weekend

Piano piano, devagar devagarinho, vamos voltando à programação normal.

O feijão com arroz de sexta foi ótimo. Sábado fomos ao cinema ver Gothika (gostei). Domingo a Renata, irmã da FeRnanda, e o marido Stefano estavam aqui procurando casa pra morar. Aproveitamos e depois dos respectivos almoços sograis fomos todos juntos visitar os descendentes diretos do meu espetacular cachorro.

Foi aí que a FeRnanda proclamou que, já que ela e Fabião estão indo morar em Ripa (o Mirco aprendeu a falar ripa na chulipa), e que há duas outras casas à venda por lá, a Renata e o Stefano TÊM que ir morar na menor dessas casas e eu e o Mirco TEMOS que comprar a outra, que fica fora dos muros da cidadela mas encostada neles – essa casa fora do burgo tem quintal, e eu PRECISO de quintal, vocês sabem. Então tá, respondi, ficou decidido, o novo consulado brasileiro na Itália vai ficar em Ripa. Falta só saber quem vai pagar a casa, já que dinheiro eu não tenho. Mas digam se não é um lugar divino, Ripa na Chulipa:

Voltando de Torgiano, ou seja, da oficina onde estão os cachorrinhos, resolvemos passar por Brufa em vez de pegar a estrada reta direto pra casa. Brufa é uma cidadezinha no alto de uma colina (classic), que pertence ao comune de Torgiano mas fica a meros 3 quilômetros daqui de casa – excrusive já fui a pé com o Legolas, que voltou com três metros de língua de fora porque a ladeira não é mole não. Fora uma fábrica de rações que fica no alto de uma das colinas do vale e estraga a vista, Brufa é um amor. Lindas villas espalhadas pelo verdejante vale, cipressos aqui e ali, esculturas modernas de aço inoxida… HEIN? O que fazem esculturas modernas (leia-se hediondas) em aço inoxidável, ferro ou madeira laqueada entre cipressos e villas centenárias?

Eu já tinha visto essas aberrações no meio da praça principal da cidade quando estive lá a pé, então lá fomos nós conferir.

A entrada da praça é esse trambolho de ferro que, além de ser horroroso, deve ter custado uma fortuna, segundo avaliações do lanterneiro, que trabalhou 5 anos em uma empresa import-export de ferro e sabe do que está falando. Dentro da praça, lá num canto, há uma… uma COISA em aço escovado que parece um biombo prateado, sem sentido nenhum. Uma mulher de lábios finos demais, uma senhora com ares de atarefada enfiada num moletom colorido, está saindo da sua casinha fofa perto da escultura. Abrimos a janela do carro e perguntamos se ela conhecia esse escultor ma-ra-vi-lho-so. E aí começa mais um episódio de Cenas Italianas:

Velha: “Não sei quem é não… Por quê?”
Mirco: “A gente queria bater nele, porque essas esculturas são horrorosas.”

Pronto! A velha se soltou:
“Aaaaaaaaaaah, nem me fala! Queriam botar esse mijador (referia-se ao biombo, N.d.R.) prateado na frente da minha casa, eu falei, só se passar por cima do meu cadáver!”
Mirco: “A senhora sabe se esse escultor mora aqui?”
Velha: “Quem mora aqui?”
Mirco: “Ele mora aqui?”
Velha: “Quem, eu? Eu moro logo ali, ó”
Mirco: “Não, o escultor!”
Velha: “Não sei não senhor, eu não entendo nada de arte.”
Mirco (rindo): “Mas e aquela entrada da praça, o quê que a senhora acha?”
Velha (se exaltando): “Oscena! (pronúncia “ochêna” e obviamente quer dizer obscena) Se tivessem botado um arco de pedras tinha mais a ver com a praça, mas aquele negócio de ferro é osceno
Mirco: “Eu acho que vou tirar umas fotos e mandar pro Striscia la Notizia, quem sabe eles não vêm investigar quem deu permissão pra estragar o visual assim?”
Velha: “Acho ótimo! Tem mais é que derrubar isso tudo mesmo! Coisa horrorosa! E o pavimento dessa praça? Todo feito com resto de pedras da prefeitura! A praça ficou toda torta, toda desnivelada, outro dia caiu uma velha aqui do lado! Mas… vocês não são parentes do escultor não, né?”
Mirco: “Deus me livre ser parente de alguém que faz um negócio feio desses!”
Velha: “Então tá… Agora dá licença que meu filho tá indo me levar ao cemitério.”

Ainda gargalhando, fomos embora. Desnecessário dizer que se tivéssemos ficado lá ela teria contado quem estava indo visitar no cimitério, há quantos anos morava ali na praça, teríamos trocado receita de ragù, ela teria nos convidado pra um café.