Apesar da maldita enxaqueca de ontem, tínhamos convidado um casal de amigos pra jantar, então não dava pra desmarcar em cima da hora. Eram o Mario Belli, um dos gêmeos da família proprietária da floricultura mais conhecida de Santa Maria, e a noiva, cujo nome esqueci, uma siciliana bonitinha que já foi cabeleireira e agora é caixa na Metro, tipo o Makro aqui da Europa. Eles são meio devagar quase parando, especialmente o outro gêmeo, o Carlo, que frequenta frades e coisas do gênero, mas são gente muito boa. E a primeira viagem do Mirco à Austrália foi com eles, então motivo pra conversar não falta.
Como passei a manhã de ontem em casa, antes da dor de cabeça atacar com todo o seu esplendor, cozinhei com muita calma, deixando tudo mais ou menos pronto pro jantar. Fiz crepes com recheio de verdura, lombinho no leite, batatas gratinadas tabajara e quadradinhos de laranja.
As crepes nada mais são do que panquecas finiiiiinhas. Fiz duas por pessoa: uma com recheio de brócolis e cebola cozida no molho shoyu, a outra com cenoura, alho-poró e abobrinha ralados e cozidinhos no azeite, com um pouco de ricota pra tirar aquele gosto de grama. O lombinho foi todo furado, e em cada buraco coloquei um pedacinho de alho e umas folhinhas de alecrim; também juntei umas folhas de sálvia, pimenta-do-reino e sal grosso, e cozinhei no leite (receita da cunhada). Ficou até gostoso, mas eu acho moooooooooito melhor quando a carne é cozida no vinho. Oooooutros 500. O líquido que sobrou na panela eu triturei com o mixer e servi como um molhinho bem grosso, pra dar uma molhadinha na carne, porque lombinho é uma carne naturalmente seca, como o peru. As batatas eu cortei em rodelas e assei no forno com pouca água e um tiquinho de leite, e no final joguei um parmesão por cima, mas sem exagerar, porque a noiva do Mario é alérgica a queijo. E os quadradinhos de laranja são aqueles fáceis de fazer e que todo mundo adora.
Eu ganhei uma planta linda, que esqueci de perguntar o que era mas tem toda a pinta de bromélia. Conversamos bastante e nos divertimos, mas não dava pra esquecer as facadas atrás do olho. Eles foram embora depois da meia-noite, quando eu já tava querendo estrangular o Mirco, que usa qualquer coisa, por mais insignificante que seja, entrar no assunto viagens já feitas ou ainda em planejamento, e não pára nunca de falar. A coitada da garota querendo ir embora dormir, eu em vias de botar a cabeça dentro do congelador pra ver se a dor melhorava, e os dois falando daquela multa que levaram sei lá onde, lembra? E o Fulano, que dava em cima daquela francesa em Brisbane? E aquele albergue em Nova York, lembra? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH!
Dormi como uma pedra e hoje acordei melhor. Mas como ontem de manhã eu também tava bem e depois piorei, vou é ficar quietinha hoje, vou dar minha aulinha e voltar correndo pra casa antes que escureça, porque eu já sou fotofóbica normalmente, mas com enxaqueca assim não enxergo N-A-D-A na estrada. Que não é iluminada, porque passa entre os campos cultivados de Torgiano, não há quase ninguém morando às margens da estrada. A concentração pra não sair da pista e os faróis dos outros carros não ajudam a enxaqueca a ir embora, muito pelo contrário.
Ai, ai.