O dia amanheceu estranhamente limpo. Mirco saiu cedo pro trabalho, eu dei uma ajeitada rápida na casa e resolvi ir a pé a Bastia comprar umas coisas pra oficina, em vez de pegar o carro. Dei uma bela caminhada: 40 minutos a pé, debaixo de um estranho sol de novembro, de moletom e camisa de manga comprida, ouvindo Elvis no mp3 player, fazendo muito esforço pra não sair pulando pela rua. O céu azulziiiiiiiiiiinho, só o Subasio coberto de nuvens, coitado. Mais 40 minutos pra voltar, terminei de ler a última parte de The Belgariad, fiz faxina, deixei o almoço engatilhado e fiquei vendo TV, esperando o Mirco pra almoçar. Ele chegou às quatro da tarde, comemos rapidinho e fomos dar uma volta no GranCasa, em Spello, tipo uma superloja de coisas pra casa, acampamento, escritório, material de limpeza, caixas de correios, essas coisas. Depois fomos pegar Mario Belli e a noiva siciliana, cujo nome descobrimos ser Maria Rita. Jantamos no chinês em Foligno com toda a intenção de ir ver The Manchurian Candidate depois, mas engatamos no papo e quando vimos já tínhamos perdido a última sessão.
Na volta Mirco teve um desejo de tomar sorvete e paramos no bar de um amigo do Mario, em uma fração de Foligno. Quando saímos o vento já soprava forte e a grama dos campos em frente ao estacionamento do bar estava completamente na horizontal, e os galhos das jovens árvores ao redor balançavam loucamente. Na estrada, o vento sacudia o carro e jogava nuvens de folhas secas na nossa frente. Deixamos os dois em casa, em Santa Maria, e voltamos pra casa. Uma quantidade de coisa voando na rua impressionante; folhas, galhos, papel, sacolas plásticas, e, surprise, surprise, uma cadeira de plástico no estacionamento em frente ao nosso prédio, onde deixo o meu carro. Não sei de qual varanda a cadeira voou, mas espero que não tenha sido em cima do meu carro. Estacionamos na garagem e subimos correndo pra ver se tinha voado alguma coisa de nosso lá embaixo também. Meu vaso gigante de ficus estava tombado, o varal da varanda se desmontou e caiu. Começamos a botar tudo dentro de casa, todas as plantas, a mesa de plástico, o varal desmontado. Lembramos da tromba d’aria (o que seria isso? Rajada de vento? Pé-de-vento?) que rolou essa semana numa cidade da Calabria, que chegou a virar ônibus e o escambau. Do ralo do bidê subia um barulho impressionante do vento nos canos.
Mesmo assim, sabe-se lá como, dormi feito uma pedra.