Tem dias que nao tem jeito, tudo é feio. Hoje pra mim foi assim.
Os infinitos campos de trigo, ondulantes na brisa, eram feios. As papoulas, maozinhas vermelhas se erguendo dos infinitos campos, eram feias. As parreiras, agora robustas, verdes, brilhantes, eram feias. Os cachorros que corriam pras grades latir pra mim quando eu passava eram feios. Meu corte de cabelo, que tinha ficado tao legal, era feio. O macarrao com atum que almocei, sozinha, era feio. Os chumacinhos de paina voando com o vento eram feios. A joaninha que se perdeu no meu cabelo era feia. O pequeno mas bem sucedido leilao de cartuchos que eu comandei hoje de manha em ritmo frenético era feio. A musica no mp3 player era feia, desliguei. As plantaçoes bem cuidadas, penteadas, ordenadas, eram feias. Frida, a égua do escritorio, era feia. Os imensos pinheiros gemeos aqui da estrada eram feios. Os carvalhos da nossa estrada, caramba, horriveis. O casario de pedras cor de rosa de Assis era horroroso. O duplo girar da chave na fechadura, sinal de apartamento vazio, era muito, muito feio. As medalhinhas que comprei pros cachorros e mandei gravar, tao bonitinhas – mas eram feias. O boxer que ocupa o jardinzinho que, espero muito muito muito, em breve serah do Legolas, era feio pra burro.
Mas o pior é o céu azul. Ah, esse é feio de matar. Céu azul é uma ofensa a quem sente dor, a quem morreu por dentro, a quem nao tem Prozac, a quem estah sozinho, a quem estah cansada, cansada, cansada. Sei que estou me repetindo, mas é que o Alex Baroni, apesar de morto, tem razao: questo cielo blu non lo posso sopportare.
Se pelo menos eu perdesse a fome. Mas nao. A Suellen, a solitaria que mora dentro de mim, nao muda de humor. Pra ela nao tem tempo quente, e tem sempre fome ou entao vontade de comer, e mais frequentemente as duas coisas juntas.
Merda.