A manhã foi dividida entre fila eterna nos correios, escolha dos pontos de luz e tomadas e telefone e cabo da TV no apartamento novo com o eletricista, passeio de bicicleta na volta pra casa, uns capítulos do Mankell. Depois, almoço de macarrão com frutos do mar e secondo de anéis de lula com vagem fresquinha. Depois, soninho e mais Mankell.
E aí saímos pra comprar meu carro.
O Mirco é assim: quando tem um problema pra resolver, resolve logo. Resolve ontem, se possível. Então já tínhamos acionado uma rede de informantes pra achar um carro a diesel pra mim, mas ainda não tinha aparecido nada de decente. Como diesel consome menos, os carros custam mais, então estávamos procurando algo meio velhinho mas com relativamente poucos quilômetros, possivelmente com a lataria estragada (porque depois os marroquinos pintam na oficina), e logicamente mais confortável do que o Objeto Decadente Identificado que é a Uno que eu dirijo. Natale, cunhado do Marco, trabalha num revendedor decadente de carros usados e cantou a pedra: achou um Corsa preto com a mecânica em ótimo estado (ele é um daqueles raros mecânicos natos, e cuida dos carros da família inteira) e soprou o preço pro Mirco, que foi lá fazer as pesquisas dele. Chegamos hoje no revendedor sem tocar no assunto Natale, lógico. O carro está sem uma calota, com uma lanterna traseira quebrada e com vários arranhões na carroceria. Perfeito. Ano 95, mas só 100.000 quilômetros (a Uno está no quilômetro 200.000 e passa, depois de ter já virado o contador não sei quantas vezes). Não tem ar condicionado, mas como é pequeno eu posso parar embaixo dos pinheiros da escola, na sombra. E, coisa mais linda: 1.4 diesel, o que significa que o bichinho anda direito na estrada sem ficar morrinhando e atrapalhando o trânsito, e o diesel eu abasteço na oficina (o Mirco compra diesel pro caminhão e pro forno pra pintura; compra a preço muito mais baixo do que no posto e ainda desconta imposto porque é tudo faturado). Precinho: 2400 euros, mais a passagem de propriedade que é um roubo mas inevitável, mais uma fortuna de seguro, também inevitável. Na verdade eu queria algo mais novo, que me desse mais segurança, mas um diesel de alguns anos a menos custaria MUITOS euros a mais, e não queria me descapitalizar completamente porque afinal de contas temos móveis pra botar dentro de casa, né.
Então estou contente com a compra. Porque o carro é MEU, me-me-re-me-meu. Comprado com o MEU dinheiro sem ajuda de NINGUÉM. É uma bosta, mas é MEU. MEEEEEEEEEU.
Finalmente meu chaveiro de galinha de couro da Furla vai servir pra alguma coisa.