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O dia tava bem gostosinho hoje. Sol forte compensado por nuvens passageiras, empurradas por uma brisa fresca. Depois de uma boa arrumada na garagem, que tava o samba do crioulo doido, fomos cedo pra Arianna e ficamos horas brincando com a bicharada. As filhotas da Priscilla já tão saindo da casinha delas e tocando o maior rebu no jardim, subindo em árvores, provocando os gansos através da grade, brincando com penas de peru que acham caídas pelos cantos. Quando der vontade subo as fotos. Subi pra ajudar a botar a mesa enquanto o Mirco ficou lá embaixo vigiando a lasagna no forno a lenha.

Comecei a bater papo com a avó do Mirco, a Lucia (lutchía), em família carinhosamente chamada de Laspo’ (de La Sposa, A Esposa, como a chamava o falecido marido). Ela é uma bonequinha, miúda e calada, foférrima, e sempre preocupada em depilar o buço antes de fazer suas poucas aparições em público. Pois então: falávamos de amenidades, de como o tempo anda estranho, de como não se entende mais nada de coisa nenhuma, se vai chover, se não vai, se o calor vai durar, se a neve vai cair em junho no Abruzzo, enfim, essas coisas. Ela perguntou, meio ressabiada, se eu não achava que a lua tinha alguma coisa a ver com esse clima doido. Hmmmmmmm como assim? Ela perguntou se eu acreditava que o homem tinha mesmo pisado na lua, e se isso tinha alguma coisa a ver com o clima. Achei tão bonitinha a pergunta, parecia coisa de criança mesmo! Expliquei com o máximo da simplicidade o efeito estufa, e ela fez oooooh. Não é uma coisinha fofa? :)

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Ontem à tarde aconteceu uma coisa bizarra. Finalmente terminei a tradução que estava sugando meu sangue há tempos (não porque não tenha sido legal, é que faltou tempo pra me dedicar comme il faut), tomei banho, fui lá fora ligar a máquina de lavar roupa, e quando voltei pra dentro estava espirrando sem parar. A narina esquerda coçava terrivelmente. Impossível ser alergia, pensei. Me recuso a virar alérgica. Não tenho paciência pra ser alérgica. Minha pele é sensível demais, se eu tiver que viver assoando o nariz em lenço de papel meu nariz vai cair de tanto atrito com o papel. Não posso virar alérgica porque alergia é uma das coisas mais chatas do mundo.

Mas mesmo depois do jantar de peixe com Mirco e Stefania a narina esquerda continuava coçando. E hoje acordou coçando de novo. No final da tarde me irritei; depois de ver Meet the Fokkers (que filme chato, benza deus!), tomei um Fenergan que tenho vergonha de dizer de onde veio, e nos mandamos pra festa da cereja em Capodacqua, uma frazione de Assis. O tempo foi passando e comecei a sentir os efeitos do Fenergan, que até hoje eu só tinha tomado pra dormir quando tinha insônia (sim, tenho meus momentos McGyver-improvisativos). Fui ficando boba, boba. Não entendia nada. As pessoas falavam comigo e eu levava horas pra entender. Não consegui nem curtir as lindas casas da zona, o belo galpão de madeira, a delícia dos ravioli com nozes e formaggio di fossa (don’t ask). A cabeça pesava e tudo parecia tãaaaao longe, tão sem importância, tão esquisito. Acabamos vindo embora mais cedo, porque eu já tava quase rindo sozinha de tão boba. Eu, hein.