A jornada romana de ontem tinha dois objetivos: um era pegar uns sapatos que uma tia da FeRnanda trouxe do Brasil porque na mala dela não tinha mais espaço, e comprar ingredientes brasileiros na Castroni. O outro era fazer uma social básica com essa tia. Então.
Acordei cedo ontem pra lavar meu cabelo e dar tempo da juba secar antes de sair de casa (coisa que, obviamente, não se realizou. Meno male que a temperatura estava ótima e em certos momentos cheguei a morrer de calor). Encontrei FeRnanda e Fabião na movimentadérrima (cof cof) estação de trem de Bastia e pegamos o trem de pobre* das 8:44, com longa troca de trens em Foligno. Chegamos a Roma, que aliás é tudo na vida, quase meio-dia e fomos direto almoçar no McDonalds da estação. Eu e Fabião encaramos um novo sanduíche de dimensões avantajadas. O meu está em processo de digestão até agora.
Metrô até Laurentina, uma viagem curta de ônibus e chegamos à casa dessa tia da FeRnanda que mora há 28 anos em Roma. Ficamos lá de bobeira batendo papo, meio em italiano, meio em português, com o simpático marido romano dessa tia; depois descemos ao apartamento de baixo, onde mora a filha mais velha deles com o marido, vimos a casa, vimos fotos da lua-de-mel nas Maldivas, vimos alguns mapas e posters de Tolkien na parede (quem disse que TODO italiano é Tolkien-clueless?), missão cumprida, fomos embora.
Aí começou a segunda parte da epopéia. Porque o Mirco não pôde vir com a gente de manhã por causa do trabalho, mas cismou que queria ir lá ver a Castroni e nos buscar. Só que o Mirco, além de ser caipira pouco acostumado a cidades grandes (caipira cidadão do mundo, mas caipira), tem um senso de orientação tão bom quanto o de um lemming. Eu e os outros dois ficamos rodando na estação uma meia hora e de vez em quando o lanterneiro ligava pra dar sua localização. Não tenho a menor idéia de onde estou, só sei que o trânsito tá todo parado. Como ele não sabia onde estava e nem se estava indo na direção certa, ou seja, não sabíamos quando ou se ele chegaria até nós, nós três resolvemos nos adiantar e pegar o metrô até a Ottaviano e ir andando até a Castroni. Começamos a fazer nossas comprinhas, começo a ligar pro Mirco pra saber onde ele estava, e o telefone desligado ou inachável. Deve estar no metrô, pensei. Dito e feito: terminadas nossas compras, já andando na direção do metrô pra voltar, já que o menino não dava notícias, liga ele: eu tô em frente à Castroni… Eu: mas na Via Cola di Rienzo? Ele: na Via Ottaviano. Eu: então pede pra alguém te explicar onde é a filial da Cola di Rienzo, a gente te espera lá na frente. Voltamos tudo de novo, carregando nossas sacolas cheias de guaraná Antarctica, pão de queijo, leite condensado e goiabada. Daqui a pouco chega ele, ligeiramente estressado por ter pego o caminho errado assim umas 296 vezes e ter levado mais de uma hora do Grande Raccordo Anulare, anel estradal que circunda Roma e que é meio difícil de entender, até o centro da cidade. Claro que chegou morrendo de fome; ele está sempre com fome. Resolvemos parar na primeira pizzaria no caminho pro metrô. Nossos homens saciados, continuamos até o metrô, descemos em Vittorio Emanuele, achamos o carro e partimos. Achamos o carro não é uma frase inocente: pra achar o carro foi preciso que o Mirco tivesse tirado fotografias da estação de metrô e do exato lugar onde o deixou, porque eu e ele somos mestres em perder o carro em estacionamentos.
Olha eu e os pombinhos na saída do metrô:
(e não reparem nos meus olhos fechados; eu sou a pessoa menos fotogênica do mundo e SEMPRE saio com essa cara de peixe morto)
Felizmente não pegamos trânsito, embora até agora não saibamos por quê. A viagem foi light, a estrada tava vazia, Mirco e Fabião trocando histórias de escolas e professores às gargalhadas (eles não têm a mesma idade mas estudaram na mesma escola técnica), eu e FeRnanda morgadas de cansaço. Foi chegar em casa, tomar banho pra tirar aquele fedor de trem, comer o resto requentado de linguine com frutos do mar de sexta, e mimir.
A única coisa chata foi não ter dado pra encontrar a Ane, que tava enrolada e não conseguiu se liberar… Bom, fica pra próxima. Significa fazer o sacrifício de voltar à cidade que é tudo na vida.
*Os trens italianos são divididos em diversas categorias. Há os trens de rico, que custam mais, param em menos estações, são mais limpos, têm lugares numerados e sempre atrasam. São o Eurostar e o Intercity. E há os trens de pobre, que custam menos, param em tudo que é cidadezinha, fedem, se a linha for muito movimentada você corre o risco de viajar sentado na sua mala no corredor, e sempre atrasam. Esses de pobre são vários: o Diretto, que como o próprio nome diz, NÃO vai direto a lugar nenhum, mas pára em qualquer mini-micro-estação; tem os Regionali e os Interregionali, cuja diferença não sei explicar. Algumas regiões têm, além dessa enorme variedade da Trenitalia (Ferrovie dello Stato), umas linhas internas estranhas. Aqui na Umbria temos a Ferrovia Centrale Umbria, com trens caindo aos pedaços, que liga Ponte San Giovanni a buracos como Città della Pieve, Umbertide, algumas cidadezinhas na zona do Lago Trasimeno, quase na Toscana.