Ontem à tardinha fomos ver The Butterfly Effect. Apesar do protagonista ser o namorado da papa-anjo Demi Moore e da direção deixar um pouco a desejar, o conceito geral do filme é bem interessante. The Butterfly Effect é aquela história da borboleta que bate asas no México e pode causar um tornado do outro lado do mundo, através de uma série de eventos aparentemente não relacionados entre si.
O personagem do bobão do That 70s Show é um garoto que volta e meia tem blackouts de memória que resolve escrever diários pra tentar tapar os buracos. Só que ele descobre que relendo esses diários, em particular os trechos não terminados, porque relativos a pedaços perdidos de memória, ele consegue voltar ao passado. Como a história toda é cheia de pequenas tragédias, ele resolve mudar o passado pra tentar evitá-las, bastando pra isso pequenos atos, como uma frase, um objeto dado a um amigo. Voltando ao presente, que obviamente muda de acordo com o passado que ele alterou, ele descobre que esses mesmos pequenos atos são capazes de mudar totalmente a vida das pessoas. Ele acaba ficando num vai-e-vem passado/presente, achando que consertou coisas no passado mas caindo em presentes horrorosos, até resolver parar com a brincadeira, do melhor jeito possível.
Bom, no final das contas gostamos do filme. E voltamos no carro conjecturando sobre as nossas vidas ultimamente. É meio apavorante pensar que, se o telefone do Mirco tivesse tocado quando ele estava pra sair de casa naquele dia de novembro em 2001, e ele tivesse voltado pra responder, provavelmente não teríamos nos conhecido, porque ele teria passado na estrada quando eu e Valéria já teríamos chegado ao albergue. Ou se a gente tivesse pego o trem pra Assis que tinha acabado de sair da estação de Perugia; eu e Valéria teríamos chegado em Assis uma hora antes e assim eu e o lanternerio não teríamos nos conhecido. Ou se a Valéria não tivesse me convencido a passar em Assis eu só sabia que era cidade de santo, e como não gosto de santo não queria vir. Lembro perfeitamente de nós duas debruçadas sobre um mapão da Itália na sala de paredes cor de pêssego da Valéria, no Leblon. Ela insistindo em Assis e eu não, não, santo não, por favor! Ou então se meu amigo Guido não tivesse me convencido a estudar italiano em vez de francês. Ou então se eu nem tivesse conhecido o Guido naquele MUSH, onde eu só entrei porque tive um febrão uma noite, não conseguia dormir e acabei entrando no tal MUSH, indicação de um amigo da Newlands.
A vida é muito estranha, crianças.