da gravidez

Pense no ano em que você fez vestibular. Pense nas noites mal dormidas, nas horas e horas estudando coisas chatas, coisas idiotas, coisas difíceis. Pense nos quilos que você ganhou, nas espinhas que apareceram na sua cara, no estresse, na preocupação, no nervoso, na ansiedade. Pense em todos os longos meses em que você passou por tudo isso. Agora pense no dia em que você descobriu que passou no vestibular, pro curso que você queria, pra faculdade que você queria (se você tiver feito um curso difícil de entrar vai entender melhor aonde eu quero chegar). Lembre do dia em que você abriu o jornal e foi procurar o seu nome na lista, o coração batendo forte, aquele medinho, e aí você acha o seu nome e dá aquele alívio desgraçado, alívio antes da felicidade propriamente dita. Alívio porque você sabe que não vai mais acordar pensando nos assuntos chatos que vai precisar estudar naquele dia. Alívio porque você não vai mais precisar se preocupar com a prova em si. Alívio porque você vai poder ter uma vida social decente novamente. E porque você vai poder mandar tomar no cu todas aquelas coisas terrivelmente irritantes com as quais infelizmente somos forçados a conviver durante esse ano maldito das nossas vidas. Vá se foder, atrito! Vá se foder, saponificação! Vá se foder, logaritmo! Vá se foder MUITO, logaritmo! Vá se foder, hipotenusa!

A gravidez é assim também. É quase um ano da sua vida – porque são 10 meses, né, fofos, 40 semanas em média, não sei quem foi o filho da puta que inventou essa balela de 9 meses – passado no desconforto. Quase um ano da sua vida com um, vários ou todos esses sintomas (pra não ter nenhum deles tem que ser MUITO MUITO MUITO sortuda), separados ou ao mesmo tempo:

– Sono eterno e invencível
– Cansaço idem
– Enjôo insuportável (o meu só passou na semana em que fui a Istambul)
– Vômitos (tive muito pouco)
– Intolerância a cheiros normalmente inofensivos (eu não tive, mas um amigo nosso tinha que fazer café num fogareiro no quintal porque a mulher não agüentava o cheiro)
– Mãos dormentes (porque as estruturas fibrosas da mão incham e comprimem os nervos, dando uma síndrome do túnel do carpo)
– Fome intergaláctica, do tipo “SE EU NÃO COMER ALGUMA COISA NESSE EXATO MINUTO EU JURO QUE MATO ALGUÉM”
– Inchaço (eu não tive, nem nos últimos dias)
– Estrias (as minhas vieram só na última semana)
– Visão desfocada (porque os tendões dos músculos dos olhos ficam frouxos e você fica com dificuldade em focalizar)
– Mudanças de humor repentinas (eu não tive)
– Os malditos xixis infinitos que não deixam você dormir
– Dor nas costas (eu não tive)
– Peitos doloridos (no início)
– AZIA MALDITAAAAAAAAAAAAA
– Nariz eternamente entupido, porque as mucosas todas estão cheias de líquido
– Unhas e pelos que crescem em velocidade alucinante (eu não tive)
– Falta de ar (no segundo trimestre)
– Excesso de salivação (eu não tive)
– Varizes (não tive)
– General cumbersomeness, porque você fica enorme e dando barrigada por aí,

de modo que quando eu entrei no carro rumo ao hospital pensei as seguintes coisas, nessa ordem:

1. NÃO VOU TER MAIS AZIA! UHUUUU!
2. Não vou mais precisar dormir de lado! Êeeee!
3. Daqui a 45 dias vou poder voltar a malhar! Yay!

Porque quando chega na reta final eu juro que você nem pensa mais no bebê, você só quer se livrar do desconforto absoluto e inenarrável que te acompanhou durante esses longos, longos meses. Eu achei que fosse só eu a desnaturada, mas qualquer forum de grávidas na internet vai ter threads chamadas “NÃO AGÜENTO MAIS!”, “O quê que eu posso fazer pro parto chegar logo?”, “Tô de saco cheioooooo” etc.