16 euros a pequena

O jantar em Deruta até que foi agradável. O restaurante, escolhido pelo Super Chefão da Iron, fica numa casa antiga de pedra muito bonita, mas com estacionamento precário e perigosíssimas escadas em caracol. O menu era fixo:

Antipasti:
Verdure grigliate – abobrinha, berinjela e pimentão na grelha
Affettati (frios fatiados) – prosciutto crudo, pancetta (bacon enrolado), salame
Fave – favas num molhinho picante delicioso
Fagioli e salsiccia – feijão e linguiça desmanchada num molhinho delicioso

Primi:
Macarrão curto in bianco (sem molho de tomate) com linguiça e aspargos
Macarrão longo alla perugina (molho de tomate com linguiça)

Secondi:
Carne fatiada com radicchio e vinagre balsâmico (nem precisa dizer que dispensei alegremente… Vinagre me faz vomitar e radicchio cru não é muito a minha praia)
Lombo fatiado com vagem refogadinha levemente picante (uma delicia)

Dolce:
Mousse de chocolate, miraculosamente bem feita – digo miraculosamente porque a maioria dos restaurantes acha que qualquer creme de chocolate é mousse, quando na verdade sabemos que mousse é aquela toda furadinha, aerada, leve, delicada.

Café, grappa, limoncello e vino liquoroso. Muita água mineral. Vinho tinto da casa, que era gostosinho, mas me deixou de herança uma dor de cabeça fenomenal hoje.

Tudo isso por 20 € por pessoa. Não é muito, se consideramos a quantidade de comida, mas é que a qualidade não era láaaaa essas coisas. O macarrão curto tava cozido demais, mas fora isso, convenhamos, massa com molho de tomate e linguiça é coisa pra se comer em casa. Quando como fora gosto de pedir coisas que normalmente não faço em casa, por falta de saco, habilidade, ingredientes, sei lá. Mas no final das contas nos divertimos, e é isso o que conta.

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Tive dois ataques de riso sérios ontem. Um por culpa dos galos de Deruta. Já expliquei aqui, pouco tempo atrás, que Deruta é famosa por aquelas cerâmicas majólicas horripilantes. A FeRnanda trabalha numa loja de souvenir em Assis que vende tudo que é cafonice de Deruta, de sininhos inúteis a porta-água-benta, passando pelas famigeradas jarras de vinho em formato de galo – o vinho sai pela boca. Quantas vezes fui visita-la na loja e ficamos horas discorrendo sobre a cafonice do galo!

Pois ontem quando chega o vinho dentro dos galos, na mesa, não resisti e mandei um SMS pra ela contando a beleza que era ter vinho servido saindo do bico do bicho. A resposta curta e rasteira me fez engasgar com o vinho:
– 16 euros a pequena.

Fiquei rindo feito uma besta por horas a fio.

Mas a pior mesmo foi a do Mirco contando suas peripécias da infância. Falava-se das aulas de catequismo, que os meninos só frequentavam pra poder jogar futebol nos intervalos e depois da aula; falava-se das freiras, que pegavam no pé dos alunos. E aí entra o comentário do Mirco:

– A irmã Fulana brigava comigo porque eu comia pedra.

Olhares estupefatos. Alguém (eu) tem a coragem de desenvolver o assunto:
– Como assim, comia pedra?
– Eu comia pedrinha. Claro que não qualquer pedrinha; eu escolhia aquelas que pra mim pareciam diamantes…

Comecei a rir e não consegui mais parar por 10 minutos, até porque cada um começou com a sua piadinha – mas a pedrinha era temperada, era al dente, era fresca, etc.

O problema é que chegamos em casa quase à uma da manhã. Acordei sozinha agora às 7, tomei banho, fiz beicinho pra névoa chata lá fora, e daqui a pouco tenho que ir pra agência. Tô mortinha…