vovó

Essa é a minha avó. Morreu jovem, quando meu pai era rapazinho, deixando 4 filhos e 1 filha pro meu avô criar. Além de ser linda de morrer, como é claramente visível, era uma mulher educada e requintada, e, sobretudo, modernérrima, muito à frente do seu tempo. Até hoje, em reuniões de família, fala-se muito dela – não só os familiares, mas também amigos e ex-vizinhos, e inevitavelmente todo mundo acaba chorando.

Sempre tive a impressão de que se tivesse vivido mais ela talvez tivesse virado uma grande amiga da minha mãe, que é outra que está muito à frente do seu tempo – e não sou só eu que estou dizendo; outro dia ela recebeu o telefonema de um ex-aluno (ela não dá mais aula há quanto, vinte anos?) que viajou o mundo com a Marinha, viu e compreendeu coisas que minha mãe já havia comentado séculos antes na sala de aula, e resolveu catar o nome dela na lista telefônica e ligar pra dizer o quanto ela tinha sido foda. Também sempre tive a impressão de que nossa família seria muito melhor hoje, em muitos sentidos, se ela não tivesse morrido tão jovem. Minha avó é a pessoa que eu mais gostaria de ter conhecido, no mundo inteiro. Meu avô até hoje só senta à mesa de frente pro quadro dela, na parede oposta da sala. Meu pai e meus tios dizem que ela foi uma mãe muito alegre, com uma intimidade com os filhos que naquela época era unheard of, mas eu vejo no seu olhar uma melancolia que, infelizmente, foi a única coisa que eu herdei dela.