Sexta-feira fomos jantar com um casal de amigos num restaurante em Foligno. O nome do lugar é Sparafucile (sparare = disparar, fucile = fuzil) e quem comanda o batatal é um bigodudo grisalho. O lugar é dividido em dois ambientes: a microscópica cozinha, do lado da gelateria, e, dois números depois, ou seja, depois de uma loja de roupas e de uma agência de viagens, a sala microscópica, com somente três mesas. No verão eles colocam mesas na pracinha em frente. No inverno o bigodudo e o garçom extra (no nosso caso era um cara muito lento que passou a noite inteira levando esporro do Bigode) saem da cozinha com os pratos na mão e têm que atravessar a praça correndo pra comida não esfriar durante o curto percurso até a sala de jantar.
Tem mais: o menu é único e você não sabe qual é. Você chega, diz o seu nome (tem que ter feito reserva antes senão não consegue mesa), o Bigode te indica a mesa, você senta e ele começa a te servir. Você não tem a mais remota idéia do que está por vir até o Bigode sair da cozinha com uma panela na mão, apoiá-la sobre um BARRIL e começar a colocar comida nos pratos. Mas pode ser que mais tarde ele mude de idéia e resolva mudar de prato, por isso os gnocchi que você viu o Bigode servindo a outros clientes enquanto você ainda estava no antipasto podem nunca chegar à sua mesa, e ser substituídos por uma outra coisa qualquer. Não é uma comédia esse sistema?
No nosso caso o antipasto tinha dois tipos de queijo, uma fatia de prosciutto crudo, uma fatia de melão (que dispensei), um figo aberto em flor (que o Mirco traçou), uma porção de panzanella (receita local clássica, originariamente um mero reaproveitamento de restos pra fazer salada: uma folha qualquer, tomate, pepino e pão velho molhado no vinagre. Só de ver tenho vontade de vomitar, mas neguinho aqui, e os turistas também, A-DO-RAM), um tomate recheado (que o Mirco comeu). Comemos dois primi: os gnocchi com tomate fresco e manjericão, muito gostosos, depois um risoto de frutos do mar, que não estava lá essas coisas. De secondo tivemos a oportunidade de escolher: todo mundo foi de tagliata, que seria uma carne duríssima grelhada, fatiada e que vem numa caminha de rúcola e regada com vinagre balsâmico; eu, que odeio carne dura, rúcola e principalmente vinagre, fui de filé grelhado mesmo, com saladinha. Duas garrafas de água mineral. Uma garrafa de vinho branco durante os primi, e uma de tinto do Lago Trasimeno com a carne. Ambos os vinhos escolhidos pelo Bigode, claro. De sobremesa, petit gateaux com sorvete de creme (que o Mirco repetiu), uma taça de Marsala, depois café, e o Bigode ainda ofereceu uma dose de whisky no final. Tudo isso por 23/cabeça. Nada mal, jacaré.