Acho que nunca dormi tanto na minha vida como nesse último fim de semana. Na sexta-feira dei aula pra uma turma nova, um funcionário aposentado dos correios que, honrando a fama da classe, é mais lento que jabuti de ressaca, e uma estudante do último ano de Psicologia que nas horas vagas dirige uma agência de detetives particulares. A aula vai das sete e meia às nove e meia da noite, e no meio da coisa comecei a sentir as malditas facadas atrás do olho esquerdo. Logo a situação se deteriorou, principalmente porque o escritório da escola já tava fechado (damos aula no escritório de um engenheiro que passa a maior parte do tempo fora e nos aluga a sala) e não tinha como arrumar água pra tomar o remédio anti-crise. Lágrimas desciam do olho esquerdo, não de dor, mas porque algum oba-oba neural devia estar rolando por ali; eu não sabia mais nem o que tava dizendo, e quando a aula terminou só faltei ajoelhar no chão e chorar. Só que o sofrimento não tinha acabado: eu ainda tinha que ir a Perugia pegar uma latinha de tinta que o fornecedor da oficina tinha deixado do lado de fora do portão pra eu pegar (adoro esses provincianismos!), já que o Mirco tinha saído pra jantar com o Moreno, em estado de ansiedade intensa porque tá indo pra Argentina outra vez agora à tarde, do outro lado da cidade. Não sei como consegui chegar lá, e muito menos como consegui voltar pra casa. Mas consegui, e quando cheguei em casa me joguei na cama e chapei.
Mirco não chegou muito tarde, e eu ainda estava em estado de decomposição cerebral. Acordamos no sábado no nosso horário natural, um pouco antes das sete, e nos preparamos pra sair de casa. Dei aula das dez ao meio-dia pra outra turma nova, duas meninas muito legais e espertas; ainda fofoquei meia horinha com a Rossella, até que senti as pontadas retro-orbitais de novo e piquei a mula. Fazer faxina tava completamente fora de cogitação porque eu mal me agüentava em pé; fiz um risoto de aspargos selvagens que nem a minha cara, Mirco chegou às duas, comemos e fomos direto dormir os dois com dor de cabeça. Eu acordei às sete da noite, tomei um caldinho de feijão instantâneo Maggi, cobri o Mirco que tava todo torto no sofá, tentei sentar pra escrever ou traduzir mas não dava, voltei pra cama. Acabei dormindo outra vez lá pras dez da noite. Eram três e meia da manhã quando o Mirco me acordou perguntando se eu não queria fazer companhia pra ele enquanto ele JANTAVA. Comeu uma piadina com salame e voltamos pra cama. Acordamos domingo às dez da manhã, coisa absolutamente inédita na minha vida. A cabeça ainda estava dolorida, mas dava pra suportar. Almoçamos na Arianna, fomos ao cinema ver After the Sunset (bobiiiiiinho mas divertidinho) e depois jantamos no chinês da via Settevalli com a Roberta e o namorado. Adoramos chinês porque é sempre tudo igual em qualquer restaurante que você for, custa pouco e ainda dão brindes ridículos na saída. Dessa vez peguei um anel de acrílico colorido e uma coisa estranha pra pendurar não sei onde.
Pensamos em pegar um DVD, mas algo nos dizia que não conseguiríamos assistir ao filme todo sem dormir. Não deu outra. Botei o timer da TV em 15 minutos e dormi antes de ouvir o puf! dela desligando…