Como toda pessoa de bom senso, acho Natal um verdadeiro porre. Não só porque pra mim não significa nada, como bem diz o Alexandre (viram como ele não erra mais os porquês? ;), mas porque essa forçação de barra pra dar presente pros outros é incrivelmente estressante, cara e hipócrita. Detesto dar presentes só porque tenho que. Quando vejo uma coisa legal que me lembra alguém querido, compro e dou, na medida do financeiramente possível, claro. Perguntem pra Newlands que ela sabe bem como é: vivo mandando-lhe coisas bubus pelo correio, coisas idiotas que não servem pra nada, mas eu tenho certeza de que ela vai gostar porque têm cores bonitas, ou uma textura maneira, ou uma ilustração gostosinha, ou porque lembra alguma coisa engraçada que nos aconteceu em um determinado momento. Em contrapartida, meu quadro magnético está coberto de desenhos dela, tenho vários marcadores de livros desenhados por ela, e a bolsinha que abriga o kit de sobrevivência pacamanca elástico pro cabelo + batom + manteiga de cacau, que eu levo sempre comigo, é uma coisinha deliciosamente esdrúxula de paetês rosa-choque, presente dela. Minha escrivaninha é coberta de pequenas pilhas de coisas que eu vou juntando aos poucos, até que virem uma quantidade decente pra ser mandada pelo correio. Minilivros, comidinhas, receitas, cartões-postais, fotos, panfletos bonitos, brinquedinhos de ovo Kinder, adesivos, cartões de visita extravagantes, tudo isso vai sendo distribuído conforme eu vou descobrindo a quem vai agradar. Já esse perrengue de ter que comprar presente de Natal, vou te dizer…
Pra cunhada eu trouxe do Brasil uma bolsa artesanal toda cheia de bordados bizarros; juntei um marcador de livros interessante e pronto. Pro namorado dela, um cinzeiro comprado na feira hippie da General Osório. Pra malinha do Francesco, o filho b. do tio banana do Mirco, que é uma criança cha-tér-ri-ma e bur-ré-si-ma, que os pais (…) e o resto da família entopem de brinquedos caríssimos e de roupas que daqui a dois meses não vão mais caber nele, comprei um livro daqueles duros, cheio de bichos, buracos nas páginas, jogos de palavras. Pra avó do Mirco, que é a coisa mais fofa desse mundo, um pijama de flanela comprado na feirinha de Bastia, hoje de manhã. Pro Ettore comprei uma garrafa de grappa, que é o meu presente anual, já que ele não gosta nem se interessa de coisa nenhuma. Pro azar dele, a garrafa quebrou assim que cheguei em casa com as compras. Pra Arianna, brincos de ouro branco e zircone que depois me arrependi de ter comprado porque foram caríssimos e ela realmente não entende a diferença entre um metal e outro, entre um design bonito e um não, mas agora Inês é morta. Pra Marta trouxe um porta-niqueis de casca de coco, também da feira hippie, que sei que ela vai odiar porque é bastiola fashion e bastiola fashion só gosta de coisas da moda, mas não tô nem aí, um choque cultural de vez em quando é bão, e fiz também uma latona de cookies com chocolate chips e amêndoas. E aí fiquei sem saber o que dar pro Mirco, que infelizmente tem gostos refinados muito fora do meu alcance econômico, e além do mais compra e fatura as coisas das quais precisa (e gosta), como máquinas fotográficas, celulares, material de escritório. Acabei comprando um livro pra criança que me fez dar uma gargalhada gigante na livraria de Santa Maria degli Angeli: La Storia della Cacca A História do Cocô. O dono da livraria, um grisalho que destila charme pelos poros do nariz, deu outra risada quando cheguei com aquilo na caixa, e disse que o livro é maravilhoso. Quando estava saindo da livraria bati o olho numa máquina fotográfica descartável com flash colorido, quer dizer, as fotos saem no tom que você escolher. Peguei uma verde. Claro que as esverdeadas fotos eventualmente irão parar aqui.
E aí assim, como quem não quer nada, toca o videofone: era o hominho da SDA, pra entregar um pacote. Fiquei toda boba achando que era o pacote que a minha mãe mandou há séculos, com o livro de Português do meu aluno bicha e mais outras coisas pra mim, um pacote que se perdeu no buraco negro dos correios italianos. Mas qual não foi minha surpresa ao ver que era uma caixa elorme vinda diretamente de Ottawa! Eowynzinha, amiga, não tenho palavras! Tô doida pra provar esse icewine, comé que toma isso? E os livros todos? E o Calvin? E o salmão, que eu amo? E o cartão de Natal, lindo? E as meias de dedinhos do Piu-Piu, ridículas como eu gosto?
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Pra quem acredita nessas coisas natalinas, bom natal, tá? E brigada a quem me escreveu dando votos de boas festas. Sei que não parece, mas dou muito valor a essas coisas. Valeu mesmo. Porque foda-se o Natal, mas é o pensamento que conta, né não?