Acordamos cedo e Hernán nos esperava na porta. Fizemos o check-out e fomos direto a Itaipu ver a represa. É interessante, imensa, impressiona e o passeio é grátis. O ônibus com ar-condicionado vai passando devagar pelas estradas internas e o alto-falante vai explicando o que a gente está vendo. Gostei particularmente do Bosque dos Funcionários: ao completar 15 anos de serviço, cada operário planta uma muda do que quiser nesse tal bosque, que na verdade ainda é apenas um gramado com algumas árvores adolescentes que mal dão sombra. Mas gostei do conceito.
Dali fomos finalmente ao centro de Foz fazer compras. Consegui achar uma agência do Itaú pra desbloquear meu novo cartão, e aí pronto, fiz a festa. Comprei o teclado onde estou digitando agora, mas que só funciona no Word, não adianta nada pra escrever e-mail alguém saberia me ajudar a configurar esse treco? Comprei um sabonete pro rosto no Boticário. Comprei um Collins Ing-Port-Ing, que não era exatamente o que eu queria mas dá pro gasto. Fizemos compras no supermercado: guaraná, gelatina Royal, shampoo pra cabelo ruim, farinha de mandioca, um osso de couro comestível pro Leguinho, aveia com mel e castanha de caju da Quaker, desodorante, escova de dentes, Ninho Soleil (depois fiquei mal por ter interrompido momentaneamente meu boicote à Nestlé, mas eu ADORO Ninho Soleil e aqui não tem), suco Maguary; os meninos compraram um caminhão de Havaianas e suco de manga e cachaça e limão pra caipirinha. Passeamos muito pela cidade, que é feinha, coitada, paramos pro pessoal tomar água de côco, que eles obviamente nunca tinham experimentado, batemos (bati) altos papos com o Hernán, que como eu já disse é malandro mas é legal. Almoçamos na parte de fora de um restaurante com nome alemão: os meninos arriscaram uma pizza, que felizmente estava boa, e eu e Hernán dividimos um filé com alho torradinho, arroz branco e brócolis. Ainda demos um pulo numa loja estilo armadilha pra turista, cafonérrima, com direito a chaveiro de arara e tudo, pros meninos comprarem as Havaianas tamanho gigante pro Gianni, que no supermercado não tinha, e dali tocamos pro aeroporto.
Novamente o vôo foi uneventful, mas quando chegamos a Buenos Aires nenhum taxista queria nos levar, porque as malas eram muitas! Os carros são velhérrimos, tão velhos que a gente nem reconhece mais a marca, e o espaço na mala geralmente é pequeno. Acabamos convencendo um velhinho, que por acaso era de Missiones (ali onde fica o parque das cataratas argentinas) e por isso mesmo muito simpático. Fomos os três espremidos atrás, e uma malona no banco do carona, e o motorista tinha que segurar a coitada nas curvas senão caía por cima dele.
Se você acha que o trânsito de Nápoles é uma loucura, experimente uma meia hora em Buenos Aires. Vai fazer Nápoles parecer Zürich. Ali cinto de segurança não existe mesmo, de verdade. Assim como não existe sinal vermelho, nem faixa de pedestres. O próprio taxista falou que pra ele, no trânsito, só existem duas cores: verde e verde-morango, que seria o vermelho, solenemente ignorado. Os ônibus, todos caindo aos pedaços, pintados em cores cafonas e incrivelmente barulhentos, passam voando nas ruas, se jogando por cima dos carros (não, não é como no Rio. É pior.), buzinando. Enquanto íamos passeando pela cidade, porque queríamos examinar melhor o bairro onde ficava o hotel já reservado e pago pela internet, o taxista ia contando piadas, quase todas contra os argentinos. Dei muita risada, o que significa que entendi tudo, porque ele não era portenho nem mal-educado e falava beeeem devagar. Nosso hotel ficava no Once, lugar barra-pesada depois do pôr-do-sol, e antes mesmo de fazer o check-in e nos instalar resolvemos continuar com o velhinho e catar outros hotéis. Tínhamos anotado os nomes de várias possibilidades pros últimos três dias na cidade, mas esquecemos de um pequeno e delicado detalhe, do qual só nos lembramos depois de conversar muito rapidamente com duas napolitanas enquanto esperávamos nossas malas na esteira: esses três últimos dias caíam na Semana Santa, e os hotéis da cidade estavam todos lotados. Acabamos conseguindo dois quartos com duas camas de solteiro cada num hotel 4 estrelas onde o Moreno dormiu quando esteve em BsAs em fevereiro, e tinha dito que era ótimo, lindo, todo de madeira e vidro, e coisa e tal. Nem vimos o quarto: fizemos a reserva pros últimos dias, montamos no táxi e voltamos pro nosso hotelzinho xumbrega no Once.
Depois de um bom banho no box com cortina de plástico, eca, desci pra encontrar os meninos. O hotel se comunica com um restaurante de mesmo nome (La Perla), e ficamos batendo papo enquanto os meninos comiam: Chiara pediu vitamina de pêssego e Gianni foi de hamburger. Sempre impressionados com os preços baixos pra quem ganha em euro, fomos alongando nossas listas de compras, e comparando nossas impressões iniciais sobre a cidade. Os meninos adoraram o que viram até o momento, mas acho que grande parte da empolgação deles foram justamente os preços baixos e a boa comida, já que pra eles comer mal e não poder comprar nada são grandes fatores de stress e de estragamento de viagem. Voltamos pros nossos quartos, ajeitamos as malas com as roupas de verão que deixaríamos no outro hotel na manhã seguinte, no caminho pro aeroporto, e eu dormi vendo E.R. no Warner Channel. God bless cable TV.