peixinho bom

Sábado fomos jantar com Gianni aqui. Aluno Endocrinologista já tinha me falado desse restaurante, onde ele comeu o peixe mais fresco da sua vida, e depois o Gianni foi a uma despedida de solteiro lá e também ficou encantado. E resolvemos conferir.

Chiara não foi porque estava em um retiro espiritual, o que quer que isso seja. Fomos nós três; o restaurante é aqui pertinho de casa, coisa muito prática. O dono é um siciliano de Palermo muito simpático, que se recusa a cozinhar o “básico” dos frutos do mar, ou seja, cocktail de camarão e insalata di mare.

O jantar foi uma diliça. Saiu carinho porque pedimos uma degustação, mas os pratos no menu têm preços bem razoáveis. Resolvemos deixar o proprietário e chef, o Roberto, à vontade pra escolher o menu pra nós, por um motivo muito simples: ele não trabalha com intermediários, e compra o peixe não de peixarias mas de um pescador que trabalha diretamente com ele, e traz peixe fresco todo santo dia. Se hoje não cair nenhuma lagosta na rede, por exemplo, ele não pode servir lagosta, porque não trabalha com congelados. Então ninguém melhor que ele pra saber o que rola de bom naquele dia. Pescaram uma cernia espetacular hoje, querem? É assim que funciona – adoro essas coisas; essa intimidade imediata do italiano com todo mundo, principalmente quando tem comida no meio, é sensacional. Então tivemos um salmão marinado delicioso, um peixe que não sei traduzir marinado no vinagre com sementes de romã (esse eu dispensei, dispenso qualquer tipo de vinagre e qualquer aceno de fruta na comida), ma-ra-vi-lho-sos mariscos (cozze e vongole) fresquíiiiiiiiiiiiissimos, e depois uma das coisas mais gostosas e delicadas que eu já comi em termos de peixe: spaghetti com pesto feito na hora (eu detectei, além do manjericão, um toque de hortelã, que ele confirmou) e “saltati in padella” com camarõezinhos. Uma coisa de louco – com uma pimentinha moída na hora por cima, então… O prato principal foi um mix de crustáceos ao vapor: meia lagosta cada um, lagostins e camarões gigantes e médios. Olha, eu não sou expert em cozinha e muito menos em frutos do mar, que só fui aprender a comer aqui na bota, mas realmente a diferença é morrrrrrrrtal. Os mexilhões tinham cheiro de praia, os lagostins só faltavam piscar o olho pra gente. Tudo isso acompanhado de duas garrafas de ótimo vinho branco, cuja origem desconheço porque fiquei com preguiça de ir até o balde de gelo olhar o rótulo, muito levinho e gostoso. Mirco ainda comeu sobremesa, os meninos tomaram café e dois copos de grappa cada um. E ainda ficamos batendo papo, depois que os outros clientes saíram, com o proprietário e o menino francês que trabalha como garçom. Agradabilíssimos e muito educados.

O problema do restaurante é que não tem clientes. Porque o umbro é idiota e só freqüenta lugares da moda. O restaurante da moda em termos de peixe é o Massimo, que é superfora de mão pra gente porque é láaaaaaaaa no Lago Trasimeno, e os preços são assim como dá na telha do Massimo, sabe; por menus absolutamente idênticos já chegamos a pagar 3 preços diferentes em três ocasiões diferentes. Mas é fashion, então em vez de ir ali em Ospedalicchio que é do lado de casa – estou falando aqui do vale, de Bastia e adjacências – neguinho se despenca lá pro lago só pra encher a boca quando contar que jantou no Massimo. E aí o coitado do Roberto fica sem clientes. Então, já sabem: peixe na Umbria é no La Cigale. De verdade.