Monte Argentario

O Monte Argentario (algo como Monte de Prata) provavelmente um dia já foi uma ilha, que acabou se ligando à costa tirrênica através das estranhas restingas de Feniglia e Giannella, formadas pelo acúmulo de detritos transportados pelos rios e pelas correntes marinhas. Hoje a região controlada pelo Comune di Monte Argentario inclui as cidadezinhas de Porto Santo Stefano, onde fica a sede principal, e Porto Ercole, que seria uma fração do Comune (assim com Cipresso, onde eu moro, é uma fraçao do Comune di Bastia Umbra).

Sobre Porto Ercole, a única coisa interessante que eu achei no site do Comune é que foi lá que morreu Caravaggio, provavelmente de malaria.

27 de junho

Acordamos cedo e tomamos café da manhã no quarto. Na noite anterior tínhamos visto um treco pendurado na maçaneta; era um pré-pedido de café da manhã, pra gente preencher. Bem cedo um funcionário passa pra recolher, anota os pedidos e no horário selecionado os rapazes te levam a comida. Lindo. Pedimos morangos, pão fresco, torradas, geléias, manteiga, chocolate quente, cereais. Não sobrou quase nada ;)

Fomos diretamente à villa e de lá levamos a mulher do Salame, Morena Simpática e sua filha e mais Salaminha 1 e Blonde Teenager pra passear. As babás ficaram com o resto das crianças e os machos da casa. Leo foi dirigindo a Ulysse e eu a Citroen C3 que ele alugou pra substituir sua Alfa batida. Aliás, que carro ruinzinho de dirigir! O pára-brisas é estranho, tem uma curvatura bizarra que distorce um pouco a visão; o motor dá pena, o carro não anda, o ar condicionado não condiciona nada. Mas tudo bem. Fomos até Porto Santo Stefano, pras meninas fazerem compras nas barraquinhas da feirinha do calçadão. Enquanto esperávamos por elas fui analisando a paisagem.

Eu achei uma bosta. Sabe Rio das Ostras entupida de farofeiros? Carros estacionados em tudo que é lugar, casas velhas e feias, casas velhas e feias que viraram pousadas improvisadas, lojas cafonas, a inevitável molambice que acompanha a vida na praia, trânsito absolutamente impossível, restaurantes com mesas na varanda, onde o pessoal que passa na rua vê você comendo (eu DETESTO esse tipo de restaurante). Gostei não. Um calor desgraçado, um sol que queimava a moleira, e as malucas passeando no calçadão comprando camisetinhas tye-die e colares de plástico.

Voltamos pra villa, e de lá o Leo foi encontrar o Massimo, administrador da villa de S. Gimignano, numa cidadezinha ali perto. Morena Simpática tinha esquecido um saquinho de jóias na outra villa, que a faxineira achou e deu pro Massimo. Eu aproveitei pra encontrar o Paolo, o novo motorista do novo microônibus, que tava esperando em frente à villa porque às 14:30 teríamos que passar lá pra levar o povo pra visitar uma das fortalezas espanholas da cidade e depois Cala Galera, uma marina famosa (eu adorei foi o nome, Cala Galera… Lindo!). Larguei a C3 na garagem da villa, botei minhas malas no ônibus e fomos até o centro da cidade, à casa onde iríamos dormir.

O lance era o seguinte: a senhora Teresa, viúva, mora num grande apartamento no centro de Porto Ercole com uma mãe solteira e seu filho adolescente, que pagam aluguel, e aluga os outros dois quartos do apartamento a turistas, no verão. O prédio cheira a mofo e o elevador é dos anos 50, daqueles que tem portas duplas que você tem que abrir e fechar manualmente. Então é assim, ó: eu e Paolo ficamos hospedados na casa de uma velha que não conhecíamos, num apartamento cheio de coisas velhas, santinhos e flores secas na parede, e dividindo um banheiro. Pelo menos o Paolo é super educado, a senhora Teresa é simpática e me deixou usar a geladeira dela. Nos quartos tem televisão e a cama é de casal, os travesseiros são confortáveis, não bate sol da tarde e por isso dormi fresquinha.

Descansamos até a hora de sair, e às 14:30 lá estávamos nós na villa. Só que ninguém queria sair da piscina, e mandaram a gente voltar às 17:30, pra dar uma volta em Porto Ercole (dispensaram as fortalezas e Cala Galera porque tava quente demais). Voltamos pra casa da senhora Teresa. Vi Charmed, dormi um pouquinho, comi um sanduíche e voltamos pra villa. Dessa vez todo mundo tava prontinho pra sair, e fomos pro centro. Paolo estacionou lá nos cafundós do Judas e Leo veio nos encontrar. Quis dar umas voltas antes de ir pegar o pessoal, e fomos a Cala Galera, que não tem nada de mais, é só uma marina chique. Depois paramos no centro. Ele foi comer pizza num lugar chamado El Merendero (Viale Caravaggio, 61 – 329.5656786 – é um número de celular). Deixei-o lá comendo de boca aberta e subi a pé até a parte antiga da cidade.

Não tem nada de particular, só meia dúzia de casas em vielas apertadas e uma praça bobinha, mas uma vista estupenda.

Vi uma escadaria e fui subindo, até dar de cara com umas velhinhas sentadas em cadeiras, do lado de fora de uma casa. Perguntei onde terminava a escadaria, e elas disseram que ia até uma das fortalezas, e que era uma bela subida mas a vista compensava. Respirei fundo e continuei subindo, ora degraus, ora ladeira, ora trilha no meio do mato. De vez em quando via um pedaço de mar azul entre as plantas espinhudas, que arranharam meus braços várias vezes durante o percurso. E no fim da trilha eu vi…

…eu vi uma menina que estava sentada na pedra, tirando as sobrancelhas. Com ela, uma dálmata e um vira-lata chato, Aldo, que pentelhava a dálmata sem parar. A vista era de tirar o pouco fôlego que tinha sobrado depois da subida pesada. A outra fortaleza na colina oposta, os barcos lá embaixo no cais, a avenida à beira-mar, os Salames tomando sorvete sentados em bancos na avenida, o microônibus azul do Paolo manobrando lá longe… E ao meu lado a menina que tirava a sobrancelha. Achei surreal demais e resolvi ir embora. No caminho parei pra conversar com as velhinhas sentadas fora de casa, que contaram que na cidade velha, no inverno, só ficam 30 habitantes. O resto da população é formado por romanos que têm casa de veraneio lá e só aparecem 3 meses por ano.

Desci novamente à cidade nova e Leo me deixou em casa. Tomei banho, vi um pouco de televisão e às nove fui a pé até o calçadão, pra encontrar os Salames que saíam do restaurante onde o Leo os tinha levado pra jantar. Dizem que comeram muito bem, mas como os donos são antipáticos não vou dar o endereço. Eles ainda foram tomar sorvete, depois levamos todo mundo pra casa de ônibus enquanto o Leo se mandou de novo, e fui fazer companhia ao Paolo, que tava com fome e queria uma pizza. Fomos parar no Merendero de novo. O Massimo, dono do lugar, é bonitão e super simpático. Diz o Paolo que a pizza é ótima. Não sei, não comi nada.

Quando voltamos e fomos estacionar o ônibus num terreno baldio no fim da rua, damos de cara com um bando de javalis que passeavam entre os carros estacionados ao pé da colina! Levei um susto danado, era a última coisa que eu esperava encontrar ali, a dois metros do centro nervoso de Porto Ercole. Depois descobrimos que o padeiro todo dia passava ali à mesma hora pra dar restos de pão e cascas de frutas pros javalis, que, não sendo bobos nem nada, todo santo dia descem pontualmente do bosque na colina pra jantar.

Esse dia surreal me cansou. Voltei pra casa e chapei.

Monte Argentario

O Monte Argentario (algo como Monte de Prata) provavelmente um dia já foi uma ilha, que acabou se ligando à costa tirrênica através das estranhas restingas de Feniglia e Giannella, formadas pelo acúmulo de detritos transportados pelos rios e pelas correntes marinhas. Hoje a região controlada pelo Comune di Monte Argentario inclui as cidadezinhas de Porto Santo Stefano, onde fica a sede principal, e Porto Ercole, que seria uma fração do Comune (assim com Cipresso, onde eu moro, é uma fraçao do Comune di Bastia Umbra).

Sobre Porto Ercole, a única coisa interessante que eu achei no site do Comune é que foi lá que morreu Caravaggio, provavelmente de malaria.

27 de junho

Acordamos cedo e tomamos café da manhã no quarto. Na noite anterior tínhamos visto um treco pendurado na maçaneta; era um pré-pedido de café da manhã, pra gente preencher. Bem cedo um funcionário passa pra recolher, anota os pedidos e no horário selecionado os rapazes te levam a comida. Lindo. Pedimos morangos, pão fresco, torradas, geléias, manteiga, chocolate quente, cereais. Não sobrou quase nada ;)

Fomos diretamente à villa e de lá levamos a mulher do Salame, Morena Simpática e sua filha e mais Salaminha 1 e Blonde Teenager pra passear. As babás ficaram com o resto das crianças e os machos da casa. Leo foi dirigindo a Ulysse e eu a Citroen C3 que ele alugou pra substituir sua Alfa batida. Aliás, que carro ruinzinho de dirigir! O pára-brisas é estranho, tem uma curvatura bizarra que distorce um pouco a visão; o motor dá pena, o carro não anda, o ar condicionado não condiciona nada. Mas tudo bem. Fomos até Porto Santo Stefano, pras meninas fazerem compras nas barraquinhas da feirinha do calçadão. Enquanto esperávamos por elas fui analisando a paisagem.

Eu achei uma bosta. Sabe Rio das Ostras entupida de farofeiros? Carros estacionados em tudo que é lugar, casas velhas e feias, casas velhas e feias que viraram pousadas improvisadas, lojas cafonas, a inevitável molambice que acompanha a vida na praia, trânsito absolutamente impossível, restaurantes com mesas na varanda, onde o pessoal que passa na rua vê você comendo (eu DETESTO esse tipo de restaurante). Gostei não. Um calor desgraçado, um sol que queimava a moleira, e as malucas passeando no calçadão comprando camisetinhas tye-die e colares de plástico.

Voltamos pra villa, e de lá o Leo foi encontrar o Massimo, administrador da villa de S. Gimignano, numa cidadezinha ali perto. Morena Simpática tinha esquecido um saquinho de jóias na outra villa, que a faxineira achou e deu pro Massimo. Eu aproveitei pra encontrar o Paolo, o novo motorista do novo microônibus, que tava esperando em frente à villa porque às 14:30 teríamos que passar lá pra levar o povo pra visitar uma das fortalezas espanholas da cidade e depois Cala Galera, uma marina famosa (eu adorei foi o nome, Cala Galera… Lindo!). Larguei a C3 na garagem da villa, botei minhas malas no ônibus e fomos até o centro da cidade, à casa onde iríamos dormir.

O lance era o seguinte: a senhora Teresa, viúva, mora num grande apartamento no centro de Porto Ercole com uma mãe solteira e seu filho adolescente, que pagam aluguel, e aluga os outros dois quartos do apartamento a turistas, no verão. O prédio cheira a mofo e o elevador é dos anos 50, daqueles que tem portas duplas que você tem que abrir e fechar manualmente. Então é assim, ó: eu e Paolo ficamos hospedados na casa de uma velha que não conhecíamos, num apartamento cheio de coisas velhas, santinhos e flores secas na parede, e dividindo um banheiro. Pelo menos o Paolo é super educado, a senhora Teresa é simpática e me deixou usar a geladeira dela. Nos quartos tem televisão e a cama é de casal, os travesseiros são confortáveis, não bate sol da tarde e por isso dormi fresquinha.

Descansamos até a hora de sair, e às 14:30 lá estávamos nós na villa. Só que ninguém queria sair da piscina, e mandaram a gente voltar às 17:30, pra dar uma volta em Porto Ercole (dispensaram as fortalezas e Cala Galera porque tava quente demais). Voltamos pra casa da senhora Teresa. Vi Charmed, dormi um pouquinho, comi um sanduíche e voltamos pra villa. Dessa vez todo mundo tava prontinho pra sair, e fomos pro centro. Paolo estacionou lá nos cafundós do Judas e Leo veio nos encontrar. Quis dar umas voltas antes de ir pegar o pessoal, e fomos a Cala Galera, que não tem nada de mais, é só uma marina chique. Depois paramos no centro. Ele foi comer pizza num lugar chamado El Merendero (Viale Caravaggio, 61 – 329.5656786 – é um número de celular). Deixei-o lá comendo de boca aberta e subi a pé até a parte antiga da cidade.

Não tem nada de particular, só meia dúzia de casas em vielas apertadas e uma praça bobinha, mas uma vista estupenda.

Vi uma escadaria e fui subindo, até dar de cara com umas velhinhas sentadas em cadeiras, do lado de fora de uma casa. Perguntei onde terminava a escadaria, e elas disseram que ia até uma das fortalezas, e que era uma bela subida mas a vista compensava. Respirei fundo e continuei subindo, ora degraus, ora ladeira, ora trilha no meio do mato. De vez em quando via um pedaço de mar azul entre as plantas espinhudas, que arranharam meus braços várias vezes durante o percurso. E no fim da trilha eu vi…

…eu vi uma menina que estava sentada na pedra, tirando as sobrancelhas. Com ela, uma dálmata e um vira-lata chato, Aldo, que pentelhava a dálmata sem parar. A vista era de tirar o pouco fôlego que tinha sobrado depois da subida pesada. A outra fortaleza na colina oposta, os barcos lá embaixo no cais, a avenida à beira-mar, os Salames tomando sorvete sentados em bancos na avenida, o microônibus azul do Paolo manobrando lá longe… E ao meu lado a menina que tirava a sobrancelha. Achei surreal demais e resolvi ir embora. No caminho parei pra conversar com as velhinhas sentadas fora de casa, que contaram que na cidade velha, no inverno, só ficam 30 habitantes. O resto da população é formado por romanos que têm casa de veraneio lá e só aparecem 3 meses por ano.

Desci novamente à cidade nova e Leo me deixou em casa. Tomei banho, vi um pouco de televisão e às nove fui a pé até o calçadão, pra encontrar os Salames que saíam do restaurante onde o Leo os tinha levado pra jantar. Dizem que comeram muito bem, mas como os donos são antipáticos não vou dar o endereço. Eles ainda foram tomar sorvete, depois levamos todo mundo pra casa de ônibus enquanto o Leo se mandou de novo, e fui fazer companhia ao Paolo, que tava com fome e queria uma pizza. Fomos parar no Merendero de novo. O Massimo, dono do lugar, é bonitão e super simpático. Diz o Paolo que a pizza é ótima. Não sei, não comi nada.

Quando voltamos e fomos estacionar o ônibus num terreno baldio no fim da rua, damos de cara com um bando de javalis que passeavam entre os carros estacionados ao pé da colina! Levei um susto danado, era a última coisa que eu esperava encontrar ali, a dois metros do centro nervoso de Porto Ercole. Depois descobrimos que o padeiro todo dia passava ali à mesma hora pra dar restos de pão e cascas de frutas pros javalis, que, não sendo bobos nem nada, todo santo dia descem pontualmente do bosque na colina pra jantar.

Esse dia surreal me cansou. Voltei pra casa e chapei.