terremoto, de novo

Então o que rolou essa madrugada foi o seguinte.

Pouco antes de uma da manhã. Acordo com o quarto tremendo e chacoalhando. Cato a mão do Mirco no escuro; não entendo o que está acontecendo. Ainda retardada de sono, pergunto “tremeu ou estou sonhando?” e Mirco responde “tremeu e como, levanta e se veste, vamos pra Arianna ver se tá tudo bem”. Demorei séculos pra entender a ordem, porque ainda jurava que tava sonhando. Como o outro miniterremoto que presenciei, aquele em Foligno, fiquei com aquela impressão estranha que foi tudo coisa da minha cabeça, e sem saber o que fazer. Ir pra Arianna fazer o quê? E se o prédio cair (olha o retardamento…) e a gente perder todas as fotos das viagens e os meus livros? Será que o Leguinho sentiu alguma coisa? Porque dizem que os animais são sensíveis a esses negócios e dão o alarme antes mesmo que aconteça. Mas não ouvimos os cachorros aqui das redondezas; ninguém latiu, nem a Luna, a histérica do andar de baixo, nem o Romeo, o labrador da casa ao lado, nem o Jimmyyyyyyyyyyyy, o Yorkshire da Foca Monaca aqui em frente. Descemos as escadas correndo, e quando chegamos lá embaixo encontramos o bairro inteiro na rua, conversando. Todo mundo de moletom jogado às pressas por cima do pijama ;) Nos prédios novos em frente à casa da Arianna, todas as janelas acesas. Muita gente na rua batendo papo e discutindo o acontecido. Quantos graus? Não sei, mas não deve ter sido muito forte porque não ouvi louça chacoalhando. Onde será que foi o epicentro? Em Nocera de novo? Coitados, tomara que não, a cidade ainda nem foi reconstruída ainda, desde 97… Aliás, no terremoto de 97…

Fomos ver os cachorros. Demo nem se dignou a sair da cama pra nos saudar. Leguinho veio com os olhos vermelhos e as orelhas caídas; obviamente não tomou conhecimento de nada. Cachorro banana é isso aí.

Encontramos a avó do Mirco sentada na cama dos pais do Mirco, de pijaminha e touca na cabeça. Estava fazendo xixi quando a terra tremeu e levou um susto danado. Todo mundo comentando o terremoto de 97, aquele que destruiu a basílica de São Francisco em Assis e matou dois engenheiros que os frades cismaram que tinham que ir lá avaliar os danos, antes mesmo que passassem as últimas ondas de tremor, aquelas de acomodação das placas. A casa da avó do Mirco, em Tordandrea, foi o avô dele que construiu depois que voltou a pé da Etiópia, onde foi prisioneiro por alguns anos, até Assis. Ele mesmo construiu, sozinho. SOZINHO. Então quando teve o terremoto a galera foi toda dormir em tendas no jardim, por semanas, até que passassem os tremores da acomodação. Ele, que confiava no seu taco, dormiu sempre em casa. Fui eu quem construiu, não cai nem que a vaca tussa. Acho ótima essa história.

Hoje no jornal vimos que o tremor foi de 3.3. Não se sabe nada do epicentro; a notícia falava de “leve terremoto na província de Perugia” e de um outro tremor mais leve na ilha de Stromboli, na Sicília. Parece que aqui foram dois tremores, um de 3.1 e o outro alguns minutos depois, de 3.3. Não sabemos qual dos dois nós sentimos. Mas, cara, a sensação é MUITO bizarra.