Assistimos ao jogo na casa da namorada do irmão da Michela, em Santa Maria. O Marco e a Michela moram na zona industrial, mas a Nicola, a tal namorada, está bem no centro de Santa Maria, perto da muvuca.
Em frente do prédio dele mora um dos milionários da cidade, que botou um telão gigantesco dentro de casa e encheu o quintal de gente. Em frente à casa um conhecido dos meninos parou um trator que puxava um reboque todo enfeitado, como palanque em véspera de comício. Na parte da frente do reboque, uma mesa de som e uma porchetta inteira. Dois loucos passavam pra lá e pra cá com suas lambretas pintadas com as cores da bandeira italiana, um deles com uma Copa de plástico colada na frente, uma comédia.
O jogo foi, bem, o jogo foi todo comandado pela França. No segundo tempo e durante toda a prorrogação a Itália mal tocou na bola, e só não levou gol porque deu muita sorte e porque o Buffon é um monstro. Zidane deu aquela cabeçada animal incompreensível, e todo mundo queria ser uma mosquinha pra saber o que o Materazzi falou pra ele pra levar uma arietada assim no peito. Acabou que a Itália ganhou nos pênaltis só e exclusivamente por causa do erro do adversário, já que nenhum dos goleiros segurou coisa nenhuma. Eu acho muito chato ganhar assim, e mais terrível ainda PERDER assim, de modo que teria feito o mesmo que os franceses: teria arrancado a medalha do peito na hora. Perder sem merecer é incrivelmente desagradável.
Descemos pra ver a festa na rua, e parecia carnaval no Rio. Todas as lambretas do mundo voavam pra lá e pra cá esvoaçando bandeiras. Quem tinha trator veio de trator. Quem tinha caminhão encheu a caçamba de gente. Quem tinha moto veio de moto. Teve até um que trouxe o barco no reboque, devidamente cheia de gente! Tinha carro alegórico com a Copa gigante em papelão, tinha adolescente brincando de jogar os outros no chafariz, tinha gente puxando o refrão contra os franceses, tinha cachorro latindo, tinha recém-nascido mamando, tinha velho bêbado dançando, tinha buzina tocando (MUITA buzina tocando), tinha fogos de artifício explodindo, tinha morteiro barulhando, tinha fumaça fedendo a enxofre, tinha gente demais fumando e enchendo o saco, tinha criança montada nos ombros dos pais que pulavam, tinha uma quantidade incrível de gente na rua. Soubemos que em Bastia tinha até caminhão-pipa jogando água na galera, embora não estivesse particularmente quente. Mas sobretudo tinha muita, muita lambreta. Um país cheio de lambretas é, nessas horas, um país abençoado. É muito mais legal fazer farofa de lambreta do que de carro (e muito mais prático também).
Mais fotos aqui. E vídeos no UTube, vão lá procurar.