Hoje o sol saiu. Tava ventando em Foligno, como sempre, mas não estava tão frio. Então aproveitei uma horinha entre uma aula particular e a primeira aula do dia na escola e fui dar um passeio ao longo do rio Topino.

Como as laterais do rio são muito altas (todo o percurso foi alterado ao longo dos séculos, e em certos trechos são muros a delinear a margem), fiquei protegida do vento. E então lá fui eu, descendo as escadinhas até chegar na margem gramada, onde uma trilha estreita de terra/lama, atraversada por pegadas de tênis os mais diversos e marcas de pneus de bicicletas, logo tratou de sujar minhas botas. Muita gente faz cooper ao longo do rio, mas àquela hora (do almoço) não tinha viv’alma.

Eu gosto de água. Não gosto de mar, mas todas as outras águas me estão simpáticas. Nos últimos dias tinha chovido muito e o Topino estava cheio, correndo veloz. É mais um riacho, coitado, no máximo uns 5 metros de largura – muito chutado esse valor; nesse sentido eu sou muito mulherzinha e não tenho a menor noção de unidades de medida – mas é alegre e simpático como todo riacho. Aqui e ali patos e marrecos faziam a digestão, parados contra a corrente, olhinhos fechados aproveitando o sol. O barulho delicioso do rio correndo é muito relaxante e só não sentei no gramado pra ler porque tava tudo muito molhado. Passei por baixo da ponte, não sem suspirar pela felicidade que é poder passar por baixo de uma ponte, num lugar completamente isolado e em um horário em que não passa um cão na rua, sem ter que ficar na paranóia de estar sendo seguida, ou de ver cobertores de mendigos, ou de ter que correr de pivetes. Vi alguns restos de fogos de artifício, porque o italiano médio desconhece a utilidade das latas de lixo públicas, mas nada de especial. Fui andando até o riacho fazer uma curva bem fechada, e na margem interna as águas vão depositando zilhões de pedaços de pau, restos de galhos e ramos que caem das árvores plantadas no calçadão beira-rio. Leguinho ali iria se fartar: pauzinhos infinitos pra brincar, água e um banco de areia. Continuei até a ponte de pedra do século XVI, que eu tinha acabado de atravessar voltando da casa da minha aluna, dei meia-volta e quando já estava de novo na curva dos galhos dei de cara com um cocker preto, com coleira vermelho berrante, fazendo a maior bagunça, se jogando na água, lama pingando dos longos pelos da barriga. Logo depois aparece a dona, com um grande vira-lata preto na coleira. Parei pra cumprimentar os cachorros e ela comentou que era a melhor hora pra levar os meninos pra brincar, porque nunca tinha ninguém, então eles podiam brincar soltos. A alegria de ver um bicho correndo solto e brincando está na mesma categoria do sabor do chocolate meio amargo dissolvendo na boca, do cheiro de livro novo quando enfiamos o nariz entre as páginas, da delícia que é inaugurar uma agenda novinha no começo do ano, na felicidade de ter canetas coloridas, no banho de chuva no verão, em bebê apertando o seu nariz e dando risada. Essas coisas. Subi a ladeira de saída da trilha do rio, sentei num banco de pedra e fiquei de longe vendo os cachorros rolando na grama, se sujando de lama, brincando, fazendo bagunça.

O resto do dia passou rapidinho.