San Gimignano

(Vou falar mais da cidade e botar fotos mais à frente, nesse dia a gente não viu quase nada porque não deu tempo. E não reparem na qualidade péssima das fotos. Eu sou péssima fotógrafa, por isso prefiro comprar cartões-postais.)

Acordei cedo, como sempre, mas não ousei botar o nariz pra fora até o Leo sair de casa. Fiquei lá, deitadinha lendo meu livrinho, ouvindo todos os rumores corporais dele no banheiro, a torneira aberta por horas a fio, os passos pesados arrastando os chinelos, o pigarro, o assoar do nariz, os resmungos, o telefone que tocou e ele respondeu aos berros, os arrotos ocasionais, uma fineza só. Quando ouvi o estrondo da porta da frente batendo e o barulho do carro indo embora, levantei, fiz a cama e fui tomar banho, fingindo não notar o estado lamentável do banheiro – coisa de quem não tem nem bom senso, nem uma companheira em casa pra dizer Leo, VAI SECAR O CHÃO DO BANHEIRO, PORRA, nem respeito pela pessoa com a qual ele é forçado a dividir o banheiro nesse momento. Comi uns grissini di alecrim de café da manhã sentada na cama, olhando pela janela. O tempo estava esquisito, um vento super forte, nuvens que passavam correndo, escondendo e mostrando o sol. Tomei coragem e saí.

Eu tinha marcado com as babás de encontrá-las no hotel delas às onze. A família tinha nos dispensado; queriam ver a cidade sozinhos, sem babás, guias ou intérpretes. Fui a pé ao hotel, porque adoro caminhar, a paisagem é linda, é só uma colina de distância, e porque não tinha outro jeito mesmo, já que Leo saiu com o carro. Calculei mal o tempo e acabei chegando cedo demais. A recepcionista simpática me disse que elas tinham saído pra jantar na noite anterior e chegado muito tarde. Pronto, pensei, vou ficar esperando aqui até meio-dia e meia. Mas tadinhas, às onze e meia desceram, sorridentes, e fomos a pé até a cidade, que é linda.

Claro que fomos direto almoçar, que já era hora. Entramos no primeiro restaurante que vimos, Taverna Paradiso (de Raffaela Scialò; Via S. Giovanni, 6. Tel 0577.940302), bem no início da ladeira que leva à Piazza della Cisterna.

O restaurante era microscópico, e a proprietária estava usando um lindo vestido do Renascimento, cor de vinho, e penteado de época também. Pedimos bruschette e depois cavatelli (uma massa curta que parece um nhoque pequeno com um corte longitudinal) alla Medici, ou seja, com bacon, molho de tomate e nozes – uma delícia. As meninas comeram tiramisù de sobremesa, batemos papo com a proprietária e saímos. Fomos dar uma volta na praça: tavam passando os Cavalieri di Santa Fina, a outra santa padroeira da cidade. Os cavaleiros são esses coloridos e armados de lança, à esquerda na foto, mas mal dá pra ver, eu sei.

Tomamos sorvete de maracujá e chocolate na Piazza della Cisterna, demos uma voltinha rápida por alguns becos e voltamos pra pegar o carro na garagem do hotel, porque elas tinham que estar na villa às três da tarde, pra dar uma geral na casa e ver se a família precisava de alguma coisa.

Chegamos à villa, botamos roupas pra lavar, arrumamos umas telhas pra fazer peso no varal de chão, que senão o vento levava embora, e ficamos batendo papo sentadas nas espreguiçadeiras da piscina. Dali a pouco o Leo liga dizendo que o Salame tinha ligado pra ele reclamando de alguma coisa do carro, mas ele, obviamente, não tinha entendido o que era. Liguei pro Salame (ele, a mulher e cada uma das babás ganhou um celular novo especialmente pra essa viagem) e ele explicou que tinha uma luz esquisita acesa no painel e ele não sabia o que era, e que volta e meia alguma coisa apitava, mas ele também não sabia o que era, porque as mensagens no painel eram, obviamente, em italiano. Como o carro andava sem problemas, concordamos que eu ficaria na villa esperando por ele (como se eu pudesse sair dali, sem carro…) pra tentar descobrir o que era. Uma hora depois eles chegam: o problema era na Renault. Peguei o carro e fui até a cidade mas não piscou nem apitou nada. Voltei e encontrei Ruivona já pronta dentro da Astra, de saída pra um mercadinho pra comprar umas coisinhas pras crianças. Lá fomos nós de novo pra cidade, ao único alimentari aberto, comprar as tais coisinhas: iogurte, manteiga de amendoim (que, obviamente, não tinha), coca-cola, água mineral, brioches, Nutella, manteiga, papel laminado, pregadores, um papel higiênico mais macio do que o que tinha na villa, essas coisas. Levamos horas porque toda hora o Salame ligava pra Ruivona pra adicionar alguma coisa à lista. Finalmente voltamos à villa, e às 8 da noite Ilaria, simpática co-administradora da villa, fez a cortesia de levá-los pra jantar na cidade, já que o Leo tinha ido resolver a vida dele sei lá onde e eu, além de estar a pé, não sabia onde ficava o restaurante. Eu fui jantar com as meninas num outro hotel-restaurante perto do hotel delas. Fiz elas provarem a ribollita, aquela sopa de verduras e leguminosas com pão dentro, típica da Toscana e absolutamente deliciosa, comeram pão com provolone derretido, eu fui de spaghetti com crustáceos, a Ruivona encarou um filé mignon com berinjela, abobrinha, batata e pimentão na grelha, e a Filipinona foi de frango com aspargos. Voltamos todas à villa, onde o Leo tinha acabado de chegar, e dali eu fui dirigindo a Renault atrás dele com a Alfa, porque no final das contas o Salame queria porque queria mudar de carro e a companhia de aluguel fica em Florença, por isso a substituição teria que rolar na manhã seguinte, bem cedo. Leo queria comer; fomos a uma pizzaria, La Taverna del Granducato (Viale Roma, 6. Tel 0577.907049. Falar com o Francesco, que é casado com uma brasileira e fala Português muito bem), onde tive que suportar a companhia do Leo por mais de uma hora enquanto ele atacava umas carnes na brasa com salada. Chegando em casa, tomei um super banho e fui mimir.