Srbija

Vamos lá.

Como foram oito dias de não fazer absolutamente NADA, nem de ver absolutamente NADA de interessante, não vou fazer um relato da viagem, mas das minhas opiniões sobre a cidade que visitei. Sei que uma cidadezinha de 2000 habitantes, cuja maioria mora em outros países europeus e só volta pra lá no Natal, na Páscoa e no verão, não basta pra julgar um país inteiro. Não conhecemos Belgrado – a neve e o gelo na estrada não permitiram. Dizem que é bonita, mas eu juro que a essa altura do campeonato não acredito.

Vou colocar a pronúncia das palavras entre parênteses. A sílaba tônica, quando eu souber qual é, evidencio em negrito.

O lugar

Pra quem não lembra, a Sérvia é um dos muitos países fodidos que apareceram depois da fragmentação da ex-Iugoslávia. Os outros países são Croácia, Montenegro, Macedonia, Bósnia Herzegovina, e Eslovênia. A Croácia parece ser o mais civilizado, provavelmente porque tem uma longa costa, que é destino de férias de muitos italianos. Boa parte desse litoral croata um dia pertenceu à república de Venezia, e muitas cidades têm nomes em italiano.

Sérvia, na língua eslava, se diz Srbija (Srbía).

Nós ficamos em Majilovac (Maiílovats), a uma hora de Belgrado. Tem uma rua principal, dois bares, dois mercadinhos, um cemitério, e mais nada. A rua principal é a única asfaltada; todas as outras são um lamaçal só, e impraticáveis a pé. As casas são grandes, muito grandes, espalhafatosas, cafonamente luxuosas. Todas pertencem a gente que deixou a Sérvia e mora na Itália, na Áustria, na Alemanha. Os muros e cercas são TODOS, TODOS tortos, em pelo menos uma das três dimensões.

Eu lembro que achava as casas estranhas mas custei a entender o que estava errado: há um excesso de janelas, de colunas, arcos, varandas, meias-águas. Parece que há uma competição entre os vizinhos: aaaah, a minha casa tem mais janelas que a suaaaaaa… As cores? Vimos casas azuis, amarelo-canário, rosa, lilás. LILÁS.

São todas casas complicadas; as janelas são desniveladas, denunciando a quantidade de andares dispostos loucamente dentro das casas. Tem sempre um anexo, um andar adicionado depois da casa pronta, uma outra casinha dentro do quintal, essas coisas estranhas. Mil portas, portinhas, corredores, escadas, passagens.

Os carros são todos velhos, a não ser os do pessoal que mora fora, e os melhores têm placa da Áustria. Ninguém usa cinto de segurança.

Fuma-se em tudo que é lugar, até no cinema – ah, não, no cinema só é permitido fumar nos intervalos… Como se a fumaça não ficasse ali acumulando. Coisa ridícula. Fumante é idiota em qualquer lugar do mundo. Não há sistema de circulação de ar em lugar nenhum. Do lado de fora do bar não é possivel reconhecer quem está dentro, por causa da fumaça. Dois minutos são o suficiente pros olhos começarem a lacrimejar (nós contamos o tempo, não é paranóia anti-tabagista minha). Respirei mais fumaça nesses 8 dias do que em toda a minha vida.

O lugar civilizado mais próximo é Požarevac (Pojarevats; o ž tem um som entre o z e o j), a 17 quilômetros de Majilovac, e cidade natal do Milosevic.

A cidade é grandinha, tem um pouco de tudo – pouco mesmo. As ruas SEMPRE enlamaçadas, mesmo as asfaltadas. As lojas são de uma cafonice ímpar, não importa o que vendam: móveis, eletrodomésticos, roupas, joias, é tudo horroroso. As vitrines são todas empoeiradas, os logotipos e as fontes são antiquados, é um lugar que parou no tempo.

O único cinema não é exatamente um cinema, mas uma locadora de vídeo, aliás bem completinha, com uma pequena sala de projeção. Mostram um filme por semana, e há poltronas com mesinhas onde você pode comer e beber enquanto assiste ao filme. Saída de segurança? Nem pensar. Três blackouts enquanto assistíamos a Scary Movie 3. O filme da semana que vem é o Retorno do Rei – o rei só nao retornou ainda aqui no Burundi, impressionante. Só dia 22 mesmo.

Indo na direção oposta, há uma outra cidadezinha chamada Veliko Gradište (velico gradishte), que é bem mais bonitinha, mas não tem praticamente nada além de uma bela vista pro Danúbio e pra Romênia, ali pertinho. Ali perto há um lago, Srebrno Jezero (lago de prata, srebrno iezero), com muitas mansões de verão em volta, bares, restaurantes, hotéis, que teoricamente ficam lotados durante o verão. O lago é artificial, formado a partir de um desvio do Danúbio, que passa por Belgrado e por várias cidadezinhas do interior.

Mirco foi cortar o cabelo e fazer a barba duas vezes em Gradište. O barbeiro tem um quiosque com duas cadeiras e uma pia (não cuba pra lavar a cabeça, pia mesmo). Há duas ajudantes, que estão ali pra aprender a profissão. Há três cadeiras pra quem está esperando a sua vez. Fuma-se o tempo todo. Enquanto esperamos, fomos tomar um café no bar-hotel Vegas, de propriedade de mafiosos locais. Quando chegou a nossa vez, a estagiária mais nova atravessou a rua e veio nos chamar. O cara trabalha rápido, é muito eficiente, e só cobra 110 Dinar (mais ou menos 3 euros).

A língua

Eles falam uma língua eslava, difícil de explicar com que coisa se parece. Muitas palavras terminadas em vogal, mas também muitos encontros consonantais malucos, pra nós impronunciáveis. Escreve-se tanto em alfabeto latino, com aqueles acentos doidos sobre (ou sob) as consoantes, lembrando o turco, quanto em alfabeto cirílico, que é belíssimo. A língua eslava não tem nada a ver com o russo, mas a maioria da população entende russo porque foi obrigada a estudá-lo por 4 anos na escola.

Pequeno micro-mini-dicionário sintético-reduzido sérvio-português:

Da – sim
Ne (né) – não
Živeli (jiveli) – tchin tchin (eles brindam O TEMPO TODO)
Polako – devagar
Malo – pouco
Veliko – grande
Kokoska – galinha
Porcil – porco
Hvala (rvala) – obrigado

…continua…