Por mim sábado eu não botaria o pé pra fora de casa, mas tive que sair pra levar a lista dos eletrodomésticos na loja, pra eles fazerem o pedido. Na volta passei na casa nova pra ver a quantas andavam os trabalhos. Encontrei dois lajoteiros botando a cerâmica do nosso apartamento. Trocamos os comentários usuais, como está indo, muito bem, a cerâmica é de ótima qualidade, a do apartamento do lado era uma merda, ah, que bom que está ficando legal. Aí ele solta a pérola. Vamos ser vizinhos!
Tóin.
É legal isso de todo mundo ter mais ou menos as mesmas oportunidades, mas jamais na minha vida imaginei que iria terminar morando no mesmo prédio de um albanês que de profissão coloca pavimentos de cerâmica. Dali a coisa foi só piorando: no mesmo andar temos um caminhoneiro e um napolitano, além de uma senhora que já mora ali na área. Em algum lugar do prédio tem um marroquino, e o que salva é o marechal dos Carabinieri no andar de baixo. Vejam bem, pedreiro é uma profissão como outra qualquer, mas eu acho muito estranho esse negócio de todo mundo ser igual. Porque a gente sabe que tem uns que são mais iguais do que os outros, não sejamos hipócritas. Por que um cara como o Moreno, que não estudou porra nenhuma, é ignorante, mal educado e vem de uma família de ignorantes e mal educados (são gente finíssima, mas isso não os faz menos ignorantes ou mal educados) ganha mais do que eu, que tenho um emprego que PRECISA de qualificação, ou do que o Mirco, que dá trabalho pra em média dez pessoas, ou do que a namorada dele, que é formada e trabalha em museu, enquanto que vocês vão me desculpar, mas dirigir ônibus elétrico todo cheio de mumunhas qualquer um consegue? Eu acho isso tudo muito esquisito. E jamais vou me acostumar à idéia de morar no mesmo prédio de um pedreiro, que provavelmente ainda por cima tem um carro muito mais novo do que o meu, e uma mulher que não trabalha.
Justiça social às vezes é um negócio injusto.