as cores de plástico não morrem

A gente vai vivendo e aprendendo, né.

Hoje eu e Mirco ficamos até quase duas da tarde tentando ajustar a cor de uma tinta pra porta de um caminhão. A cabine é branca, e aí vocês vão se perguntar, mas quanto pode ser difícil arrumar um branco? Quem trabalha com cores até vai dizer que existem muitos tipos de branco. Mas vocês sabiam que existem catalogados quase TRINTA MIL TIPOS DE BRANCO, só no ramo das tintas industriais?

O Mirco usa um tintômetro, cortesia do fornecedor de tintas, pra poder ele mesmo fazer as tintas de que precisa. O cliente dá o ano, a marca e o número do chassis do caminhão ou do carro, você insere esses dados no tintômetro, diz quanta tinta quer fazer, e ele te diz as quantidades, mantidas as justas proporções: 303,2 gramas de branco, 0,25 gramas de verde, e por aí vai. Esse branco do tal caminhão levava na fórmula original só preto e verde. Só que o caminhão é velho, já foi muito exposto ao sol e à chuva, já foi repintado outras vezes, de modo que o branco já não é mais aquele. E aí começou o sofrimento. A gente dava uma dedada de branco na porta, olhava, hm, tá cinza demais, vamos botar mais branco. Outra dedada: falta verde (eu não sou capaz de dizer se falta verde num branco, isso é coisa pro Mirco que trabalha com isso há anos). Outra dedada: falta vermelho.

As latas de tinta têm uma tampa com um misturador, sabe sorveteira elétrica, que fica com as pás girando dentro enquanto congela, pra não endurecer? Aqui é a mesma coisa; as latas de tinta, com suas tampas com misturador acoplado, ficam em uma estante com um motorzinho que faz girar umas borboletas, uma pra cada lata, que por sua vez movimentam os misturadores internos. Todas as latas têm a mesma capacidade volumétrica, mas há tintas mais ou menos densas, de modo que um litro de vermelho é muito mais pesado do que um litro de branco, por exemplo. Eu não sei direito o que é leve e o que é pesado, e quando o Mirco finalmente se rendeu e resolveu tascar umas gotas de amarelo no tal branco, mesmo não estando presente na fórmula original, lá fui eu pegar a lata. Me preparei mentalmente pra levantar no máximo 3 quilos (as latas são de 3 litros), mas esqueci do detalhe da densidade e quase quebrei o punho com o maldito amarelo, pesadíssimo.

É lindo ver as cores se misturando na lata. A tal tampa com o misturador acoplado tem um mecanismo que regula o quanto de tinta sai pelo bico – existem alguns dosadores de mel iguaizinhos no mercado; você aumenta ou diminui a boca do bico (cruzes) e assim aumenta ou diminui o fluxo de saída do que está dentro do pote/vidro/lata. Uma gotinha do amarelo cai no branco, fica ali um segundo e tchuuuuuum, afunda, some. A gente começa a misturar e lá vai ela, não mais gota mas agora uma linha, logo logo uma espiral, e depois sumiu, e eu continuo achando que não mudou nada da cor mas quando damos mais uma dedada na porta vemos que está, sim, mais puxado pro marfim.

Nessa brincadeira, muitas dedadas depois e a cabeça já girando de tanto procurar verde em branco, fomos almoçar quase às três da tarde.