caninos brancos

Ontem passei pela minha primeira experiência dentística aqui na Itália. O lance é que eu não ia ao dentista há séculos, porque obviamente confio mais nos dentistas brasileiros, mas como a viagem ao Brasil não sai, decidi parar de empurrar com a barriga e fazer a limpezinha básica de sempre.

Devo confessar que tava com uma certa meda. Não medo “de dentista” em geral: nunca tive cárie e as únicas vezes em que tive que tomar anestesia foram pra arrancar um dente de leite que se recusava terminantemente a cair e pra tirar um siso. Ou seja, nada de traumas odontológicos. Mas as histórias que circulam por aqui sobre um famoso dentista-açougueiro em Assis me deixaram meio relutante. E o Mirco não ajudava muito quando dizia que seu dentista não tinha alguns dentes. Não preciso nem dizer o quanto é grande meu desprezo por dentistas com dentes mal-cuidados – só se equipara ao meu desprezo por médicos que fumam. Mas como não tendo tu, vai tu mesmo, e eu já tava ficando nervosa sentindo meus dentes sujos, ontem fomos lá limpar nossos caninos.

Acaba que o cara é um amor, fez Medicina e se especializou em Odonto (há muitos anos atrás era assim que se fazia aqui), não tem dois dentes da frente porque nasceu sem (se chama “agenesia”. Lembro que meu primeiro cadáver, em Valença, tinha agenesia de um musculinho bobo da batata da perna…), fez vários cursos de especialização nos EUA, bate papo pra caramba, viaja pra burro, e tcham tcham tcham tchaaaaaaaaaam NÃO ME COBROU NADAAAA! Do Mirco cobrou 40 € em vez de 50, mas de mim, que sou “colega médica e ainda por cima brasileira” (a boa fama dos dentistas brasileiros é internacional, quéridos), não cobrou nada. ADOOOORO quando isso acontece, ainda mais quando estou completamente a seco no banco… ; )

Claro que o consultório do cara não é nenhuma chiqueza, não é todo tecnologicamente modernoso como costumam ser os dos nossos dentistas tupiniquins. Inclusive acho que ficaria muito estranho, já que o prédio dele fica na praça mais no alto de Assis, é super antigo e as salas são meio cavernas, como uma adega. Mas ele foi competente, usou todos os instrumentos aos quais estou acostumada, e ainda elogiou a minha técnica de higiene bucal. Mal sabe ele que 80% do mérito são da genética e dos antibióticos que tomei na tenra infância, que deixaram meus dentes menos brancos porém incrivelmente resistentes (como os do Mirco, que também nunca teve cárie).