Giovanni

Finalmente fui comer no bendito Giovanni, ontem à noite. O restaurante foi o Moreno quem descobriu, e fica, perdoem-me a expressão mas é a única que cabe, LÁ NA CASA DO CARALHO. Mirco já foi várias vezes com o Moreno, que virou cliente cativo, mas por um motivo ou por outro eu nunca consegui ir com eles. Dessa vez fomos, no meio de um toró desgraçado, depois de uma tarde na IKEA de Florença. A estrada faz doze milhões de curvas e passa por cidadezinhas com três, quatro casas. É mais ou menos lá pros lados daquele buraco de Sellano, onde eu e Mirco nos perdemos há uns dois anos quando fomos fazer um orçamento a domicílio. Pois o restaurante do Giovanni, que é sardo, fica num buraco chamado Verchiano.

O Giovanni é um quarentão grisalho muito distinto e educado, de voz mansa e ares profissionais. Já trabalhou em hotéis cinco estrelas e diz-se que entende do riscado quando o assunto é comida. O menu é que nem o do Sparafucile, em Foligno: você come o que tiver, porque o menu é fixo, diferente a cada dia. Ele começa sempre com uma tábua de queijos e frios, rigorosamente um pedacinho/fatia pra cada comensal. E ele explica pacientemente o que é cada tipo de queijo, qual deve ser comido com mel e qual com geléia (aqui, ó, só como doce com salgado se apontarem um revólver na minha cabeça e disserem ou come ou morre), qual salame é de cervo, qual é de ganso, qual é de javali. Os queijos eram, se minha memória não falha: um pecorino (de ovelha), uma caciotta (de vaca), um caprino (de cabra), um com nozes (DELICIOSO), um com azeitonas, que doei pro Mirco, um com pimenta-do-reino e um picante delicioso, com peperoncino. Os salames eram esses que falei acima, mais uma mortadela que foi igualmente doada ao Mirco, um salame toscano estranho mas delicioso, e uma fatia de capocollo, um embutido típico umbro (em outras regiões se chama lonza ou coppa, mas não é tão bom, foi mal aí) que é muito gostoso. Depois duas porções pequenas de primo: ravioli com recheio de queijo e trufas e molho branco (gostoso, mas tinha um toque de pera no recheio que não tinha nada a ver) e depois tagliatelle com molho de lebre (gostoso, mas não GOSTOOOOOOOSO). Eu dispensei as carnes, que eram carne de porco com molho de uva (quero matar quem inventou essa mania de botar fruta na comida) e carneiro com molho de trufas. Mirco disse que não estava nada de particular. O doce era basicamente chantilly com molho de frutas vermelhas, que obviamente dispensei também, dada a ausência de cacau. Tudo acompanhado de um ótimo Cabernet Sauvignon do Vêneto. O Moreno todo todo, se achando oooooo gourmet, e eu pensando, cacetes estrelados, vale mesmo a pena pegar uma hora de estrada pra comer queijinhos? Porque o resto a Arianna faz melhor, na boa. Eu, hein.