O Retorno do Bode

O Retorno do Bode

Hoje fui pagar o imposto sobre veiculos pro Mirco, e andei perguntando umas coisinhas sobre a minha situaçao. A senhora do Automobile Club Italiano, uma quarentona elegante e muito simpatica e prestativa (coisa rara por aqui), me deu mais uma de uma série de ooootimas noticias: minha carteira internacional de habilitaçao, que em teoria vence no final de março, nao estah mais valendo, desde que acabou meu curso em Perugia. Quer dizer, do momento em que voce pega residencia em um pais, a carteira internacional nao vale mais, e é necessario fazer outra, oficial do pais. Eles devem achar que no dia seguinte ao fim do curso as pessoas mudam o modo de dirigir e começam a sair batendo com o carro e atropelando pessoas na rua.

Aih perguntei como eu deveria fazer pra tirar a carteira aqui, entao. Custa em torno de 500 euros, que eu obviamente nao tenho. Poderia fazer o teste como privada, sem passar por uma auto-escola, e sairia mais barato. Que bom, pensei.

Entao me veio à mente um detalhe: pra fazer a carteira precisa do permesso di soggiorno definitivo? Porque eu soh tenho o protocolo dos correios dizendo que eu mandei minha documentaçao pra Questura e que algum dia, esperamos que ainda nesse milenio, meu pedido de regularizaçao seja aceito. Resposta: nao, o protocolo nao vale como permesso di soggiorno. Nao posso fazer prova. Nao posso tirar carteira.

Sabado compro o jornal e vou comprar uma Vespa. Nesse frio vai ser dureza.

Resultado: estou de bode de novo, cansei de nada funcionar pro meu lado, de ficar vivendo num limbo burocratico onde nao posso trabalhar, nao posso ficar doente porque nao tenho seguro saude, nao posso ter nada no meu nome porque eu nao existo, nao posso nem dirigir, meu cachorro vem em abril e é possivel que, se o mongo do Mirco nao acordar pra vida e casar logo, nos mandem embora, a mim e a meu cachorro, que mal vai ter tempo de de adaptar à vida na roça.

Pra acalmar um pouco o bode em vez de sair metralhando gente por aih, botei meu mp3 player nos zovido, com Offspring berrando muito alto e fui passar o aspirador de poh no carro que tava uma vergonha. Me acalmei e iniciei a série de musicas felizes (que inclui Barry White, Morsheeba, Blues Traveler, Gloria Gayne, Tom Jones); fiz faxina na casa, depois fui correr aqui nas redondezas, bater um papo com o Romeo, o labrador amarelo da casa aqui do lado. Ele jah me reconhece, nao late mais pra mim e vem correndo pra grade do jardim quando me ve. Romeo é um cara legal. Pena que nao é o Legolas.

(Nessas horas é que é bom ser atéia: ter alguém concreto pra malhar (nesse caso, a burocracia italiana) é muuuuuito melhor do que ter uma entidade abstrata pra qual fazer promessa.)