Queríamos ver o mercado de rua no Jardin des Plantes, na Rue Mouffetard. Descemos na estação Monge e voilà!, provavelmente o mercado também estava de férias, como, aliás, metade das lojas de Paris, porque não tinha nada. Fomos andando, andando, andando, eu mancando, mancando, mancando, e fomos parar no Quartier Latin. Entre os bairros de Jardin des Plantes e Quartier Latin fica o Institut du Monde Arabe (1 rue des Fossés-Saint-Bernard – Place Mohammed V), que eu nem sabia que existia mas o Mirco já conhecia, pelo menos de fora, e tinha passado a manhã toda martelando meus ouvidos pra gente ir ver de perto.
Olha, é inacreditável. Simplesmente um dos edifícios mais lindos que eu já vi na minha vida e olha que eu não sou muito chegada a coisas modernosas. A fachada sul é formada por 1600 painéis de metal de alta tecnologia, que filtram a luz que entra no prédio. São inspirados nos moucharabiyahs, telas de madeira entalhada que se usam no exterior de edifícios desde o Marrocos até o sudeste asiático (fonte: Le Guide Mondadori Parigi). O acervo do museu também é lindo, com peças interessantíssimas de todo o mundo árabe. Meu pai e meu avô teriam crises histéricas lá dentro (meu bisavô era sírio).
Saindo dali fomos dar umas voltas. O tempo estava legal, mas soprava um vento estranho. Atravessamos a Ile-St-Louis, ali do lado, onde ouvi um Tico-Tico no Fubá tocado no violino por um velhinho numa ponte, e a Ile de la Cité, passamos pela Pont Neuf e caímos em Saint-Germain-des-Près.
É um bairro muito legal, cheio de lojas fofas e livrarias maneiras, felizmente todas fechadas porque senão teria sido uma frustração só, já que não tenho um tostão pra gastar. Acabamos almoçando por lá mesmo, num restaurantezinho bonitinho chamado Séraphin (5 rue Mabillon), cujo único defeito era a insuportável música dominicana tocando sem parar. Novamente levamos horas pra achar algo decente no menu. Eu fui de salada com filé de frango, que veio linda no prato, estilo morrinho, com tiras de peito de frango estendidas no sentido da altura. Claro que já veio cheia de molhos estranhos. Pra mim, que só como salada sem nada, nem azeite, nem sal, foi meio suplício, mas comi tudo. Mirco pediu umas coisas que nem eu lembro, e que não mataram sua fome mas deram pro gasto. Estávamos cansados de tanto bater perna e pensamos em ir ao cinema, mas o Mirco tava morrendo de sono e queria ir dormir num banco de praça. Só que lá pro final do almoço desabou um toró horroroso, e achamos melhor voltar pro albergue. No caminho paramos pra ver a igreja de Saint-Germain-des-Près, a mais antiga de Paris, e bem do jeito que eu gosto: velhona por fora e pelada por dentro (foto acima). Tivemos que nos abrigar debaixo da marquise de uma banca de jornal pra esperar a chuva passar, depois pegamos o metrô e voltamos. Eu tomei meu banho e fui dar uma descansada com o pé pra cima; Mirco e Alessandro foram ao supermercado comprar cerveja e coisas pro jantar. O Miguel, aquele cardiologista argentino que tínhamos conhecido dois dias antes, tinha combinado de voltar do trabalho às nove da noite e de jantar com a gente, e foi pontualíssimo. Depois de comer ficamos batendo papo até tarde da noite. Foi muito agradável, ele é um cara muito educado e interessante, e o Alessandro também é gente boa. Pena que o Miguel vai embora amanhã.