Eu fico angustiada com essas catástrofes. Gostaria de ser capaz de fazer alguma coisa pra ajudar, mas não posso fazer nada além de mandar um SMS pra doar um euro. Dificilmente tenho esses arroubos concretos de solidariedade, porque meu instinto de auto-preservação fala mais alto, mas cada vez que vejo novas imagens dos alagamentos e das pessoas sofrendo de um modo que eu não consigo nem imaginar sinto que se eu estivesse lá, não pensaria nem remotamente em voltar pra casa. Ficaria por lá, ajudando, como estão fazendo muitos turistas. Bactérias e vírus não gostam de mim, eu também não gosto deles, e acho que o risco de adoecer diminui quando você não tem tempo pra ficar doente porque a vida de outras pessoas pode depender do seu estado de saúde. E com certeza voltaria pra casa certíssima de ter decidido virar ex-médica. A necessidade faz o ladrão, sim, mas não significa que essa transformação valha pro resto da vida.