E não é que tive outra crise enxaquecal? Porre.
Fiz a prova de Linguistica com a dor de cabeça começando a martelar. Ultimamente já reconheço quando vem a maldita: me sinto como se estivesse meio de ressaca, meio debaixo d’água, com os reflexos lentos, a imagem que não acompanha o movimento dos olhos ou da cabeça, uma sensação bizarra de estar flutuando e de não ter controle sobre as próprias pernas. Tive tudo isso na sexta, quando a dor veio com tudo, mas hoje não rolou, e a crise me pegou desprevenida, enquanto me controlava pra não estrangular a mala que sentou do meu lado e não parava de batucar, esperando a professora.
Hora de fazer a chamada. Ela lê todos os nomes, parando apenas antes de alguns obviamente estrangeiros (não só de outros países, mas de outras regiões da Itália. A essa altura do campeonato até eu já sou capaz de reconhecer sobrenomes daqui e “de fora”). Longa pausa, testa franzida. Levanto a mão. Os outros estudantes começam a rir.
– Como a senhorita sabe que é a senhorita?
– Aposto que a senhora está tentando identificar quais são os sobrenomes e qual é o nome.
– Exatamente.
– Sou eu.
– Veira (por algum motivo TODOS ignoram o primeiro i) Moniz (pronunciado Mónitz) Bareto de Aragao (sem nasal) Daquer (pronunciado Daqüér)?
– Eu.
– Por quê?
– (Porque meu avô tem mania de grandeza e de árvore genealógica) Porque a minha família é muito antiga e acumulou sobrenomes ao longo dos anos.
– Mas como a senhorita faz com os documentos?
– Abrevio tudo, e mesmo assim às vezes não cabe.
– Que interessante…
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Como sempre, fui a primeira a terminar. Eram 20 minutos pra quinze questões de múltipla escolha. Eu gosto de lingüística e já tinha estudado no ano passado, lembram?, mas a prova não valeu porque eu não tinha número de matrícula. Dessa vez estudei menos porque ela mudou de livro e eu não achava em lugar nenhum, e ainda por cima juntou com a enxaqueca e com a IKEA. Mas tenho certeza que passei. Ela recebe a prova das minhas mãos com um sorriso, e quando eu digo que não posso vir no dia seguinte pra “verbalizar” a nota, ou seja, escrever na caderneta, e conseqüentemente não posso fazer a prova oral que ela sempre dá pra aumentar a nota, ficou meio assim. Que pena, não vai poder tentar aumentar a nota! Não tem problema, respondi. Nunca fui paranóica com nota, não vai ser agora, velha e já formada. Pra mim esse curso é só pra eu medir o quanto entendi das matérias que me agradam, mais nada.
Estou pensando seriamente em fazer a minha tese em Linguistica Italiana.