do primeiro mês, refluxo e outras coisas baby-related

Recém-nascidos são facas de dois gumes.

Se por um lado são foférrimos, tchutchucos e sempre surpreendentes, por outro lado demoram muito a ficarem realmente interessantes, porque só começam a interagir de verdade bem mais tarde. Nos primeiros meses um bebê é só um robô com as seguintes funções: CAGAR – MIJAR – CHORAR – MAMAR – DORMIR. Mais nada. Muito chato.

Minto: a Carol já sorri, já ri, já segura a mamadeira, já levanta a cabeça sozinha, já segue a gente com o olhar, ou seja, já é um pouco melhor do que um robozinho cagador. Faz um monte de caretas, se espreguiça com um entusiasmo contagiante, agita os braços feito a Elis Regina, como diz a minha mãe, e faz a gente dar um monte de risadas. Mas na maior parte do tempo ela está cagando, mijando, chorando, mamando ou dormindo. Logicamente sem o menor respeito pelo ciclo circadiano de ninguém, o que torna as madrugadas particularmente desumanas. Até que nem posso reclamar muito porque quando ela não sente dor de nada fica quietinha olhando pra gente, e de madrugada tende – eu disse tende, mas não é garantia de nada – a capotar logo depois de mamar, mas quando dá pra chorar, sai de baixo.

O problema é que a Carol tem refluxo gastroesofageano, um negócio muito chato. Eu pelo menos podia soltar uns palavrões quando a azia atacava com força, mas ela não tem essa vantagem. Então ela chora. Berra. Bem no nosso ouvido. Mas o pior de tudo é que ela é L-E-N-T-A. Considerando a minha velocidade supersônica e a do Mirco idem, só posso concluir que ela puxou o lado Dáquer, porque todo mundo da família do meu pai acha normal almoçar depois das 3 da tarde e chegar atrasado em todos os compromissos. A Carol leva meia hora só pra acordar, o que me dá nervoso só de ver, já que normalmente abro os olhos e pulo da cama praticamente ao mesmo tempo. Fica fazendo barulhinhos bizarros (“É, É, É”) e roucos (por causa do refluxo) e se espreguiçando loucamente durante alguns minutos, só o suficiente pra me acordar, e depois dorme de novo. Pouco depois recomeça, pára de novo, recomeça, fica meia hora nesse processo de acordação. Até que desperta de verdade, azul de fome e portanto berrando. Agora ela não me engana mais: quando escuto o primeiro É É É levanto da cama, empurro o berço (com rodinhas) até a sala, boto a panela com água no fogo, tiro a mamadeira da geladeira, desligo o fogo, boto a mamadeira em banho-maria, troco a fralda dela (da Carol, não da mamadeira) porque se trocar depois da mamada ela regurgita tudo e chora e porque ela não fica suja nem cinco minutos sem dar ataque, sento no sofá da sala, que virou um acampamento, dou a mamadeira um pouquinho com ela ainda meio que dormindo, tento botar pra arrotar (ela é uma menina muito fina e não arrota nunca. Saco.), dou mais um pouquinho, outro arroto (idem), ela dorme no meio da coisa, tento estimulá-la fazendo cosquinha nos pés, ela mama mais um pouco, depois tenho que ficar com ela meia hora mais ou menos em pé no meu colo pro leite não voltar, se tudo correr bem ela já caiu no sono e vai pra cama. Aí eu vou tirar a bombinha do esterilizador, ordenhar feito uma vaca leiteira, botar as mamadeiras cheias na geladeira atrás das outras que já estão lá, lavar a mamadeira que ela acabou de usar, lavar a bombinha, botar tudo no esterilizador, botar o esterilizador no microondas por 7 minutos, levar o berço de volta pro quarto e dormir por tipo meia hora. Até a próxima mamada. E quando não estou fazendo nada disso estou cozinhando, botando roupa na máquina – porque bebê suja roupa BAGARAY – ou pendurando roupa no varal.

Ela não mama no peito porque não dá pra mamar em pé, e ficando na horizontal é batata: o leite bate e volta, cheio de ácido pra queimar o esôfago da coitada. De vez em quando eu insisto porque por mais que a bombinha seja legal, não estimula o peito do mesmo jeito que a boca do bebê estimula, e a tendência é o meu leite secar. Mas ela odeia, vira a cara e se suja toda de leite, me dá tapas, berra, se esgoela. Nada daquelas cenas românticas, bebê olhando amorosamente pra mãe, mãozinha no peito, se sentindo seguro e tranqüilo. Ela fica assim com a mamadeira, mas aí até o Leguinho poderia estar dando de mamar que ela ficaria com a mesma expressão de adoração nos olhos, nem tem graça. Mas ela adora dormir deitada de bruços no meu peito (e eu praticamente sentada, destruindo a coluna), e ri dormindo. Então compensa.

Não preciso nem dizer que tudo isso é MUITO cansativo. Ela toma três remédios diferentes – dois pra cólica e um pro refluxo – e mesmo assim toda hora dá uma chorada power. Normalmente fico com ela à noite e lá pras cinco da manhã minha mãe levanta e vem me render, e eu consigo dormir umas horinhas depois do café. Mesmo assim é muito cansativo pra nós duas, porque ouvir criança chorando, ter que ficar com criança no colo – o que significa que você não pode fazer mais nada, com as mãos ocupadas e a atenção concentrada no bebê – é um trabalhão danado, e emocionalmente desgastante. Nos dias em que ela tá mais chatinha e chorona não dá tempo nem de fazer xixi. Só estou aqui escrevendo porque a Arianna veio visitar e fica horas com ela no colo, e porque essa noite ela dormiu bem e estou razoavelmente descansada, e porque amanhã a faxineira vem dar uma geral aqui no chiqueiro. Só estou aceitando trabalhos com prazos muuuuuuuuuuuuito longos de entrega porque dificilmente consigo ficar uma hora inteira na frente do computador. E o maaaais legal é que não há muito o que fazer com esse diabo de refluxo: tem que ter paciência, porque ela tá ganhando peso mesmo dormindo pouco e mamando menos do que deveria, ou seja, o refluxo não está atrapalhando nada além da nossa sanidade mental. Segundo a pediatra, nesses casos o bebê passa pra sólidos assim que possível (em torno dos 3-4 meses), o que deve simplificar a nossa vida. Ou não.