Por uma feliz coincidência de cancelamento de aulas, consegui passar o dia inteiro na faculdade hoje. No total, sete horas de aula, obá! De manhã, inglês com aquela louca desvairada, que, fora alguns assassinatos fonéticos, fala muito bem. Mas é louca, então não conta. Eu tinha levado meu almoço, como sempre, mas como fiquei depois da aula corrigindo deveres de inglês dos colegas, que a maluca manda fazer mas NUNCA corrige, acabou ficando tarde e fui convidada pra almoçar na mensa (o bandejão) pela Giorgia, felizmente o único exemplar perugino da turma. Acabamos dividindo a mesa com o Ioannes, o tal grego que tinha me aconselhado a colar na prova de Linguistica Generale, e que usa aquela faixa no cabelo que nem jogador de futebol argentino. Vou dizer uma coisa, não comi nada mal (tortiglioni, que é um tipo de macarrão que eu e o Mirco odiamos, com molho de tomate bem gostosinho; mais uma porção de batatas fritas meio murchas mas OK, mais pão que levei pra casa e mais maçã e mais água) e paguei míseros 1,80 euros. Eu teria direito à carteirinha pra comer de graça, porque sou pobre, mas não tenho tempo de passar na agência pra pegar e como não assisto às aulas mesmo, o bandejão não me serve.
Depois do almoço, direto pra aula de Linguaggio della Devianza, que basicamente estuda a criminalidade organizada ou não. A professora é uma criminóloga toscana (todos os nossos melhores professores são toscanos) gordinha, com voz firme e claramente pulso idem. O assunto foi máfia; duas horas de máfia, desmascarando mitos e esclarecendo coisas as bolsas Gucci falsificadas que se encontram em todo camelô senegalês de qualquer grande cidade italiana são fabricadas, e muito bem fabricadas, em estruturas pertencentes às diversas organizações mafiosas do sul da Itália. São tão bem feitas que a Guardia di Finanza já encontrou várias vezes bolsas falsificadas nas lojas originais nem os próprios gerentes das lojas, habituados a lidar com os produtos originais, reconheciam a diferença. As fábricas ficam no sul do país, lógico, e são especializadíssimas. O comércio ilegal organizado pela máfia é todo bem compartimentalizado: senegaleses não se envolvem com drogas, então vendem bolsas falsificadas. Com os chineses ninguém consegue se misturar (muito menos compreender). A “importação” de imigrantes ilegais é quase sempre uma atividade mafiosa, assim como a especulação imobiliária. o desembarque das tropas americanas na Sicília na Segunda Guerra só foi possível porque os chefes mafiosos deixaram. Foram duas horas muito interessantes.
E à tarde tivemos três horas de Teorie e Tecniche di Comunicazione di Massa, com a jovem professora toscana que fala rápido e deixa os meus colegas desesperados e revoltados, ho ho ho. Falou-se de Matrix pra ilustrar o fato de que hoje só sabemos do mundo o que a mídia nos diz, que não é tão fácil distinguir realidade de ficção, etc. Falou-se da versão italiana de The Nanny, que rebatizou a Fran como Francesca e lhe deu uma origem ciociara, uma coisa meio Sophia Loren, meio vulgar, meio desbocada, pra permitir que os espectadores italianos achassem graça na coisa, já que por aqui ninguém sabe nada da cultura judaica e piada de judeu não existe. Também foi interessante, mas perdi os últimos dez minutos, porque tive que sair correndo pra dar aula pro arquiteto, aquele do cachorro preto.
Mas eu adoro dias assim. Vou dormir com o cérebro devidamente exercitado e devidamente agradecido.