uhuuuuu

Tivemos uma soirée animaaaaal ontem. Metemos o pé na jaca. Detonamos geral. Abalamos Bangu.

I lie.

A APM, a companhia perugina de transportes, patrocina os jogos de vôlei da liga nacional, e os funcionários têm direito a ingressos pros jogos. Moreno tinha dois sobrando, ofereceu, de graça, né, nóis aceitou e nóis foi.

Foi no Palasport Evangelisti, o mesmo onde rolou o show do Biaggio Antonacci há um tempinho atrás. Conseguimos estacionar tranquilamente e atravessamos o estacionamento tabajara, de terra batida e esburacado, sem maiores problemas. Tava frio, mas nada do outro mundo. Lá de fora ouvíamos alguém berrando algo num alto-falante, e um barulho de torcida fazendo êeeeeeeeee. Na entrada, um estande oferecia cupons dando desconto na compra de produtos de beleza pra homens na cadeia de lojas de cosméticos mais in aqui da zona. Um montinho de gente se amontoava numa pseudo-fila em frente ao estande onde distribuíam-se os ingressos pra convidados – o nosso caso. O nome do Moreno tava na lista, pegamos os bilhetes e entramos.

Não sabíamos quem estava jogando contra o Perugia Volley, dono da casa, e não havia nada escrito nem no ingresso, nem em nenhum lugar do estádio. Sabíamos que era uma partida relativamente importante, série A, transmitida excrusive pela TV a cabo, canal de esportes. O estádio não estava nem remotamente cheio, então sentamos em qualquer lugar mesmo, perto da quadra. E comecei a observar o ambiente, tentando ignorar o cheiro de cachorro molhado no ar (chovia há horas lá fora).

Fora alguns poucos grandes patrocinadores, como TIM, o concessionário Mercedes ali da área, a Nike, chocolates KitKat, chocolates Perugina (que foi comprada pela Nestlé, filhos da puta), a academia de ginástica high-tech de Perugia onde eu malhava quando estudava lá, o resto dos anunciantes era completamente desprovido de glamour. Pizzeria do Fulano! Tendas e Toldos Sei-lá-o-quê! Restaurante do Mario! Fábrica de sacolas plásticas do Riccardo! Manutenção de Empilhadeiras Família Rossi! Desratização O Flautista Mágico! (juro). O patrocinador principal do Perugia, de uniforme vermelho e tênis à escolha do jogador, é Bacchi, concessionário de caminhões Iveco e revendedor autorizado de peças pra caminhões; é fornecedor do Mirco e já fui lá quinhentas vezes buscar peças. O do outro time, de azul marinho e tênis todos iguais, que mais tarde descobrimos ser o Latina (Latina é uma cidade perto de Roma), era a Acqua e Sapone, cadeia de lojas de produtos de higiene e limpeza que tem em tudo quanto é lugar; a de Bastia vive lotada. Os uniformes são tão cobertos de patrocinadores que mal tem lugar pro número do jogador, quanto mais pro seu nome – ou mesmo o nome do time; por isso demoramos tanto pra entender quem era o adversário.

A gigantesca torcida organizada do Perugia era composta de umas 20 pessoas – nerds, adolescentes empolgados, mainly losers. Havia também dois chineses (don’t ask) batendo animadamente naqueles tambores verticais deles. Uma gordinha loura entupida de maquiagem e já com uma certa idade tentava animar a galera, se achando a Rainha Pan-Universal das Cheerleaders de Todos os Tempos. O pessoal da torcida estava munido de pedaços de madeira com tiras grampeadas nas laterais; batendo essas tabuinhas uma na outra o barulho é insuportável. Também tinham megafones ridículos que imitavam sirenes da polícia ou de ambulância. Delicioso. O narrador do jogo falava no microfone, mas a acústica do lugar é horrível e não dava pra entender UMA SÓ PALAVRA.

A torcida organizada do Latina era composta de, hm, oito pessoas.

O Perugia tinha até mascote: um grifo, que eu só saquei que era um grifo porque esse é o símbolo da cidade desde a remota Idade Média, porque mais parecia uma vaca com bico e uma coroa na cabeça. Mas desse cara vestido de grifo eu nem fiquei com pena, porque pelo menos ele tava todo coberto e consequentemente não era identificável. Pior era o cara que fazia propaganda do Limmi, suquinho de limão (amarelo, claro) que se vende nos supermercados pra quem tem preguiça de espremer a fruta propriamente dita. O cara tava vestido de garrafa bojuda de Limmi, só com a cara aparecendo na frente, e mal conseguia caminhar. Fiquei horas rindo dele, e ao mesmo tempo morrendo de pena cada vez que o via perambulando pela quadra.

A cada pedido de tempo os limpadores de chão entravam em cena: crianças pequenas, vestindo camisetas pretas escrito MINI em branco, que riam muito e apostavam corrida com o vassourão. Entre os sets o menino-Limmi passeava pela quadra e me fazia ter ataques de riso.

Acabou que o jogo terminou rapidinho; o Perugia ganhou de 3 x 0, e tenho que dizer que jogou muito bem, apesar do negão que a cada bomba matadora que detonava na quadra do Latina, perdia umas duas recepções de bobeira.

E depois desse jogão-ão-ão fomos ao hospital, porque o Mirco distendeu um tendão da mão direita (não lembro qual, meu Sobotta ficou no Rio) e queria ver o que era. Ficamos horas lá mofando, porque um policial tinha sofrido um acidente de carro e o PS inteeeeiro (ou seja, os dois médicos de plantão) parou pra socorrê-lo. Na nossa frente, um cara asqueroso com pinta de cigano e/ou do sul, cabelo oleoso, cara de sujo, calça cor de tijolo com um rasgo na parte interna da coxa esquerda, sapatos de camurça estilo Birkenstok, abertos atrás, suéter de lã rosa por baixo de um colete absurdo. Com ele, uma garota de cabelo até a bunda, de maquiagem borrada, uma daquelas bolsas nonsense de crochê com pompons na alça, piercing de argola no nariz e a maior cara de drogada que eu já vi na minha vida. Reclamaram sem parar, fumaram onde não podia, e eu já tava torcendo pra que caísse um raio na cabeça de cada um dos dois quando finalmente fomos atendidos, o Mirco fez o raio-X, voltou, falou com o médico de novo e fomos pra casa.

Noitada selvagem, né não?