Os assuntos que andam monopolizando a imprensa botense nos últimos dias são todos horríveis. Um é o número altíssimo das chamadas “mortes brancas”, mortes em acidentes no trabalho. Como em muitas outras estatísticas importantes, nesse quesito a Itália também é lanterninha na Europa. E estranhamente a Umbria é a região com mais alta incidência de acidentes de trabalho, pior do que a Campania (a região onde fica Nápolis). Ontem, em pleno feriado, dois operários que estavam montando a iluminação da igreja pra festa do santo daquele bairro caíram do guindaste. Ou melhor: caiu a “cesta” onde eles estavam trabalhando, matando duas mulheres, sogra e nora, que estavam saindo da igreja depois da missa e ferindo mais duas ou três pessoas. Há pouco tempo morreu um velho de mais de 70 anos, sempre em Nápolis, que estava trabalhando “in nero” (sem carteira assinada) em um andaime, pintando uma parede. Caiu, morreu, e quando a polícia chegou não tinha uma alma viva na rua – todo mundo com medo de se envolver na história.
Outra notícia desagradável é a falta de chuva no país durante o mês de abril, que normalmente é bem chuvoso. Já estão dando o alarme de estiagem desde agora, porque a previsão é de um verão horrendamente quente, como o de 2003, e sem água a coisa se complica mais ainda. Ontem deu uma chuvidinha muito chulé, mas os riachos continuam secos e o risco de blecaute em pleno verão, quando todo mundo vai estar com ventiladores e aparelhos de ar condicionado ligados, é alto.
Mas o horror dos horrores foi mesmo a morte de uma garota no metrô de Roma. Ela morava na periferia e estava indo trabalhar numa sorveteria no centro quando foi agredida por duas romenas enquanto descia do vagão. Uma das romenas estava com um guarda-chuva na mão, que usou pra bater na garota. E, pasmem, um dos, cacete, como se chama, um dos arames do guarda-chuva entrou no olho da menina, que morreu depois de uns dois dias de coma e várias cirurgias. O circuito interno de vídeo do metrô permitiu a identificação das duas romenas, prostitutas, que àquela altura já estavam na região de Marche, aqui perto. Estavam escondidas num mix de barraco e galinheiro, mas um vizinho viu, as reconheceu e chamou a polícia. A que efetivamente agrediu a garota tem dois filhos pequenos na Romênia, e a outra é menor de idade.
Por último houve a condenação de Annamaria Franzoni, acusada de matar o filho Samuele em um chalé em Cogne, lá no fim do mundo, no meio das montanhas no norte da Itália. O crime aconteceu há cinco anos, e há cinco anos o assunto toda hora aparece na televisão, em livros, em revistas. Porque a casa era superisolada e pelos cálculos da polícia ninguém teria tido tempo de entrar, matar o garoto com um objeto que nunca foi encontrado e sair de casa sem ser visto no curto período de tempo que a mãe levou pra acompanhar o filho maior até o ponto de ônibus, pertinho da casa. O crime ficou conhecido como “il delitto di Cogne” e quando saiu a sentença essa semana – 16 anos de prisão pra mãe, ainda que as provas sejam mais exclusivas do que inclusivas: não pode ter sido mais ninguém, só tinha a mãe em casa, foi a mãe – o país parou. Eu não sei nem o que dizer, não tenho opinião formada, porque é uma história muito bizarra. Ainda mais porque logo depois da morte do garoto a Franzoni anunciou na televisão que ela e o marido pretendiam ter outro filho, o que realmente aconteceu. Houve uma série de erros da polícia e da perícia, e todas as provas do caso são muito estranhas e suspeitas. Foram chamados técnicos de outros países pra dar pitaco, mas aparentemente a confusão era tanta que não se chegou a nenhuma conclusão definitiva. A impressão que todo mundo tem é que nunca ninguém vai saber o que realmente aconteceu. Tipo o ataque epilético do Ronaldo na Copa, lembram.