A prova de Marketing foi na quarta. Eu tinha lido o livro quase inteiro só uma vez (ficou faltando a última parte, sobre distribuição do produto), e achei muito interessante – os exemplos são ótimos e a cara do livro é legal, sabe, a gráfica e tal. Lá fui eu pra prova.
Normalmente a última chamada não tem muito aluno, principalmente se não é uma matéria cascuda com professor carrasco, porque a maioria tenta se livrar logo das matérias com mais créditos (Marketing tem 6). Cheguei no prédio novo onde temos aulas agora e sentei pra dar uma lida na revisão que o livro dá no final de cada capítulo. Pouquíssima gente na sala, pensei, show, vou fazer logo e ir embora – quando eu me inscrevi na prova ganhei o número 15, mas sempre tem gente que não aparece. Dez minutos antes do horário da prova começa a entrar uma cabeçada fenomenal na sala, mas muita, muita gente mesmo. Caraca! O professor chegou logo depois, olhou pra turma e falou:
– Cazzo, quanta gente.
O lance é que o pessoal de TEP (Tecnica Publicitaria) também faz Marketing, e o professor, não imaginando que ia ter aquela gente toda, não marcou dias diferentes pra COMINT (Comunicazione Internazionale) e TEP, e todo mundo apareceu junto, entupindo a sala. Por sorte ele mandou o pessoal de TEP dar uma voltinha e voltar depois do almoço, e quando começou a fazer a chamada vi que ia ser a quinta ou sexta, em vez da décima-quinta. Beleza. Vão as primeiras meninas, e logo notamos, eu e a garota que tava na minha frente, que conheci na prova de Comunicazione Politica, que o professor assistente fazia doze mil, novecentas e quatorze perguntas, enquanto que o professor titular estava reclinado na cadeira, com as mãos atrás da cabeça, falando mais do que ouvindo. Pensei logo, do jeito que eu sou cagada vou cair com o assistente filho da puta que vai perguntar um monte de siglas idiotas cujo significado não lembro, em vez de me fazer raciocinar. Pensando no quão humilhante seria levar bomba de um professor mais jovem que eu, com gravata de nó gigante e calça de perna justa, ainda por cima, nem acreditei quando a garota que tava com o professor titular levantou, pegou o boletim e se mandou. Me aboletei imediatamente na cadeira, dei bom dia e começou.
– Por que tanto sobrenome?
– Porque blah blah blah.
– De onde você é?
– Brasil.
– Ah, esses nomes compridos… Só brasileiro e espanhol mesmo. Gostou do livro?
– Gostei. Eu não trabalho com marketing e nem pretendo, mas gosto quando alguém me faz ver as coisas de um jeito diferente. Quando eu fiz um curso de roteiro cinematográfico passei a ver os filmes de um outro ponto de vista. Depois desse livro vejo as propagandas de um jeito diferente.
– Eu acho que vou trocar o livro ano que vem… Só tem exemplo de empresas americanas, pros italianos fica meio abstrato.
– Eu gostei. Talvez porque eu ensino inglês e leio muito em inglês também, então tenho uma certa familiaridade com o estilo de vida. Pra mim tudo fez muito sentido.
*Chegando mais perto*
– Ah, ensina inglês, é… Faz traduções também?
– Aham.
– Vem cá… Eu falo inglês direitinho, viajo muito e tal, mas quando escrevo um paper gostaria que alguém desse uma olhada antes de publicar ou mandar… Quanto custa uma revisão, por lauda?
– Normalmente revisão custa por hora e não por lauda.
– Por quê?
– Porque é um porre, e se o texto for mal escrito dá mais trabalho revisar do que traduzir do zero.
– Interessante… Então você é formada em línguas?
– Hm, bem… Não exatamente.
– Em quê então?
*baixinho*
– Em Medicina.
*cruzando os braços e se reclinando ainda mais na cadeira*
– Não entendi nada, explica.
– Olha, é uma história muito complicada, melhor pular.
– Um dia você me conta então.
– Tá.
– Escuta… Fala um pouco do processo de pricing.
– Pô, é chatão…
– Depois eu faço outra pergunta legal.
Falei, mas realmente é uma parte que eu detesto e não soube explicar direito um dos métodos de definição de preço.
– De qual capítulo você gostou mais?
– Marketing internacional.
– Não tava no programa.
– Não sabia, eu não venho às aulas, estudei o livro todo.
– Não tem problema, fala aí.
Falei. Ele ficou me olhando, pegou meu boletim e escreveu ventisei/30, crediti: 6, assinou e me mandou embora.
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Na sexta fui pra faculdade de manhã. Não tinha conseguido estudar porque o livro era chatéeeeeerrimo, daqueles que falam, falam, falam e não dizem nada. O outro livro do programa era sobre a história da televisão e da mudança dos meios de comunicação até chegar à TV, era interessante. Mas o da outra professora, socorro! Não consegui passar do segundo capítulo. Li, reli, trili e não entendia aonde o cara tava querendo chegar. Então quando botei o pé na faculdade me deu uma crise de cold feet, dei meia-volta e peguei o ônibus pra Ponte San Giovanni, onde estaciono o carro quando vou a Perugia. Ainda deu tempo de almoçar em casa com o Mirco. Fiquei meio pau da vida comigo mesma, porque eram 9 créditos, mas cara, sem anotações da aula já vi que essa matéria não rola. Vai ficar pro próximo semestre.
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Hoje recomeçam as aulas. Segunda só tem uma hora, espanhol, que eu obviamente não vou assistir porque não tem sentido me deslocar até Perugia pra uma hora de aula de língua estrangeira com mil pessoas na sala. Hoje vou porque antes tenho que passar em uma escola de línguas que me contatou pra um curso pra polícia em janeiro, e depois tenho consulta com o médico da companhia de seguros, pro lance da batida que levei no dia do casamento. Amanhã tem um monte de aula e vou ficar o dia inteiro na faculdade.
Ainda não descobri se a faculdade é wireless, e duvido que seja, mas de qualquer maneira já me deram trabalho pra semana inteira hoje de manhã e posso perfeitamente trabalhar na biblioteca com o laptop entre uma aula e outra. Também já arrumei uma aluna particular três vezes por semana, mulher de um ex-aluno que eu adorava. E tem mais aluno na fila, todo mundo esperando meu horário na faculdade se definir (porque aula chata eu não assisto, lógico). Devagarzinho a graninha vai entrando, cês vão ver.