Castellina in Chianti

Não sei nada sobre Castellina in Chianti. Foi uma escolha de última hora e não tive tempo de pesquisar. Também não estou com vontade de traduzir o texto do site do Comune, porque é super mal escrito. Quem tiver curiosidade, que vá lá dar uma zoiada.

25 de junho

Acordei cedo e fiquei enrolando na cama, lendo. A mala do Leo bateu na minha porta pra me acordar, apesar deu já ter dito a ele mil vezes que acordo cedo todo dia e não preciso dele como despertador. Troquei de roupa e quando fui à cozinha tomar café dei de cara com ele na janela, de toalha enrolada na cintura, aquela psoríase toda nas costas, nos braços, nas pernas, socorroooooooooooooooooooooo! Sabe AAAAA visão do inferno? Então. Saí correndo pra tomar banho e quando voltei pra finalmente tomar café ele felizmente já estava vestido. Decidi não dar nenhum ataque de pelanca pra não piorar as coisas, mas só pelo susto (e pela falta de respeito total e absoluta) da toalha e da psoríase ele merecia uma panelada na cabeça. Mas tudo bem, tudo bem. O que não se faz por um punhado de euros…

Fomos pro internet point catar uma cantina pros Salames visitarem, depois sentamos nos banquinhos no piazzale logo em frente, enquanto o Leo telefonava tentando marcar uma visita à maldita cantina. Encontramos duas velhas birutérrimas, uma italiana que mora na Inglaterra e uma alemã que já morou lá também mas voltou a viver em Berlim (que ela odeia, diga-se de passagem, hohoho). Falavam sem parar, contando velhas histórias de viagem, mostrando fotos antigas, dando conselhos (“você tem muita cara de árabe, minha filha, assim fica difícil não ser discriminada aqui na Europa”), tirando fotos. Deram uma canseira danada na gente, mas conseguimos escapar depois que o Leo conseguiu convencer uma cantina que ele dizia que era chiquérrima a receber os Salames assim, em cima da hora.

Fomos pra villa meio-dia e de lá pra Volpaia, cidadezinha no Chianti onde fica a tal cantina supostamente famosa, Castello di Volpaia. No final das contas não era nem famosa nem chiquérrima, mas enfim. A menina que explicou o tour era da Calabria e falava um Inglês tão sofrível que eu tinha que retraduzir tudo o que ela dizia. Explicou que toda a cidadezinha de Volpaia pertence à família dona da cantina, que a comprou há algumas gerações. Vimos os pequenos armazéns de vinho e de azeite, ouvimos as explicações sobre a colheita, os tipos de vinho e de azeitona, etcétera e tal, e finalmente começamos a degustação. Até as crianças provaram o vinho, que era realmente muito bom. A calabresa era muito simpática e tinha preparado uma mesa linda, com pão tostado, molhinho de tomate com orégano, pecorino em pedacinhos, pra acompanhar os vinhos. Saí meio zonza porque pra variar estava de estômago vazio, mas contente por ter provado vinhos ótimos que eu nunca teria dinheiro pra comprar.

E dali fomos a Castellina in Chianti. Há várias outras cidades lindas por ali; passamos pelo delicioso centro de Radda in Chianti e vimos placas pra Panzano, onde trabalha a irmã do Mirco no verão. Mas eles cismaram com Castellina, fazer o quê. A cidade é uma gracinha mas fizemos um tour a jato porque as crianças já tavam de saco cheio de ver fortalezas, castelos e coisas velhas. Paramos numa loja de artesanato em papel e madeira e comprei um novo diário, lindo, de capa de couro e folhas cor creme, feito à mão. Não havia nem uma sorveteria decente na cidade, e resolvemos voltar. Um cervo atravessou a estrada na nossa frente, as crianças ficaram doidas!

Os Salames estavam com fome e paramos no Sovestro de novo pra jantar. Sentei à mesa com Michele e Leo, que dividiram um prato de tripa. Eu fiquei só olhando; além de estar sem fome a visão daquela tripa me dava engulhos. Acabei me irritando de novo com o Leo, simplesmente porque eu não gosto de pegar sol e ele acha que não pegar sol, como eu faço (palavras dele), faz mal. Ainda teve a cara-de-pau de dizer que eu sou pálida como um cadáver. Sua mula, eu respondi, aqui na Itália todo mundo acha que eu sou crioula e pergunta de onde veio o meu bronzeado, e você vem dizer que eu sou pálida só pra justificar uma maluquice da tua cabeça? Se liga! Eu não gosto de sol e não fico bem bronzeada, dá licença deu não gostar de sol e achar que não fico bem bronzeada? Fora que é impossível ter uma vida normal e conseguir, ao mesmo tempo, se esconder tanto do sol a ponto de ficar doente, como ele diz. Só de ficar esperando na fila da Rita verdureira na praça eu já metabolizo toda a vitamina D da qual preciso, tá um calor do cacete, o sol brilha inclemente. Putz, que cara chato! Ainda me chamou de cafone, que seria algo como tosca, mal educada, brega, grossa. Nesse ponto não resisti e dei uma risada ENORME. Ele saiu pra fumar, irritadíssimo, e eu comentei com o Michele que pra mim cafone é quem tem psoríase, caspa, mau hálito, junta saliva no canto da boca quando fala, come de boca aberta, fala berrando, mente pros clientes, usa a mesma camisa horrorosa três dias seguidos no verão, passeia de toalha na cintura na frente de uma mulher comprometida com a qual ele não tem a menor intimidade, atrasa pagamentos, faz piadas idiotas, fuma sem pedir licença. Tudo ao mesmo tempo. Michele engasgou de tanto rir.

E assim acabou meu dia.

Castellina in Chianti

Não sei nada sobre Castellina in Chianti. Foi uma escolha de última hora e não tive tempo de pesquisar. Também não estou com vontade de traduzir o texto do site do Comune, porque é super mal escrito. Quem tiver curiosidade, que vá lá dar uma zoiada.

25 de junho

Acordei cedo e fiquei enrolando na cama, lendo. A mala do Leo bateu na minha porta pra me acordar, apesar deu já ter dito a ele mil vezes que acordo cedo todo dia e não preciso dele como despertador. Troquei de roupa e quando fui à cozinha tomar café dei de cara com ele na janela, de toalha enrolada na cintura, aquela psoríase toda nas costas, nos braços, nas pernas, socorroooooooooooooooooooooo! Sabe AAAAA visão do inferno? Então. Saí correndo pra tomar banho e quando voltei pra finalmente tomar café ele felizmente já estava vestido. Decidi não dar nenhum ataque de pelanca pra não piorar as coisas, mas só pelo susto (e pela falta de respeito total e absoluta) da toalha e da psoríase ele merecia uma panelada na cabeça. Mas tudo bem, tudo bem. O que não se faz por um punhado de euros…

Fomos pro internet point catar uma cantina pros Salames visitarem, depois sentamos nos banquinhos no piazzale logo em frente, enquanto o Leo telefonava tentando marcar uma visita à maldita cantina. Encontramos duas velhas birutérrimas, uma italiana que mora na Inglaterra e uma alemã que já morou lá também mas voltou a viver em Berlim (que ela odeia, diga-se de passagem, hohoho). Falavam sem parar, contando velhas histórias de viagem, mostrando fotos antigas, dando conselhos (“você tem muita cara de árabe, minha filha, assim fica difícil não ser discriminada aqui na Europa”), tirando fotos. Deram uma canseira danada na gente, mas conseguimos escapar depois que o Leo conseguiu convencer uma cantina que ele dizia que era chiquérrima a receber os Salames assim, em cima da hora.

Fomos pra villa meio-dia e de lá pra Volpaia, cidadezinha no Chianti onde fica a tal cantina supostamente famosa, Castello di Volpaia. No final das contas não era nem famosa nem chiquérrima, mas enfim. A menina que explicou o tour era da Calabria e falava um Inglês tão sofrível que eu tinha que retraduzir tudo o que ela dizia. Explicou que toda a cidadezinha de Volpaia pertence à família dona da cantina, que a comprou há algumas gerações. Vimos os pequenos armazéns de vinho e de azeite, ouvimos as explicações sobre a colheita, os tipos de vinho e de azeitona, etcétera e tal, e finalmente começamos a degustação. Até as crianças provaram o vinho, que era realmente muito bom. A calabresa era muito simpática e tinha preparado uma mesa linda, com pão tostado, molhinho de tomate com orégano, pecorino em pedacinhos, pra acompanhar os vinhos. Saí meio zonza porque pra variar estava de estômago vazio, mas contente por ter provado vinhos ótimos que eu nunca teria dinheiro pra comprar.

E dali fomos a Castellina in Chianti. Há várias outras cidades lindas por ali; passamos pelo delicioso centro de Radda in Chianti e vimos placas pra Panzano, onde trabalha a irmã do Mirco no verão. Mas eles cismaram com Castellina, fazer o quê. A cidade é uma gracinha mas fizemos um tour a jato porque as crianças já tavam de saco cheio de ver fortalezas, castelos e coisas velhas. Paramos numa loja de artesanato em papel e madeira e comprei um novo diário, lindo, de capa de couro e folhas cor creme, feito à mão. Não havia nem uma sorveteria decente na cidade, e resolvemos voltar. Um cervo atravessou a estrada na nossa frente, as crianças ficaram doidas!

Os Salames estavam com fome e paramos no Sovestro de novo pra jantar. Sentei à mesa com Michele e Leo, que dividiram um prato de tripa. Eu fiquei só olhando; além de estar sem fome a visão daquela tripa me dava engulhos. Acabei me irritando de novo com o Leo, simplesmente porque eu não gosto de pegar sol e ele acha que não pegar sol, como eu faço (palavras dele), faz mal. Ainda teve a cara-de-pau de dizer que eu sou pálida como um cadáver. Sua mula, eu respondi, aqui na Itália todo mundo acha que eu sou crioula e pergunta de onde veio o meu bronzeado, e você vem dizer que eu sou pálida só pra justificar uma maluquice da tua cabeça? Se liga! Eu não gosto de sol e não fico bem bronzeada, dá licença deu não gostar de sol e achar que não fico bem bronzeada? Fora que é impossível ter uma vida normal e conseguir, ao mesmo tempo, se esconder tanto do sol a ponto de ficar doente, como ele diz. Só de ficar esperando na fila da Rita verdureira na praça eu já metabolizo toda a vitamina D da qual preciso, tá um calor do cacete, o sol brilha inclemente. Putz, que cara chato! Ainda me chamou de cafone, que seria algo como tosca, mal educada, brega, grossa. Nesse ponto não resisti e dei uma risada ENORME. Ele saiu pra fumar, irritadíssimo, e eu comentei com o Michele que pra mim cafone é quem tem psoríase, caspa, mau hálito, junta saliva no canto da boca quando fala, come de boca aberta, fala berrando, mente pros clientes, usa a mesma camisa horrorosa três dias seguidos no verão, passeia de toalha na cintura na frente de uma mulher comprometida com a qual ele não tem a menor intimidade, atrasa pagamentos, faz piadas idiotas, fuma sem pedir licença. Tudo ao mesmo tempo. Michele engasgou de tanto rir.

E assim acabou meu dia.