emergency

Ontem em vez da aula de Diritto Internazionale tivemos uma palestra com o Emergency. Falaram em muitos, de repórteres a cirurgiões cardíacos, passando por estudiosos de comunicação e de direito internacional. Fechou a palestra uma enfermeira vesga, alta e magra, que trabalhou nos três hospitais do Emergency no Afeganistão. Mostrou fotos, falou MUITO bem, sucinta, sem nove-horas, e, melhor de tudo, está muito, mas muito pau da vida. Porque com pouquíssima grana dá pra manter estruturas completas, condições de higiene de primeiro mundo, treinamento de pessoal local, hospitais mais ou menos pequenos mas sempre com um jardim pras crianças brincarem. Aquelas crianças que pisam nas minas e ficam sem pernas, sabe. Que nunca tiveram um brinquedo na vida, nunca, jamais, em tempo algum. Aquelas. Mas valores infinitamente superiores à grana que as ONGs em geral podem investir nos países fodidos são gastos em armas e outras coisas idiotas. E enquanto a gente fica se preocupando com o tamanho dos óculos escuros na nova coleção outono/inverno tem mulher de burka fazendo fila na porta do hospital da ONG pra poder parir sem morrer no parto. No horário de visita todo mundo é revistado, porque de crianças a velhos todos os machos andam armados. A equipe não pode sair do hospital sem escolta, e mesmo assim só quando não tem fogo cruzado na rua. O trabalho deles é bárbaro; eu já tinha visto muitos documentários mas nunca tinha ouvido ninguém que tivesse estado lá, no meio do caos. Saí da palestra quase chorando.

O problema de ouvir essas pessoas é que você fica se sentindo uma ameba no beiço da mosca do cocô do cavalo cheio de berne do bandido falido, manco e banguela. Porque a gente sabe de tudo isso, sabe que tem gente muito, mas muito mais na merda do que você, mas quando você entra no seu carrinho e liga o rádio começa a pensar em outra coisa. Mas não pode, não dá. Então decidi que vou dar o meu cinque per mille (5/1000), que se paga do imposto de renda, pra eles. E vou continuar fazendo minhas doações esporádicas à SUIPA, quando entra uma graninha em reais. Porque se gente é bom, bicho é melhor ainda.