 dias sem varrer:

Nesse dia penamos pra achar um restaurante. Depois de horas caminhando achamos um, na praça do Duomo – que, como eu jah expliquei uma vez mas re-explico, é o nome genérico da igreja mais importante de qualquer cidade, é a catedral. Nao lembro de que santo é essa igreja, acho que S. Agata. Entramos, e o garçom que nos recebe pergunta se temos reserva. Nao. Ah, sem reserva é impossivel almoçar em Catania no domingo. Entao tah. No outro lado da praça tinha outro. Entramos ressabiados, perguntamos se podiamos almoçar. Claro! O restaurante era uma gracinha, o maitre-garçom-host falava meio baixo demais mas comemos muito bem: risotto alla marinaia (com frutos do mar. Quem me viu, quem me ve…), de segundo Mirco mandou ver numa sopa de mariscos, e eu num filezao de peixe-espada. Um paozinho quente com manteiguinha (italiano detesta menteiga e em todo o meu tempo aqui essa foi a unica vez que vi manteiga em restaurante) MARAVILHOSO, e um vinho branco levissimo pra acompanhar. De sobremesa, profiteroles pra mim e cannole siciliano pro Mirco (tipo uma massa folhada em forma de tubo, com um creme dentro que eu acho que leva mascarpone. Nao gostei.) Na volta pro apartamento fizemos compras num mercadinho – o basico: macarrao, atum, molho de tomate, ervilhas, parmesao ralado, queijo fatiado, azeite – e mais nada. Dormimos a tarde inteira, pra acordar de noite, fazer jantar, e começar a odisséia cinematografica. O Serafino tem uma coleçao enorme de fitas de video.

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31 de dezembro

Omiti o dia 30 porque nao fizemos nada, de novo, além de comer e ver filmes. A unica novidade foi a nossa primeira visao do Etna, do parque Villa Bellini:

Pois bem, dia 31 resolvemos ir a Taormina, que é do outro lado do vulcao. Pegamos o onibus das 9:45, saimos do horroroso centro e passamos pela Vieira Souto deles.

Logo começamos a sentir um cheiro de gasolina fortissimo. O motorista para, desce, olha qualquer coisa lah embaixo, entra no onibus, voltamos pra rodoviaria. Esperamos quase meia hora até chegar um outro onibus pra substituir o nosso, que vazava gasolina em quantidades inacreditaveis. E recomeça a viagem. Pegamos a estrada Catania-Messina. Passamos por Acireale, Acitrezza (cidade dos Malavoglia, de Verga; leiam, é bonito), Fiumefreddo, Giarre, Giardini Naxos, e Taormina. A estrada é horrenda horrenda horrenda, tipo a avenida Suburbana, soh que ao longo do mar. Muito, muito, muito feio, tudo muito feio. E toma de cinzas acumuladas nas ruas.

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Giardini Naxos foi a primeira colonia grega na Sicilia. O mar ali é lindo, mas a cidade é horrenda. Alias, parece ser uma constante na Sicilia: mar lindissimo, mas as construçoes dao pesadelos. Poupo-vos das fotografias feias, fiquemos com Taormina, que é um amor – o centro historico, porque o resto… O centro lembra um pouco Capri, soh que nao tao estreito. No verao deve ser um horror, gente até subindo pelas paredes.


Tem um anfiteatro grego lindissimo em Taormina…


…de onde a vista da cidade e do mar é linda (a parte do mar nao saiu na foto, foi mal)

Almoçamos super bem, linguine com frutos do mar pra dois, Mirco detonando um secondo de mariscos. Quando saimos do restaurante o tempo tinha virado, ventava, chuviscava, tava escuro… Fomos rodar no centro, até porque os horarios dos onibus eram todos estranhos por causa do reveilao, e soh tinha um onibus pra voltar, às 17:45. A praça principal é uma gracinha, com uma torre com relogio, uma igrejinha fofa, uma biblioteca velha, uma vista divina :)

A unica coisa arabe que eu vi em toda essa viagem foi esse prédio, onde tem o centro de informaçoes ao turista em Taormina:

A viagem de volta foi meio chatinha porque tinha transito. Alias, o transito… De repente um carro fecha o onibus. Um adolescente sai correndo da viatura e bate na porta do onibus. O motorista abre. O garoto pergunta se amanha os onibus funcionam normalmente. O motorista diz que sim. A senhora sentada atras dele diz nao, nao, é feriado, nao tem onibus! O garoto agradece e vai embora. O motorista vira pra senhora: mas por que é que a senhora foi dizer que nao tinha onibus? Eu queria mais é que esse desgraçado ficasse horas no ponto esperando um onibus que nao vem.

Entao tah.

Fizemos o jantar, bebemos um vinho siciliano forte e muito doce, nao gostei. Botamos Star Wars no video. Caimos no sono antes das dez da noite. 2003 chegou e eu nem vi…

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Primeiro de janeiro

Resolvemos ir a Agrigento, ver o Vale dos Templos Gregos. O cartaz na rodoviaria dizia “duraçao da viagem: 1 hora”. Como era feriado, soh havia dois horarios pra ir, um às 6:15 da manha (hahaha) e outro às 11. O unico horario pra voltar era às cinco da tarde. Tudo bem, dah tempo… Chegamos à rodoviaria bem antes das 11, mas jah tinha a maior cabeçada ao redor do onibus. Chovia, e o motorista lah dentro fazendo sabe-se lah o que, e nada de abrir a porta. Quando finalmente abre, sao quase 11, e todo aquele povo ainda tinha que comprar o bilhete, porque especificamente pra essa linha o bilhete é feito soh dentro do onibus, e nao na bilheteria. Vai entender. O onibus tinha 2 andares, e a quantidade de gente era inacreditavel. Soh conseguimos partir às 11:40. E a viagem durou nao 1, mas TRES horas… Porque Agrigento é longe. Eu queria matar a criatura que escreveu 1 hora no cartaz na rodoviaria!

Pra chegar em Agrigento, que fica no sul, passamos por varios fins do mundo: Caltanissetta, Canicattì, Enna, todos no centro da ilha. A paisagem é estranha, toda rochosa, poucas terras cultivadas, nada de castelinhos umbros ou toscanos no alto das colinas, até porque construir qualquer coisa no alto de colina na Sicilia é meio complicado, jah que todos os altos das colinas sao cheios de pedregulhos enormes. Longuissimas distancias sem uma casa em vista. De vez em quando um cartaz escrito à mao, Trattoria, Pizzeria, Discoteca. Ficamos imaginando quantos horas de viagem neguinho ali tem que encarar pra ir dançar sabado à noite…

Agrigento é horrenda. Horrenda. Mas um taxi nos levou do centro ao Vale dos Templos… E é uma coisa de tirar o folego. Imaginamos neguinho atracando no porto lah embaixo, e vendo de longe aqueles templos enormes, amarelados, no alto dos morros… Absolutamente estupendo.

Sao 3 templos grandes e bem conservados (alias, a Sicilia tem mais ruinas gregas bem conservadas do que a propria Grécia): o de Hércules, o de Juno (ou Hera, mulher de Zeus), e o da Concordia, esse primeiro, e o mais bonito.

O do Hércules, coitadinho, é meio detonado:

Esse é o da safada da Hera:

E do outro lado tem o de Zeus (Giove, em italiano; Jupiter pros antigos romanos), do qual soh restou a base. Eh absolutamente enorme, e essa estatua tabajara aih no chao é uma divindade que suportava nos ombros a entrada do templo. Tem muito mais coisa no museu arqueologico ali perto, mas nao tivemos tempo de visitar porque, voces sabem, fomos enganados quanto à duraçao da viagem a Agrigento.

Tem também um anfiteatro, e esses restos do que um dia foi uma das portas de entrada do templo de Zeus.

E ao longo do vale, um longuissimo paredao de tumbas bizantinas:

Pra terminar, esse lindissimo pé de azeitona, onde eu certamente viveria se fosse uma driade:

O azeite deles aqui é uma droga, pesado, gorduroso. Nao sei como é possivel, jah que quando mais rochoso o terreno, melhores as azeitonas e consequentemente o azeite, e mais rochoso do que a Sicilia, soh a Lua mesmo.

Agora tchau que vou trabalhar.