Poucas vezes na minha vida me senti tão mentalmente cansada quanto hoje.
Passei a manhã no concessionário Volvo em Perugia, estudando sociologia enquanto faziam o tagliando (tipo uma revisão) dos 60.000 quilômetros no carro do Mirco. Saí de lá às onze e vinte e voei pra chegar em Foligno pra aula do meio-dia com a Boquinha, a malona que lê Paulo Coelho. Mas o grande choque do dia foi a aula de duas horas logo depois da Boquinha.
O primeiro impacto não foi dos melhores. Tanto eu quanto Simona achamos o cara meio nojentão, com aquela cara de indiano, os lábios pretos, a barriga proeminente, os cabelos ensebados penteados pra trás, a voz baixa e profunda. Maior pinta de picareta. Ao telefone tinham dito à Simona que ele conhecia um pouco de inglês, e ele confirmou, dizendo que nunca tinha tido problemas quando viajava. Então lá fomos nós.
Crianças, em DUAS HORAS SEGUIDAS DE AULA nós só conseguimos fazer um terço de página do livro. E nessas duas horas ele NÃO:
. conseguiu memorizar as fórmulas de saudação “Nice to meet you” ou “How do you do”
. conseguiu entender que “Hi” e “Hello” são praticamente a mesma coisa nunca tinha ouvido a palavra Hi, que ele pronuncia rigorosamente “í”
. conseguiu entender a diferença entre “How are you?” e “Nice to meet you”
. conseguiu entender que o pronome “it” não se usa só em substituição ao “è” italiano mas também se refere a objetos sem gênero
. conseguiu entender que “be” corresponde tanto a “ser” como a “estar”
entre outras coisas. Saí das duas horas exausta, como se tivesse acabado de fazer o vestibular pra Medicina da Unicamp. Cacetes estrelados! O melhor do episódio foi a pérola de sapiência e conhecimento dos processos de aprendizado lingüístico: ele tem uma reunião na quinta com o chefe que o mandará pra trabalhar em Bangladesh, e quer mostrar que melhorou o inexistente inglês. Então disse que é crucial fazer mais duas horas de aula na quarta, sabe, pra fazer bella figura no dia seguinte.
Já disse à Simona que o dê pra outro professor. Estou velha demais e sou foda demais pra agüentar essas coisas, sinceramente.