resumo da ópera

Não morri não. Digamos que o sumiço foi uma conjunção de fatores – trabalho na escola, traduções em casa, mais uma crise de enxaqueca, uma gracinha da Telecom que nos deixou 10 dias sem internet, mudança do servidor do Pixelzine e tempestades quase diárias que nos obrigam a tirar tudo da tomada pra evitar acidentes. Não aconteceu nada de interessante durante esse período, acreditem, então vou fazer um resumo bem resumido, sem ordem cronológica ou de importância:

O atual governo de esquerda resolveu liberar geral: deu voto de graça a não sei quantos mil presidiários, excluindo somente aqueles condenados por crime hediondo. O primeiro a ser liberado foi um ex-padre que matou uma mulher na sua cidade. Realmente, é um horror e coisa e tal, mas ontem, assistindo a um documentário muito interessante sobre a agressividade dos italianos no trânsito, fiquei pensando se essa estranha decisão da esquerda é realmente mais perigosa do que as medidas que o governo Berlusconi tomou, aceitando não tirar os pontos da carteira de motorista se o idiota que cometeu a infração estiver disposto pagar a multa em dobro. Só eu e o Mirco conhecemos duas pessoas que dirigiam completamente bêbadas quando foram multadas, mas pagaram o dobro e escaparam da perda da carteira. São bêbados crônicos. Quanto tempo vão levar pra matar alguém inocente em um acidente?

Sempre falando do documentário de ontem: quer saber? Eu sou uma motorista E-XEM-PLAR. Não faço NADA do que foi mostrado ontem. Não ultrapasso quem já está ultrapassando, não pisco farol pra ninguém, não faço NADA sem ligar a seta antes, não dirijo colada na bunda dos outros, não ultrapasso o limite de velocidade, não fico mofando na pista da esquerda, não falo no celular enquanto estou dirigindo, não jogo nada pela janela, não largo o carro onde é proibido parar ou estacionar, paro pros velhinhos atravessarem a rua na faixa de pedestres.

Já tem uns dez dias que o tempo anda assim, ó: um calor infernal durante o dia (infernal mesmo, em torno dos 40), e obviamente não há ar condicionado em lugar nenhum. À tarde o céu começa a escurecer, o vento sacode as árvores com raiva, folhas e poeira voam através das persianas fechadas, trovões assustam, raios ainda mais. Você jura que dessa vez vai cair um dilúvio universal. Mas só caem duas gotas. Todo dia, quando chego em casa, vou lá olhar o manjericão, uma planta fresca que dói. Todo murchinho, porque a água que cai não faz nem cosquinha.

Em compensação, ontem choveu de verdade. Estávamos em Santa Maria, jantando com Marco e Michela na festa de Colcaprile (don’t ask). Enquanto esperávamos a nossa vez de ir pegar a comida na fila, o céu, que estava preto e ameaçador como sempre mas estatisticamente não deveria ter chovido, visto a situação da semana, resolveu desabar sobre nossas cabeças. Cada rajada de vento animal, os velhos todos correndo pra se esconder no meio do galpão, onde a água não chegava; a luz apagou, tinha gente berrando, tinha água no chão, meus sapatos molharam, Michela imediatamente profetizou que eu ia ficar com febre, cogitamos levar a comida pra casa porque a maioria das mesas estava molhada, quando de repente tudo parou. A luz voltou, o vento parou de soprar, a água parou de cair, os velhos foram todos embora enquanto dava e nós achamos uma mesa seca e jantamos com calma, muito bem, obrigada.

Finalmente resolvemos onde passar as férias de Ferragosto: Madri. Já sei que vai estar um calor infernal e que na semana de 15 de agosto ficar na Europa é suicídio, mas a Chiara tava jururu e não queria ir pra Rússia, mas pra um lugar mais alto-astral. Achamos preços bons pra Madrid, e lá vamos nós. Aceito dicas.

Quarta-feira passada vimos Momix em Spello. O espetáculo de terça tinha sido adiado por causa do tempo bizarro, e não estávamos com muita fé pra quarta não. Quando começou a chover lá pras sete da noite, quando acabei com o último aluno, resolvemos que provavelmente não teria espetáculo e Mirco veio me pegar. Enquanto jantávamos nosso risoto com trufas e creme de queijo em Trevi, Simona, que tem um conhecido envolvido na organização e sabia de tudo, mandou um SMS avisando que ia rolar sim, mas às dez e meia (uma hora depois do horário previsto). Estacionamos longe pacas, praticamente no meio do mato, sentamos em cadeiras de plástico plantadas no gramado de frente pro palco, e ainda tivemos que esperar até as onze e quinze, porque tudo já tinha sido desmontado em vista da tempestade, e teve que ser remontado do zero. O espetáculo, Sun Flower Moon, é interessante, joga com os dançarinos em fundo preto iluminados com luz negra, mas é meio cansativo porque tudo é muito parecido. Prefiro ver os corpos dos dançarinos e os objetos que eles usam no palco. Mas de qualquer maneira é sempre uma coisa bonita de ver. Adoro Momix.

Dickens é muito, muito foda.

Todo o meu tempo livre nessas duas semanas foi dedicado aos episódios da segunda temporada de Lost. Agüentar até o recomeço da série vai ser foda.

Vimos Silent Hill no cinema. Filme MUITO estranho, muito mesmo. Não sei nem explicar direito se gostei ou não.

Minha chefe é simplesmente o ser mais odioso que já pisou sobre a terra. Nem mula-sem-cabeça ganha. Toda vez que eu vou à Libreria Grande imploro pras meninas me avisarem se algum dia precisarem de um funcionário extra. Atualmente o sonho da minha vida é trabalhar part-time na Libreria, que fica a dez minutos daqui, almoçar em casa com o Mirco, que anda tão cansado que não almoça porque não tem forças pra cozinhar nada, e trabalhar com traduções à tarde, do conforto do meu lar. É pedir muito?

Voltando ao assunto Italianos Dirigem como Trogloditas, Marco, o tradutor austríaco de alemão, levou dois sustos enormes na estrada em julho e resolveu vender a moto, não comprar carro nem nenhum outro meio de transporte, o que necessariamente significa que ele vai ter que se mudar pra Foligno. O buraco onde ele mora atualmente é completamente inviável sem carro, como na maior parte do país, totalmente carente de transporte público. Já desfez o contrato de aluguel, inclusive. Está apavorado. Não o culpo.

Leguinho anda cada vez mais lindo. Só que outro dia a mãe da Arianna viu um camundongo dentro de casa, e Arianna resolveu espalhar jornais besuntados de piche por baixo dos móveis pra ver se pegava o bichinho. Estávamos almoçando na cozinha de baixo, Legolas deitou do meu lado e capotou no sono. Alguém começou a falar dele e ele acordou. Começou a abanar o rabo e escutamos um barulho, shush, shush, shush. Ele tinha enfiado o rabo por baixo da cristaleira, o rabo tinha grudado no piche e quando ele abanava o rabo o jornal ia junto, fazendo o barulho. Tivemos que cortar o pelo do rabo. Ele, lógico, nem percebeu nada. Se dependesse dele, tinha ficado com o jornal colado no rabo o resto da vida.