No início de abril vamos ter eleições políticas aqui (as eleições administrativas são pra prefeito e, acho, presidente de região), pra escolher outro presidente do conselho de ministros e senadores. Então não se fala de outra coisa na televisão.
O lance é que aqui tem a lei da par conditio, ou seja, todos os candidatos têm direito à mesma exposição nos meios de comunicação. Tudo em teoria, lógico, porque em um país onde o Presidente do Conselho é dono dos três canais privados, tudo isso não tem o menor sentido. Em qualquer hora do dia ou da noite você liga a TV e em algum lugar vai dar de cara com o cabeção careca e bronzeado artificialmente do Cavaliere. Na terça-feira teve debate entre o carecão e o Prodi, da esquerda, de quem na verdade eu não desgosto: é um homem incrivelmente culto e inteligente, inseridíssimo no contexto da Comunidade Européia (já foi presidente da Comissão), e com idéias bem claras do futuro que a Itália pode ter dentro da Europa. Rifkin, aliás, cita muitas frases dele no seu livro. Mas a Bota nunca viu outro comunicador tão hábil quanto o Berlusca, e tenho muito medo da sua reeleição, porque as pessoas ainda têm medo de comunista por aqui e a probabilidade de neguinho votar no Berlusconi pra não votar nos “comunistas” é real. Eu não vi o debate porque só de olhar pra cara do Berlusconi eu tenho vontade de vomitar, mas pelo que ouvi parece que o Prodi, que não fala como político, ou seja, é rápido, sucinto e direto, levou a melhor. Utilizou-se o sistema americano, com tempo limitado pra responder às perguntas, e é lógico que quem tem que enrolar, apresentando dados falsos sobre número de novos empregos, aumento da produtividade, redução dos gastos públicos, e estatísticas inventadas em geral, precisa de mais do que dois minutos. No final parece que Prodi conseguiu falar dos seus planos futuros pra Itália, DENTRO DA COMUNIDADE EUROPÉIA, enquanto que o Berlusca só conseguiu mostrar esses dados ridículos, falar mal da esquerda em geral e desmentir o que o Prodi dizia, e insistir sobre a grandeza da Itália, o valor do made in Italy (aqui se fala tanto disso que eu já enjoei), etc etc. Como se Prada e Gucci pudessem ser consideradas indústrias de grande porte, sabe.
O pior é que tem muita gente que vota no Berlusconi porque ele é um grande empreendedor. Não há dúvidas de que o seja, apesar dos meios altamente suspeitos que usa pra chegar aos fins, porque hoje não é mais possível construir grandes fortunas em tão pouco tempo sem ter todos os duzentos rabos presos. Mas isso não significa, muito pelo contrário, que ele seja um bom líder político. Um homem com aquela cara bronzeada artificialmente, aquele sorriso falso, aquelas palavras retorcidas, aquela retórica engana-pamonha, e o passado de leis salva-rabo que ele aprovou não merece minha confiança nem se tiver que lhe perguntar que horas são. Mas tem gente que cai na armadilha, porque admira o grande homem. Como se todo self-made man envolvido com a máfia fosse automaticamente um bom líder.
Eu tenho nojo.