voltou (a vontade de escrever)

O scooter.

Sábado Mirco interrompeu minha conversa com a Hunka no MSN mandando eu descer que iríamos juntos até a oficina, eu pegaria o scooter e voltaria pra casa já devidamente motorizada. Fui, né.

Meu Zip é realmente uma gracinha, como vocês podem ver na foto abaixo. O problema é que eu não tenho a menor intimidade com ele ainda e morro de vergonha de parecer uma retardada montada numa máquina que tem vontade própria. Claro que ninguém nem olha pra mim na rua; há zilhões de outros scooters pela cidade, das mais variadas idades e dos mais diversos estados de conservação. Muitos são pilotados por velhinhas de saia comprida, meia-calça cor da pele e salto. Muitos outros por extra-comunitários. Mais outros ainda por adolescentes de blusinha de alça e mini-saia, ou de óculos escuros estilo vespão, camiseta mamãe-sou-forte e calça jeans D&G. Ninguém olha pra mim no meu Zip, mas eu me sinto breguérrima.

O capacete é de ótima qualidade e protege o queixo também, coisa pouco comum pra quem anda de scooter. Só que 1) amarfanha a minha juba, 2) espreme as orelhas, de modo que não posso usar brinco quando piloto, 3) quando dá coceira no nariz tenho que encostar, abrir o visor e coçar, 4) faz um calor desgraçado lá dentro, e 5) eu fico A CARA do Ultraman. Só falta o uniforme colante com o zíper aparecendo nas costas.

Desnecessário dizer que quem pedir foto minha de Ultraman montada no Ultrascooter vai levar porrada, já vou logo avisando.

Ainda não aprendi direito a regular o acelerador. Dou cada arrancada monstruosa e às vezes tenho que tocar o pé no chão pra me equilibrar. Não consigo desacelerar devagarinho. Tenho que lembrar de usar o freio da mão esquerda, que é o freio de trás, pra não sair voando à frente do scooter se usar o da direita, da roda anterior. Se relaxar a mão direita do acelerador, o scooter perde velocidade, obviamente.

O mecânico que deu uma ajeitada no scooter botou um barulho piiiii piiiiiiii piiiiiiii quando eu ligo a seta, senão correria o risco de deixá-la acesa eternamente, já que não fica à mão, como num carro, nem desliga automaticamente depois da curva. Só que o barulho é muito alto, e igual ao que fazem os ônibus quando a marcha a ré está engatada, e quando paro no sinal com a seta ligada o pessoal dos carros em torno fica procurando a fonte do barulho. Nessas horas eu acho ótimo estar de Ultraman, irreconhecível.

A coisa mais estranha é que você fica se achando aaaaaa poderosa, como qualquer ciclista que pode passar com a magrela entre os carros e se enfiar em qualquer buraco e fazer qualquer manobra bizarra, bastando apoiar os pés no chão se vir que a coisa ficou preta. Só que não é bem assim: por menor que seja o scooter, ele é pesado, e não basta a pontinha do pé no chão quando se pára no sinal (ou pra esperar o trem passar). Não dá pra ir me enfiando entre os carros (ainda), porque ainda não entendi direito as medidas do Zip, não aprendi direito a calcular as consequências do deslocamento do seu peso pra um lado e pro outro. Sei que isso vai vir com o tempo, oras, se meninos e meninas de 14 anos pilotam esses trecos, não sou eu que não vou ser capaz. Mas essa mistura de sensação de liberdade, que é DELICIOSA, e o medo de estar tão exposta ao chão em caso de queda e tão perto dos outros veículos na rua é muito bizarra.

No sábado eu fui até o centro de Torgiano botar gasolina (4 € o tanque cheio, e faz 130 km. MA-RA-VI-LHA) e depois fui dar uma volta por lá mesmo (na verdade errei a direção no cruzamento mas vamos fingir que foi uma coisa voluntária). Voltei pra casa felizona, e no retão de Cipresso meu pobre scooterzinho tabajara fez 70 km/h numa boa, e contra o vento! Domingo não levei o coitado pra passear, mas agora à tarde fui a S. Maria fazer cópias da chave e pagar o seguro, e apesar da atolação foi muito agradável. Por enquanto ainda dá medinho, mas quando ele estiver devidamente domesticado, ninguém me segura. Vou virar centaura.