O assunto da semana aqui em Tonga é a talvez futura possibilidade da mãe poder passar o sobrenome aos filhos. Pois é, vejam que país avançadão que eu fui escolher pra morar. Aqui só o sobrenome dos pais passa adiante. Todo mundo é filho de pai solteiro hohoho Não, sério, sempre achei muito esquisita essa história, pra não falar de discriminatória. Catálogo telefônico é um outro mundo aqui. Adoro catálogos telefônicos, me divirto horrores não só com os sobrenomes bizarros, mas também com as relações familiares facilmente detectáveis, principalmente aqui, nas cidades pequenas.
Por exemplo: se eu procuro uma Tizia Rossi (traduzindo literalmente, Fulana da Silva) no Comune di Assisi, só vou achar o nome dela se ela morar sozinha, coisa pouco provável. Normalmente telefone, como todas os outros bens, ficam no nome do marido. Nesse caso é mais fácil perguntar a alguém do lugar com quem ela é casada, e procurar pelo sobrenome do marido. Ou então procurar outro Rossi que more na mesma rua. Muito provavelmente vai ser o pai ou um irmão, já que familiares tendem a arrumar casa pra morar na mesma rua do resto da família, e de preferência no mesmo terreno. É incrivelmente comum por aqui um filho construir um andar a mais na casa dos pais pra ir morar depois que casar. Ou então construir outra casa no mesmo terreno. Ou construir casas chamadas “plurifamiliari”, ou seja, que abrigam várias famílias como se fosse um edifício de apartamentos de dimensões reduzidas, com no máximo quatro famílias. Dá pros pais, pros dois filhos depois que casarem, e pra família de um dos irmãos dos pais.
Mas então, o assunto da semana é o projeto de lei, ainda não aprovado, que fala da possibilidade da mãe poder, finalmente, passar seu sobrenome aos filhos. Os debates são animadíssimos, o que me faz dar altas gargalhadas. A vida aqui na Itália meio que se resume à frase rir pra não chorar. Acho tristíssimo que um país relativamente desenvolvido tenha chegado aos anos 2000 com essa discriminação ridícula, não importa a antiguidade desse costume. Os tempos mudam e o fato de que eles levem taaaaanto tempo pra assimilar novos costumes, mesmo que melhores do que os velhos costumes, às vezes me entristece, às vezes me diverte. Acho engraçadíssimo é que todo mundo esteja levando tão a sério a coisa da tradição, dos hábitos milenares, etcetera e tal. Eu sou a primeira a levantar o bracinho quando perguntam, tradição é uma coisa legal? Eu acho superlegal, acho que tem mais é que preservar mesmo, mas, por favor, né, só quando tem sentido. Tem sentido um sobrenome desaparecer se todas as filhas de uma geração forem mulheres? É o caso da Martinha, por exemplo, que trabalhou comigo no escritório do Chefe Idiota, lembram? Ela e a irmã são as únicas filhas dos pais delas. Quando casarem, os filhos delas terão só os sobrenomes dos maridos delas. O pai delas é filho único. Ou seja, o sobrenome delas vai deixar de existir. Não é só ridículo, é uma falta de respeito também. Pô, a mulher tem metade da culpa da criança existir, aturou aquela barriga por nove meses, pariu pariu, gente, parto não é uma coisinha à toa não, né e não tem direito a pôr a assinatura dela na obra-prima? Poupem-me.
Quero só ver quanto tempo vão levar pra aprovar essa lei.