ora, pois

Vocês já devem ter lido o Alexandre. E, se não leram, não sabem o que estão perdendo. Ele erra um pouco nos porquês, mas é autor de alguns dos textos mais racionais e sensatos que eu já li na minha vida.

Pois esse post aqui é sobre tratar cachorro como gente. Se tem um coisa da qual me orgulho é de tratar meu cachorro como cachorro. Um cachorro espetacular, é claro, que usa gorro, capacete e anda de caminhão, mas um cachorro. Leguinho NUNCA subiu em sofá nem cama, nunca dormiu comigo, não lambe a minha cara, quando lhe dou um olhar 43 ele entende e fica quietinho no canto dele, pára de apitar os brinquedinhos e de encher o saco. Veja bem, em momento nenhum eu disse que ele é SÓ um cachorro. Um animal é um animal, não é SÓ um animal – quem me conhece sabe que eu não pensaria duas vezes antes de salvar uma borboleta em vez de um ser humano que me enche o saco continuamente, por exemplo. Mas o fato é que o bicho continua sendo bicho, e não gente.

Tenho absoluto pavor de quem trata bicho como gente. De gente que se deixa tiranizar pelo bicho de estimação. É como quem se deixa tiranizar pelos filhos pequenos. Quequeísso, minha gente? Cada macaco no seu galho, né. Se eu sou gente grande e, pelo menos teoricamente, já que idade não é necessariamente sinônimo de sapiência, entendo mais da vida do que meus filhos e meu cachorro, é mais do que óbvio que quem manda no galinheiro sou eu. Uma vez tive uma longa discussão com a Carmen, a menina que trabalhava comigo na loja do Fabrizio, o Louco, sobre esse assunto. Ela tem uma fêmea de pastor alemão que fica presa num espaço minúsculo do quintal, mas sai bastante pra passear. É compreensível que a cachorra se assanhe toda quando sai de casa, mas é absolutamente inaceitável que ela arraste os donos pela rua e a única coisa que eles saibam dizer a respeito seja “mas é que ela fica puxando com força…”. É a mesma coisa com meus sogros, que são dois amores mas completamente retardadados, e os quatro cachorros. Virgola, a aleijadinha, é gorda feito um boi, e mesmo assim Ettore continua a dar-lhe toucinho, doces, salame. Quando eu digo que ela não deveria estar comendo essas coisas, ele responde: ah, mas ela pede…! Cacetes estrelados, mas se você não tem autoridade* nem com o seu próprio cachorro, a coisa tá feia pro seu lado. Tenho uma profunda falta de respeito por esse tipo de gente. E olha que eu adoro bicho, sofri pra burro durante aquele período em que fiquei aqui sem o Leguinho, gastei uma grana pagando a Carol enquanto ela tomou conta dele e outra grana preta pra trazê-lo pra cá. Fiquei torcendo pra acharem a coitada da Pipoca, gata que eu cansei de ver quando descia a Gastão pra correr na Lagoa quando ainda morava no Rio. Não aguento ver bicho sofrendo nem em filme sem começar a chorar. Mas tudo tem limite nessa vida, né, gente. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Please.

* Quando digo autoridade, não estou falando de gritar REX! como um sargento alemão e ver seu cachorro sentar, rolar, fingir de morto, chupar cana e assobiar, como um robô programado. Estou falando de não permitir que o bicho assuma o controle da sua vida. Ter um animal de estimação muda a sua vida, e como, mas não há que se perder o controle, jamé. Estou falando da autoridade que não é aquela do pai severo, mas a do pai que se faz respeitar pelas atitudes sensatas, racionais, quando possível, equilibradas. Entendem o que eu quero dizer?