Oquei. Logicamente não entendo nada de política americana (leia-se de política em geral), mas o que aconteceu ontem/hoje foi uma coisa tão, tão historicamente importante que não posso deixar de comentar.
É importante esclarecer duas coisas antes de sair pulando pela rua berrando yessssssss yessssssssss yesssssssssss. Primeiro: McCain não é um idiota e acho que de todas as escolhas possíveis dentre os republicanos, ele era realmente a melhor. Seu discurso de perdedor em Phoenix foi uma demonstração de educação que eu gostaria muito de ver no Brasil ou na Itália, mas é melhor esperar sentada. Segundo: Obama não vai fazer milagre. Ninguém faz.
Mas, cacetes estrelados, apesar da vitória esmagadora de Obama, eu sempre fico impressionada (e assustada) de ver pessoas fazendo escolhas tão, tão, tão obviamente erradas. I mean, Sarah Palin? SARAH PALIN? WTF? Mesmo se eu fosse republicana, JAMAIS votaria num candidato com o pé na cova que escolheu SARAH PALIN como vice! Mas de onde foi que saiu aquilo? Que mulher é essa? Eu não escolheria uma louca assim nem pro meu time de pique-pega, imagina como vice do meu país! Quando as pessoas escolhem votar no seu candidato mesmo sabendo que a vice (que muito provavelmente chegaria ao poder, dadas as condições de saúde e a idade avançada do McCain) é uma desequilibrada eu fico MUITO assustada. Ou, pior ainda, quando ninguém percebe que ela é uma desequilibrada. Daquelas de camisa-de-força.
Outra coisa: se tem algo que eu nunca, nunca vou conseguir entender (o primeiro ponto da lista das Coisas que Nunca Vou Conseguir Entender é “por que as pessoas fumam”) é por que raios os americanos têm essa obsessão com as armas. WHY THE HELL WOULD ANYONE NEED A WEAPON, LET ALONE WANT TO OWN ONE? Qual pode ser a graça de possuir uma arma? O que diabos isso muda na sua vida? De onde surgiu essa maluquice, que não existe, que eu saiba, em nenhum outro lugar do mundo?
Acordei antes das cinco e meia hoje e liguei a TV em tempo de assistir ao discurso do McCain, civilizadíssimo, e agora estou ouvindo o Obama falar em Chicago. Esse tipo de fair play é realmente invejável, e infelizmente impensável no Brasil e na Bota, países pouco civilizados, como se sabe. Mas visto que se trata dos EUA, os donos do mundo, a coisa toma proporções intergalácticas e o alívio de ouvir coisas tão racionais saindo da boca de pessoas tão potentes é mais profundo que um buraco negro. O gigantismo do resultado dessas eleições é uma coisa sem precedentes, e independentemente do que vai acontecer daqui pra frente, o fato é que o 44o presidente americano é um crioulo (antes que venham encher o saco: escolhi o termo de propósito pois acho que dizer que ele é negro eufemiza um pouco a coisa)! Gente, é um troço MUITO MUITO diferente de tudo, é um passo muito muito grande, é um sinal de maturidade muito muito importante, abre zilhões de precedentes. Acho que temos muita sorte de estar aqui hoje pra testemunhar um momento tão especial da história do Ocidente, que nossos filhos e netos vão estudar na escola (se é que o planeta ainda vai estar de pé até lá) e comentar como nós comentamos o fim da escravidão (pelo menos no papel), o sufrágio universal (idem), a invenção da máquina a vapor, do chocolate meio amargo em barra, da televisão, da Internet. Eventos bombásticos cuja importância se perpetua no tempo e no espaço e mudam a nossa vida pra sempre.
Eu só espero que não role uma “crioulização” do país. Explico: há muito tempo, quando eu dava aulas de inglês numa multinacional de seguros ali na Tijuca, vivia esperando os alunos saírem de reunião. Um dia, esperando um aluno, estava folheando uma revista interna deles quando dei de cara com uma entrevista com funcionários “especiais” da empresa. O depoimento que mais me tocou foi o de uma anã, que dizia o seguinte: “Uma vez um colega pediu pra eu pegar uma pasta que estava na última prateleira da estante e que eu obviamente não conseguia alcançar. A coisa foi tão natural que eu me senti honrada, pois naquele momento ele não estava me vendo como uma anã, mas como uma pessoa de altura normal. Estava sendo tratada como uma pessoa qualquer”.
É isso o que eu quero dizer. O fato de um crioulo, que na verdade é mulato visto que a mãe é branca, ter sido eleito o homem mais poderoso do mundo é uma coisa GIGANTE. E é uma coisa gigante porque isso significa que as pessoas não o vêem como crioulo, mas como um cidadão digno de representar o país que comanda o planeta (pelo menos por enquanto). Tendo sido eleito ele deixou de ser crioulo e filho de imigrante, e passou a ser uma pessoa qualquer. Espero que o seu governo seja justo e que ajude a melhorar a distribuição de renda e de conseqüência melhorar a situação dos afro-americanos, já que no mundo inteiro crioulo só toma na bunda. Mas, vejam bem, acho que é importante que o objetivo seja MELHORAR A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, e não MELHORAR A VIDA DA POPULAÇÃO AFRO-AMERICANA. A segunda coisa deve ser uma conseqüência natural da primeira, pois de outra maneira seria um governo pra gueto, e isso não é legal, mesmo sabendo que segundo as previsões daqui a uns 40 anos os brancos serão minoria no país. Mesmo assim. Governo democrático tem que ser pra todo mundo, todo mundo mesmo, e se o resultado for a melhoria na vida de uma determinada fatia da sociedade, tanto melhor – NÃO IMPORTA A COR DESSA FATIA. Não sei se estou conseguindo me explicar direito, mas eu acho que todo esse meu raciocínio vem do fato que eu sempre dei uma importância gigantesca ao ato de fazer a coisa certa pelo motivo certo. Tipo, a meu ver estacionar direito só por medo de ser multado tem muito pouco valor, se não nenhum.
Buon lavoro, Obama.