de línguas

Hoje foi um dia pesado. Saí de casa cedo e toquei pra Perugia, onde fiz a prova do CELI – o certificado de língua italiana mais ou menos equivalente aos de Cambridge pro inglês, por exemplo. Não sei por que cargas d’água não fiz assim que terminei o curso na Stranieri em 2002, até porque os exames são organizados por eles, mas enfim.

Sei que passei, mas o teste foi chato pra cacete. Cada texto chato, cada múltipla escolha safada. Pra variar, acabei rápido a primeira parte e fui catar alguma coisa pra comer, já prevendo que não voltaria pra casa antes das nove e meia da noite – minha última aula começa às sete e meia, em Perugia mesmo, e não valia a pena voltar pra casa, nem pelo tempo e nem pela gasolina. A prova foi num hotel de nome ridículo (Etruscan ChocoHotel. CHOCOHOTEL. Quequeísso, gente. E La Spo’ ainda me pergunta se a culpa do clima maluco é do homem na lua. O clima maluco é culpa de gente que funda um hotel e lhe dá o nome de ChocoHotel. Não há Eurochocolate no mundo que justifique. Estamos falando de um nome do nível de Suely Maria, vejam bem.), bem perto de onde mora o Aluno Endocrinologista. Bom, porque amanhã de manhã volto pra prova oral, e às onze vou dali direto dar aula.

A segunda parte da prova foi a mais fácil. Tudo gramática, aquelas coisinhas bobas de completar um texto com as palavras corretas, de achar erros bestas nas frases (tipo “al ponte di” em vez de “al punto di”), de completar com os verbos no tempo correto. Fiz em 7 minutos, contados no relógio. O tempo da prova era de uma hora e quarenta e cinco minutos. Na boa, não é pra esnobar, mas puta que pariu, estamos falando do último nível de italiano; se uma criatura leva mais que meia hora pra botar uma dúzia de verbos no passado, ela está no nível errado. Não lembro direito das provas do Proficiency, mas lembro perfeitamente que era gramática das mais cascudas, sentence transformation, uns negócios barra pesada. A gramática dessa prova me surpreendeu. Nem um condicional! Nem um subjuntivo esquisito! Nem um passato remoto, minha única dificuldade com o italiano! Nada. Tudo facílimo. Levei mais dois minutos pra preencher os quadradinhos da ficha de respostas e fui lá pra fora continuar lendo The Bookseller of Kabul – delicioso, by the way.

A última parte de hoje foi o listening, também chatérrimo. A compreensão do que diziam os fulanos não era difícil, muito pelo contrário, até fácil demais, já que eles claramente se esforçavam pra falar devagaaaaaaaaar e tão pausadamente que parecia que estavam falando com retardados. Só que as perguntas eram terríveis, mal-feitas. Gosto mais daqueles listenings cheios de números e horários que te confundem, e você tem que se concentrar de verdade pra ouvir o que a mulherzinha fala com o barulho da estação de trem no fundo, sabe, coisas assim.

A mulherada – porque é só mulher que estuda línguas, impressionante – estava toda nervosíssima, principalmente o pessoal que faz o mestrado da Stranieri sobre didática da língua italiana pra estrangeiros. Se não passam no teste, não ganham o certificado do mestrado. Pra facilitar as coisas, quem queria podia escolher fazer o teste no nível 3. Não sei pra vocês, mas pra mim parece a história do inglês não mais obrigatório pro Rio Branco. Se você vai dar aula de italiano e está inclusive freqüentando um mestrado sobre o assunto, acho mais que razoável que você fale a língua PELO MENOS muito bem. Quem não vai além do nível 3 não fala nem razoavelmente bem, fala assim assim. E eu não gostaria de ter aulas de uma língua com alguém que a fala assim assim. Mas o mundo é estranho e poucas coisas me surpreendem.

Depois da chatice dos testes fui pra Ponte San Giovanni matar um par de horas até as seis, hora marcada pra minha aula de francês com o Valerio. Estacionei na sombra, no estacionamento da Coop, àquela hora vazio, escancarei as portas do carro, respirei o cheiro resinoso de pinheiro que acho que vinha da cerca-viva da casa limitante com o estacionamento, e ataquei o Bookseller of Kabul. E depois fiz minha aulinha de francês, fui cumprimentada pela minha pronúncia, voltei a Perugia, dei minha aula capenga de inglês porque tinha esquecido o livro e as fitas, e agora estou aqui em casa escrevendo pra vocês em vez de tomar banho e ir dormir, porque eu é que não tenho mais saco de dirigir até a casa do Gianni e da Chiara pra discutir uma viagem à Argentina que eu não estou nem um pouco disposta a repetir.

Boa noite.