Durante essas semanas dando aula pras turmas da Christine, além da satisfação nada insignificante de ouvir de TODOS os alunos que querem continuar tendo aulas comigo, também me diverti muito. Não me importo de dar aula pra um aluno só, mas é claro que os grupos são muito mais divertidos. Até porque em sala de aula viram todos crianças, não importa se são médicos, engenheiros, empresários, dondocas, pedreiros, casados e com filhos, e a sala de aula vira uma zona (pra não falar nos cadernos da Barbie e do Hulk do ano passado que os pais reciclam dos filhos). Com a turma maior, de 7 alunos de nível pre-intermediate, resolvi fazer um pacto: vamos resolver os problemas de pronúncia, infindáveis quando se trata de italianos, um de cada vez.
Durante essas semanas nos concentramos em eliminar o som /g/ do gerúndio. Pra eles entenderem o quanto é horrível ouvir “duin-ga” em vez de doing, eu começo a falar com eles em italiano com sotaque inglês, por exemplo dizendo “tchútchou” em vez de “tutto”. Eles ficam horrorizados e começam a se policiar: toda vez que um deles tem que ler uma frase ou fazer um exercício que tem um gerúndio, todo mundo fica olhando fixo pra vítima, aquela tensão no ar, e ai da criatura se ler “uótching-a TV”, porque os outros caem matando. E quando alguém erra eu finjo que fui atingida em um órgão interno qualquer, que escolho ao acaso, dependendo da inspiração do momento. E aí está acontecendo que quando o aluno erra e eu faço uma careta de dor e boto a mão no baço, ele se corrige sozinho e me pede mil desculpas como se realmente o erro tivesse causado uma ruptura esplênica. Ou então os outros perguntam: o que foi agora, o fígado? Não, anta, o fígado fica no outro lado. Eu passo a aula inteira rindo.
Tem outra coisa: vocês sabem que eu tenho olhos de lince, e não estou brincando. Vejo lá do outro lado da longa mesa o que o aluno está escrevendo, e se não consigo efetivamente ver porque tem alguma coisa na frente – uma borracha, uma caneta – pelo movimento da mão dá pra perceber se o fulano botou dois pês em stopping ou não, ou se escreveu aet em vez de eat. Corrijo logo, double p, fulano, e eles ficam me olhando como se eu tivesse uma réplica do Hubble escondida por baixo do quiasma óptico.
Eu GOSTO de escolas. Gosto de aprender e ensinar, quando vejo a cara de “entendi!” de um aluno é quase como se eu estivesse comendo um pedaço de Toblerone. Com alguns dos meus alunos adolescentes estudo literatura inglesa pra escola, e quando me ligam pra dizer que passaram na prova eu fico toda boba. Alguns deles mandam colegas ou parentes pra mim: foi você que estudou Hemingway com o Massimiliano pra prova final? Oui, chérie.
Se eu tivesse filhos seria difícil me controlar pra não ir pra escola junto com eles. Nada na vida me deixa mais feliz do que aprender (e ler, que é sempre aprender) ou ensinar. Nem Toblerone.