Durante o feriado encontraram uma estudante americana morta na casa onde morava, pertinho do estacionamento onde eu paro o carro quando não consigo ir de ônibus pra Perugia. Do ladinho do prédio principal da Università per Stranieri, o Palazzo Gallenga. Meus colegas de turma nem sabem direito onde fica porque depois da reforma dos outros prédios praticamente todas nossas aulas foram transferidas pros novos edifícios. Mas eu estudei no Gallenga em 2002 e conheço bem a área; a casa da garota é visível do estacionamento.
Ela estudava Letras na outra universidade de Perugia, mas como quem pensa em estudante, estrangeiro e Perugia imediatamente pensa na minha faculdade, o clima anda muito estranho. Os acusados são a roomate americana da vítima, seu namorado italiano e um rapaz do Congo, muito conhecido na cidade por trabalhar como RP de muitas boates e pubs. Parece que as provas científicas são definitivas, embora esteja rolando uma história de álibis de ferro. O caso é que ela foi degolada. Degolada. A hipótese inicial é que ela teria se recusado a participar de uma noite de sexo, álcool e drogas, e por isso foi morta.
E daí que logicamente não se fala de outra coisa na cidade inteira, e em todo o país o comentário é como Perugia virou uma cidade invivível, cheia de estudantes idiotas que passam o dia bêbados coçando o saco e degolando colegas. Eu não moro em Perugia nem nunca morei, mas meus colegas dizem que não mudou nada nos últimos anos: a cidade sempre foi recheada de estudantes universitários, que realmente bebem muito como em toda cidade universitária, e os imigrantes não-estudantes não moram no centro e normalmente não têm carro, então de maneira geral não freqüentam o centro histórico. Quando vamos a Perugia à noite a cidade tá sempre entupida de jovens que ficam subindo e descendo a rua principal, como em toda cidade do interior que não oferece nada de melhor pra fazer. Eu não tenho medo de andar no centro à noite sozinha, embora haja vielas escuras que todo mundo evita – e, segundo dizem, sempre evitou. Então realmente não sei se a coisa tá pior ou melhor do que há dez ou vinte anos atrás. Mas o incidente foi muito desagradável, e logicamente a minha faculdade espera uma certa queda no número de inscrições pros próximos cursos de italiano pra estrangeiros.