A avó do Mirco sofreu uma mini-isquemia na sexta e foi internada pra fazer exames e ficar em observação. Ontem me ofereci pra passar a tarde com ela, porque a coitada da Lucia não é exatamente a rainha do traquejo social, tendo sempre ficado enfurnada em casa cuidando da horta, dos bichos e de um marido rabujento e mandão. Nunca foi a lugar nenhum e a sua primeira experiência realmente divertida e diferente foi a viagem à Holanda em novembro do ano passado, então ficar no hospital, com uma rotina tão diferente da de casa, com companheiras de quarto que ela não conhece e comendo uma comida estranha é muito estressante.
Acabei fazendo uma supersocial com as outras velhinhas, mais faladeiras. Uma estava meio fora do ar, enorme de gorda, com uma pneumonia complicada, máscara de oxigênio no rosto, movimentos difíceis e respiração sofrida. A vizinha da Lucia era a mãe da gerente do banco do Mirco, que eu conheço bem. E a última era uma birutinha agitadíssima que não parava de falar e complementava o rancho do hospital com coisinhas que a família e amigos porque a cada meia hora vinha alguém visitá-la traziam de casa.
Eu gosto de velhos. Têm sempre muito a dizer, mesmo os idiotas, e um ponto de vista tão, mas tão abissalmente deslocado por causa do salto tecnológico que passou voando na frente dos olhos deles que eu acabo sempre parando pra pensar. Das quatro, a única que sabia operar um celular era a maluquinha, a única também a tingir os cabelos. Eu tinha levado coisas pra estudar, mas acabei passando cinco horas (o Mirco trabalhou o dia inteiro e só chegou às oito e meia, pra depois irmos jantar com Mario Belli e moglie) batendo altos papos com as velhinhas e dando muita risada com a birutinha. Teve até choro, quando visitas inesperadas apareciam ou quando emprestei meu celular pra mãe da gerente e me recusei terminantemente a aceitar o pagamento pela ligação. O que, aliás, quer dizer muita coisa: quando uma minigentileza assim bobinha é difícil de compreender, é sinal de que o mundo tá afundando na bosta mesmo.